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O silêncio das pequenas coisas

Paula Farsoun
Com a palavra...
Paula é uma jovem friburguense, advogada, escritora e apaixonada desde sempre pela arte de escrever e o mundo dos livros. Ama família, flores e café e tem um olhar otimista voltado para o ser humano e suas relações, prerrogativas e experiências.
Há um tipo de silêncio que não incomoda. Soa inofensivo. Parece mais leve, fluido. Chega a ser cobiçado. Beira um privilégio. Há quem se dedique por esse objetivo, estar em silêncio, alcançar uma ausência de ruído que fomenta a sensação de paz. Não me refiro ao silêncio que pesa, que invade o ambiente depois de um conflito ou que toma tudo e todos depois de uma notícia triste. É outro. Um silêncio discreto e poderoso, quase tímido embora presente, que se esconde nas dobras do dia, feito de miudezas que quase ninguém nota, mas que tem um potencial tremendo de impactar na vida da gente, seja na sutileza, seja de forma mais profunda. Depende do quanto estamos dispostos a ouvir os sinais que o tempo de vazio e o olhar para dentro podem nos proporcionar.
É o remanso que vive entre o soar do despertador e o primeiro gole de café. O momento em que os olhos se acostumam com a claridade do dia e ainda tentam entender que é hora de recomeçar. Nessa hora, se consolida o pacto prático entre o corpo e o mundo: mais um dia. Vamos em frente. É o que cabe.
Quando nos predispomos a nos conectar com a quietude e a calmaria de instantes, podemos aprender com o silêncio do pássaro que pousou no galho da árvore e nos passa a sensação de estar sentindo o prazer dos raios de sol, com o movimento das roupas no varal, dançando no vento como se soubessem de algo que a gente esqueceu. Ah! E o sossego das plantas, que crescem em segredo, adormecem e florescem, enquanto o mundo grita e tropeça.
Dia desses, notei o silêncio de um cavalo parado sob a copa de uma árvore, sem nenhuma amarração. Estava ali como queria, livre. Escolheu aquele lugar e ali parou. Pairou. Um silêncio inteiro, confortável, quase filosófico. Ele não tinha pressa de ser útil, nem medo de parecer improdutivo. Apenas existia. Aquilo me lembrou sobre uma valiosa sensação de paz.
A sutileza das pequenas coisas, por vezes, ensinam mais, muito mais que mil palavras motivacionais. Aquele fiapo de luz entrando pela fresta da janela, o barulho quase inaudível da chaleira antes de chiar, o cachorro se espreguiçando, o toque dos pés descalços no chão frio da cozinha — todas falam. Mas falam baixo. E é preciso estar disposto a ouvir.
Vivemos ofuscados por telas e luzes, cercados de vozes, alertas, opiniões, em meio à energia do caos. Há ruído até no descanso. Aliás, nem toda pausa podemos chamar de descanso. Vez ou outra é só mesmo a limitação física impondo a necessidade gritante de pararmos. Assim o é. Mas acho que o que realmente tem um potencial enorme de nos reconstruir, eu arriscaria dizer, são esses silêncios gentis que não pedem espaço, apenas existem.
A alma, se alimenta mais disso do que de qualquer espetáculo. Porque, no fim, não são os grandes acontecimentos que nos sustentam, mas esse sussurro delicado das coisas simples, que — mesmo caladas — dizem tudo.

Paula Farsoun
Com a palavra...
Paula é uma jovem friburguense, advogada, escritora e apaixonada desde sempre pela arte de escrever e o mundo dos livros. Ama família, flores e café e tem um olhar otimista voltado para o ser humano e suas relações, prerrogativas e experiências.
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