O dom esquecido

quarta-feira, 28 de outubro de 2020

Centralizara-se geral atenção em torno de curiosa palestra referente aos dons com que o céu aquinhoa as almas, na Terra, quando o Senhor comentou, paciente:

— Existiu um homem banhado pela graça do merecimento, que recebeu do alto a permissão de abeirar-se do anjo dispensador dos dons divinos que florescem no mundo.

Ante o ministro celeste, o mortal venturoso pediu a bênção da mocidade.

Recebeu a concessão, mas, e breve, reconheceu que a juventude poderia ser força e beleza, mas também era inexperiência e fragilidade espiritual, e, já desinteressado, voltou ao doador sublime e solicitou-lhe a riqueza.

Conseguiu a abastança e gozou-a, longo tempo; todavia, reparou que a retenção de grandes patrimônios provoca a inveja maligna de muitos. Cansando-se na defesa laboriosa dos próprios bens, procurou o anjo e rogou-lhe a liberdade.

Viu-se realmente livre. No entanto, foi defrontado por cruéis demônios invisíveis, que lhe perturbaram a caminhada, enchendo-lhe a cabeça de inquietude e tentações.

Extenuado, em face do permanente conflito interior em que vivia, retornou ao celeste dispensador e suplicou o poder.

Entrou na posse da nova dádiva e revestiu-se de grande autoridade. Entendeu, porém, mais cedo que esperava, que o mando gera ódio e revolta nos corações preguiçosos e incompreensíveis e, atormentado pelos estiletes ocultos da indisciplina e da discórdia, dirigiu-se ao benfeitor e implorou-lhe a inteligência.

Todavia, na condição de cientista e homem de letras, perdeu o resto de paz que desfrutava. Compreendeu, depressa, que não lhe era possível semear a realidade, de acordo com os seus desejos. Para não ser vítima da reação destruidora dos próprios beneficiados, era compelido a colocar um grão de verdade entre mil flores de fantasia passageira e, longe de acomodar-se à situação, tornou à presença do anjo e pediu-lhe o matrimônio feliz.

Satisfeito em seu novo desígnio, reconfortou-se em milagroso ninho doméstico, estabelecendo graciosa família, mas, um dia, apareceu a morte e roubou-lhe a companheira.

Angustiado pela viuvez, procurou o ministro do eterno e afirmando que se equivocara, mais uma vez, suplicou-lhe a graça da saúde.

Recebeu a concessão. Entretanto, logo que se escoaram alguns anos, surgiu a velhice e desfigurou-lhe o corpo, desgastando-o e enrugando-o sem compaixão.

Atormentado e incapaz agora de ausentar-se de casa, o anjo amigo veio ao encontro dele e, abraçando-o, paternal, indagou que novo dom pretendia do alto.

O infeliz declarou-se em falência.

Que mais poderia pleitear?

Foi então que o glorioso mensageiro lhe explicou que ele, o candidato à felicidade, se esquecera do maior de todos os dons que pode sustentar um homem no mundo, o dom da coragem que produz entusiasmo e bom ânimo para o serviço indispensável de cada dia...

Jesus interrompeu-se por alguns minutos; depois, sorrindo ante a pequena assembléia, rematou:

— Formosa é a mocidade, agradável é a fortuna, admirável é a liberdade, brilhante é o poder, respeitável é a inteligência, santo é o casamento venturoso, bendita é a saúde da carne, mas se o homem não possui Coragem para sobrepor-se aos bens e males da vida humana, a fim de aprender a consolidar-se no caminho para Deus, de pouca utilidade são os dons temporários na experiência transitória.

E tomando ao colo um dos meninos presentes, indicou-lhe o firmamento estrelado, como a dizer que somente no alto a felicidade perene das criaturas encontraria a verdadeira pátria.

Extraído do livro “Jesus no lar”; espírito Neio Lúcio; médium Francisco Cândido Xavier

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