Poucos e Bons

Paula Farsoun

Com a palavra...

Paula é uma jovem friburguense, advogada, escritora e apaixonada desde sempre pela arte de escrever e o mundo dos livros. Ama família, flores e café e tem um olhar otimista voltado para o ser humano e suas relações, prerrogativas e experiências.

sexta-feira, 09 de maio de 2025

Costumo dizer que o critério qualitativo se sobrepõe quase sempre ao quantitativo quando falamos em relações humanas. Quanto mais afeto melhor? Sim. Quanto mais pessoas para amar e partilhar a vida, melhor? Sim. Mas isso não vale pra tudo. Não temos como dar conta de sermos bons amigos para centenas. Acho que é quase humanamente impossível.

Hoje em dia nossas redes sociais, por menores que sejam, contam com centenas, às vezes milhares, e em alguns poucos casos, milhões de contatos, seguidores e “amigos virtuais”. Mas não tem como se conectar verdadeiramente com tantas pessoas ao mesmo tempo em caráter privado, pra valer, na saúde e na doença, trocando abraços e compartilhando a vida real.

E talvez aí more um grande mal-entendido bastante atual: o fato de alguém estar diariamente na nossa timeline não significa que esteja, de fato, na nossa vida. Da mesma forma, uma mesa cercada de “estranhos-gente-boa” pode ser divertida. Mesmo. Mas ainda assim, não se garante um ombro amigo de verdade. O excesso de conexões pode acabar provocando uma solidão estranha – como se estivéssemos sempre cercados de gente, mas raramente acompanhados de verdade.

O afeto, a meu ver, exige presença qualitativa. Não no sentido físico apenas – porque é possível nutrir e aprofundar os mais sinceros sentimentos à distância –, mas no sentido de envolvimento real, disponibilidade emocional, escuta genuína. E isso, convenhamos, exige entrega, afinidade, sinceridade, confiança, tempo, energia e intenção. Ou seja, não dá pra fazer isso com todo mundo.

O que precisamos talvez é aceitar que a profundidade exige escolha. Que ter poucos vínculos profundos não é fracasso social, mas sabedoria afetiva. Que dar conta de pessoas com quem a gente possa ser verdadeiramente quem é – sem filtros, sem performance, sem medo de não agradar – vale infinitamente mais do que manter uma vitrine de relacionamentos que só existem no plano da aparência.

A boa notícia é que, quando a gente entende isso, começa a valorizar mais o silêncio entre os encontros, a simplicidade dos gestos, a força dos vínculos pra valer.  Começamos a entender que não é sobre ter muitos por perto, mas sobre ter os certos no coração. Prefiro mesmo, enfrentar o processo e viver a vida com poucos e bons.

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Paula Farsoun

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Paula é uma jovem friburguense, advogada, escritora e apaixonada desde sempre pela arte de escrever e o mundo dos livros. Ama família, flores e café e tem um olhar otimista voltado para o ser humano e suas relações, prerrogativas e experiências.

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