Bamboleio de pálpebra

Paula Farsoun

Com a palavra...

Paula é uma jovem friburguense, advogada, escritora e apaixonada desde sempre pela arte de escrever e o mundo dos livros. Ama família, flores e café e tem um olhar otimista voltado para o ser humano e suas relações, prerrogativas e experiências.

sexta-feira, 04 de dezembro de 2020

Em tempos em que vangloria-se tanto a necessidade e coragem em se dizer tudo o que pensa, aqueles que preferem o silêncio muitas vezes passam por involuídos. Isso mesmo. Se antes poupar a si mesmo ou ao próximo de discussões, deixar de falar tudo o que supostamente não seria bem recebido pelo interlocutor, recluir-se em silêncio eram práticas desejadas, hoje, há quem diga que nem tanto. Pelo contrário. Basta um bate-papo em uma roda de amigos e cedo ou tarde alguém acaba explicitando que a hora da verdade soou, que não faz bem para a saúde guardar sentimentos e opiniões e que o processo de libertação para por essa franqueza no trato social.

E a legião das pessoas que não desejam adoecer por guardar além das palavras engolidas sem ser ditas, as mágoas remoídas é deveras crescente. Esse caminho passa pelo autoconhecimento e algumas vezes descamba para o extremo posto: dizer tudo o que sente, sem traquejo e muitas vezes, sem sensibilidade. E então, ao invés de os sapos serem engolidos, passam a ser jogados no colo do outro sem parcimônia.

Esse assunto surge em muitas conversas. Poucas vezes alguém aponta para o caminho do meio como algo a ser considerado. E então surge a indagação: o equilíbrio é o meio mesmo? Fato é que o ponto de equilíbrio varia de pessoa para pessoa. E só especialistas podem aprofundar o assunto. 

Eu mesma, que costumo buscar a interação eficiente e ter resposta para tudo, por esses dias andei sem palavras. De verdade. Sem vontade de dizê-las, talvez. Sem motivação. Buscando uma luz que ao final só conduzia para o silêncio e uma vontade toda minha de revisitar a introspecção. Aliás, a busca pelas práticas de silêncio e o voltar-se para si conquista cada vez mais adeptos. Mas seria possível vivê-la em público, cercada de pessoas, de demandas sociais?

E então, como de costume, a reflexão vem. E mais uma vez, a conclusão a que não chegamos (por complexa que é) e o percurso que aponta para um sentido: não devemos julgar as pessoas. Ninguém. Cada um trava suas batalhas diárias, algumas delas inglórias. Uns vão sentir necessidade de compartilhá-las com maior número de pessoas. Outros irão se retrair. Muitos se voltarão para a natureza e sua comunhão com ela serão seu reencontro com o estado de equilíbrio. Não podemos julgar nenhuma delas.

 Uma boa técnica, que na verdade é empirismo, passa justamente por lapidar um conceito básico que deveria se fazer presente em mais momentos de nossas existências: o respeito. A si próprio. Aos outros. A toda a coletividade. Dizer tudo o que pensa ferindo pessoas desnecessariamente, não me parece o melhor roteiro de vida. Da mesma forma, ser destinatário de um contingente de remorso por não conseguir expressar o que se sente, também não. A verdade é que cada um sabe de si. Mas acho que o trato com a comunicação interna, social e com o mundo, poderia ser mais bem refinado...

Palavras que somem podem se perder em um lugar desconhecido por todos. Aquilo que deveria ser dito e não foi. Aquilo que felizmente não foi dito, mas foi pensado. Há tantas formas de se comunicar. Ricas formas. E dependendo do contexto, um bamboleio de pálpebra diz realmente mais que mil palavras. Ah, se diz ...

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Paula é uma jovem friburguense, advogada, escritora e apaixonada desde sempre pela arte de escrever e o mundo dos livros. Ama família, flores e café e tem um olhar otimista voltado para o ser humano e suas relações, prerrogativas e experiências.

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