Uso de telas por crianças e adolescentes

César Vasconcelos de Souza

Cesar Vasconcellos de Souza

Saúde Mental e Você

O psiquiatra César Vasconcellos assina a coluna Saúde Mental e Você, publicada às quintas, dedicada a apresentar esclarecimentos sobre determinadas questões da saúde psíquica e sua relação no convívio entre outro indivíduos.

quinta-feira, 13 de abril de 2023

Crianças podem gastar tempo demais com telas, seja celular, TV, tablet, computador. Alguns argumentam que por se tratar de uma geração diferente, não tem nenhum problema isso. Será verdade?

Vemos notícias em redes de TV e rádio e artigos de jornais, falando dos supostos benefícios de videogames e desenhos animados para o crescimento mental das crianças e jovens. Mas isto é falso, e só interessa às indústrias do entretenimento. Dra. Natália Biagi, psiquiatra infantil com formação na Universidade de Campinas explica: “Não existe comprovação científica de que as crianças estão mais criativas, inteligentes, curiosas e ágeis por conta da tecnologia.”

Quanto mais cedo uma criança se acostuma às telas, mais chances ela tem de se tornar usuária frequente. Os primeiros anos de vida são fundamentais para aprendizagem e amadurecimento cerebral e as telas privam as crianças de vários estímulos e experiências essenciais com difícil recuperação depois.

Dra. Natália diz: “Estar presente quando a criança está na tela ou sentada ao lado dos pais que estão no celular não é interação de qualidade. Nosso cérebro é bem menos sensível a uma representação de vídeo do que uma presença humana efetiva. Para cada hora passada diante da tela durante a semana, um bebê de 18 meses perde 52 minutos de conversa com seus pais.”

A psiquiatra infantil continua: “A utilização de smartphone provoca menor envolvimento dos pais e um modo de interação mais mecânico. Uma pesquisa mostrou que crianças de 18 meses para cada meia hora passada com um aparelho digital portátil multiplicava por quase 2,5 a probabilidade de apresentar atraso na linguagem. Com a TV, o risco era quadruplicado com consumo maior que duas horas diárias. A criança precisa que falem com ela, que suas palavras sejam solicitadas, que seja encorajada a nomear os objetos, estimulada a organizar suas respostas, que lhe contem histórias e a convidem a ler.”

Quanto ao uso de telas por adolescentes e pré-adolescentes as telas recreativas têm impactos nocivos mensuráveis a partir de 60 minutos de utilização diária. Já que o crescimento cerebral segue até o início da vida adulta, na adolescência há muita vulnerabilidade para aquisição e desenvolvimento de transtornos de dependência. Para cada “like” que o jovem recebe, dopamina pode ser liberada causando a sensação de prazer e pode viciar.

Crianças e jovens que gastam muitas horas com telas podem ter obesidade por causa do sedentarismo, problemas com sono, memória, aprendizagem, desatenção, impulsividade e sintomas depressivos. E os que especialmente se expõem a jogos violentos, podem copiar modelos agressivos e repeti-los na vida de alguma forma, como vemos notícias de jovens portando armas e atacando colegas e professores em escolas. Os videogames favorecem uma atenção dispersa, exatamente o contrário da atenção necessária à aprendizagem no contexto escolar.

Às vezes os pais querem limitar o uso de telas em seus filhos, quando eles não se controlam nisso, gastando muitas horas com TV, celular, tablet, computador. É bom lembrar que crianças podem imitar o comportamento descontrolado dos pais.

Dra. Natália dá estes conselhos: retire telas do quarto de dormir, desligando tudo pelo menos uma hora e meia antes de dormir; explique a razão da colocação dos limites (cérebro em formação, telas minam a inteligência, perturbam o desenvolvimento do cérebro, prejudicam a saúde, favorecem a obesidade, interferem no sono); estabeleça regras/limites quanto ao tempo de duração máxima semanal ou diária.

A Sociedade Brasileira de Pediatria recomenda que até pelo menos dois anos de idade não se deve permitir crianças terem acesso ao uso de telas. Melhores estímulos para as crianças são a leitura, o pai ou mãe podem ler e contar histórias para elas, musicalização, esportes não competitivos, desenhar com lápis e papel, escrever, contato com a natureza, brincadeiras com estímulos sensoriais, contato social de alta qualidade. É iImportante também ter a supervisão de um adulto durante uso das telas por crianças e mesmo jovens, cuidando do conteúdo.

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Cesar Vasconcellos de Souza – www.doutorcesar.com

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O psiquiatra César Vasconcellos assina a coluna Saúde Mental e Você, publicada às quintas, dedicada a apresentar esclarecimentos sobre determinadas questões da saúde psíquica e sua relação no convívio entre outro indivíduos.

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