Botafogo perde Valdir Espinosa, seu grande comandante de 1989

Max Wolosker

Max Wolosker

Economia, saúde, política, turismo, cultura, futebol. Essa é a miscelânea da coluna semanal de Max Wolosker, médico e jornalista, sobre tudo e sobre todos, doa a quem doer.

quinta-feira, 05 de março de 2020

A semana que passou foi de tristeza para a torcida do Botafogo, pega de surpresa com a morte de Valdir Espinosa, no último dia 27. Ele foi o grande comandante do título de campeão carioca de 1989, colocando fim a um jejum de 21 anos, com o grito de “É campeão” entalado na garganta do torcedor botafoguense. E, no último domingo, 1º, antes do jogo Botafogo e Boa Vista, no estádio Nilton Santos, vimos uma cena emocionante: o minuto de silêncio, em sua homenagem, foi total, capaz de se ouvir um mosquito voando. E vejam bem, o saudoso Nelson Rodrigues já dizia que no Brasil, até o minuto de silêncio é passível de vaias.

Sua última passagem pelo glorioso foi breve, pois seu contrato como gerente de futebol durou pouco mais de dois meses; mesmo assim, ele foi responsável pela chegada do atual treinador, Paulo Autuori, campeão brasileiro com o Botafogo, em 1995. Nele a torcida deposita a confiança de que dias melhores virão, nesse 2020.

Conheci Espinosa, aqui em Friburgo, em junho de 1989, quando a delegação do Botafogo veio se preparar para o segundo jogo, contra o Flamengo, que indicaria o campeão, já que o primeiro jogo tinha sido 0 a 0 e o rubro negro jogaria pelo empate. Nessa época, eu trabalhava no Sesi e como a concentração era no antigo hotel Olifas, fui até lá e conversei com ele, dizendo que nós tínhamos, já naquela época, um serviço radiológico e um laboratório de qualidade e que a delegação poderia usar em caso de necessidade. Isso foi numa segunda-feira e no dia seguinte, eu e o saudoso dr. Chevrand estivemos com ele, no Friburguense que tinha colocado suas instalações à disposição do Botafogo.

Muito educado, bom de papo, querido e respeitado pelos jogadores, Espinosa me passou a convicção de que nosso jejum terminaria naquela noite de 21 de junho de 1989. Ainda brinquei com Chevrand, dizendo que ele deveria reforçar seu estoque de fogos. Aliás, essa era uma característica dele, que soltava rojões sempre que o glorioso marcava um gol ou que o Flamengo sofria um gol. Maurício, nosso ponta direita estava na banheira térmica, tentando se recuperar de uma contusão e com febre, consequência de uma gripe. A preocupação era grande, pois nosso ponteiro era uma figura de peso naquela equipe.

Numa quarta feira à noite, no vestiário do Maracanã, Maurício disse para Valdir Espinosa que não tinha condições de entrar em campo. E aí entrou o dedo do grande comandante ao dizer que havia sonhado com a vitória e que o gol tinha sido dele. Maurício foi para o jogo e ao final de primeiro tempo, com um terrível placar de 0 a 0, ele disse que não voltaria para o segundo tempo. Aí, Espinosa reforçou que ele deveria voltar e seria substituído aos 20 minutos de jogo. Precisamente, aos 12 do segundo tempo, Mazolinha recebeu um passe na lateral esquerda, próximo da grande área e cruzou em direção de Maurício que só teve o trabalho de empurrar a bola para o fundo das redes. Era o gol do tão sonhado título, que lavou a alma dos botafoguenses. Faltavam poucos segundos para o jogo terminar e os repórteres já o cumprimentavam pelo título, quando ele olhou para o placar luminoso e disse: só comemorarei quando aparecer a frase “É campeão”. E assim foi feito.

Terminado o jogo Maurício disse para Espinosa que o sonho do treinador tinha se realizado, e recebeu como resposta que não tinha havido sonho nenhum, pois ele estava tão nervoso, que passara a noite em claro. Mas, ali nascia a paixão de Valdir Espinosa pelo time da estrela solitária e sua volta, 31 anos depois para encerrar sua carreira, agora como gerente de futebol do Botafogo.

Seu velório ocorreu no salão nobre, da sede de General Severiano, onde ele recebeu as últimas homenagens de dirigentes, antigos comandados, jogadores do elenco atual e da apaixonada torcida botafoguense que sempre o teve na mais alta estima.

Descanse em paz, nosso grande comandante. A homenagem prestada pelos torcedores no último domingo, 1º, foi algo de emocionar, de arrepiar.

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