Voltemos no tempo. Fechemos os olhos e imaginemos um cenário longínquo: há exatos dois séculos, na então recém criada Vila de Nova Friburgo da Freguesia de São João Baptista, vemos e vivenciamos todo o frenesi da chegada à região, então inóspita, de mais de 1.600 imigrantes suíços. As 100 primeiras casas para abrigá-los haviam acabado de ficar prontas. Os “neo friburguenses” se adaptavam à “nova terra prometida”.
Todas as atenções reais, tendo o próprio monarca português escolhido o nome da “Nova” Fribourg (Cidade Livre) e ainda definido o santo padroeiro, seu homônimo, a Colônia dos Suíços parecia cercada de todos os cuidados e atenções. Nos mínimos detalhes.
Após a longa travessia do Atlântico, imaginemos os primeiros dias e semanas daqueles europeus, dos quais alguns levaram 146 dias (quase cinco meses) para chegar. Quão ávidos estariam para enviar notícias a parentes e amigos. Num tempo em que a comunicação, tão diferente dos recursos de hoje, se limitavam apenas às velhas e boas cartas.
Com farta bibliografia sobre sua rica trajetória histórica, é fácil descobrir nos livros e registros oficiais, correspondências que tratavam daqueles primórdios friburguenses, vencendo as dificuldades de comunicação da época.
Para se ter uma ideia, o colono Joseph Hecht conta que “depois de cinco meses, chegaram as caixas e malas, onde estavam nossas roupas, utensílios agrícolas, instrumentos e ferramentas manuais”, (*) - referindo-se à carga do retardatário barco Trajan, com a bagagem dos imigrantes.
Neste contexto, dá para imaginar a importância e a necessidade da correspondência para aquela gente. Embora nos lembre o médico e historiador Henrique Bon em seu ‘Imigrantes - A saga do primeiro movimento migratório rumo ao Brasil às portas da independência’ que “a expansão da Vila de Nova Friburgo é lenta”, também conta, à página 118, que “um serviço de correio seria inaugurado entre Nova Friburgo e Macacu e deste município para a Corte”.
Trazendo-nos mais informação ao que nos adiantara o jornalista Pedro Cúrio em seu ‘Como Surgiu Friburgo’ (1944), Bon revela no mesmo trecho do livro que o colono Salomon Egloff é um dos primeiros estafetas.
Os Correios da Vila de Nova Friburgo teriam início naquele janeiro de 1820, exatamente no dia 24, coincidentemente véspera do ‘Dia do Carteiro’. Curioso ainda notar que, embora os Correios existissem no Brasil desde 1663, somente 15 anos depois da criação do serviço na Vila, é que a profissão de carteiro passaria a existir como a conhecemos até bem pouco tempo, com entrega domiciliar.
Mais uma vez tiramos o chapéu para o engenheiro Raphael Luiz de Siqueira Jaccoud (1924/2007): “(...) qual a data mais apropriada para o ‘Dia de Nova Friburgo’? (...) o melhor mesmo é festejar todas (...) verdadeiramente marcantes na História de nosso município. (...) Logo, quanto mais festas e alegria, melhor”! (**)
Aos 200 anos de sua fundação, em maio de 2018, Nova Friburgo segue em comemorações de mais alguns ‘2Séculos’, enquanto aguarda o 3 de maio de 2024, quando será hora de celebrar o bicentenário da pioneira chegada dos alemães ao Brasil, igualmente naquela emblemática Vila de Nova Friburgo, cinco anos após a experiência helvética e pouco menos de dois anos da Independência do Brasil.
(*) ‘Joseph Hecht – A imigração Suíça no Brasil 1819-1823 (descrita por um participante), 2009 – Armindo L. Müller, pág. 74.
(**) ‘História, Contos e Lendas da Velha Nova Friburgo (1999), pág. 178, do citado autor.
*** Especial para A VOZ DA SERRA
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