O perigo que novas variantes representam mesmo para pessoas já imunizadas

Maior potencial de transmissão ou risco de escape parcial na imunidade adquirida facilita a disseminação global, explica infectologista Patricia Hottz
sábado, 19 de junho de 2021
por Ana Borges (ana.borges@avozdaserra.com.br)
A infectologista Patricia Hottz
A infectologista Patricia Hottz

Com a confirmação do surgimento de novas variantes do novo coronavírus no Brasil e no mundo, crescem as dúvidas e incertezas da população sobre o combate à pandemia. No entanto, segundo estudos divulgados pelos institutos Fiocruz e Butantan, no Brasil, e de outros países, as mutações fazem parte da dinâmica natural dos vírus e nem todas as variantes formadas viram motivo de alerta para os cientistas. 

O que não significa baixar a guarda. Afinal, a variante sul-africana é considerada uma “variante de preocupação”, assim como a brasileira, ambas com mutações associadas a um maior potencial de transmissão da Covid-19. No Rio de Janeiro, a Secretaria de Saúde identificou uma nova variante do novo coronavírus em circulação, descoberta em Manaus (AM) e que permanece prevalente no estado.

Os pesquisadores ainda não sabem se essa nova variante pode ser mais transmissível ou mais letal. Foram apresentadas sete novas mutações, sendo uma delas na proteína S, a parte do vírus que é alvo de anticorpos e da maioria das vacinas contra a Covid-19. Segundo a Secretaria de Saúde, a nova variante foi encontrada principalmente na Região Norte do estado, mas também em amostras nas regiões Metropolitana, Centro e Baixada Litorânea.

Diante da complexidade do assunto, de difícil compreensão para leigos, convidamos a infectologista e mestre em doenças infecciosas pela UFRJ, a friburguense Patricia Hottz, para ajudar o leitor a entender e acompanhar a evolução dos estudos sobre as variantes do novo coronavírus. E reiterar a importância de seguir os protocolos de proteção, mesmo os já vacinados. Confira:

A Voz da Serra: Qual a diferença entre variantes, linhagens e cepas?  

Patricia Hottz: Variantes virais são vírus modificados através de uma ou várias mutações durante o processo de replicação viral. Dependendo de suas características as variantes podem se tornar mais prevalentes sobressaindo-se ao vírus ‘original’ (ou ancestral, como os cientistas falam). Linhagem é um conjunto de variantes que surgiram de um vírus original (ou ancestral) único. Ou seja, não se trata de uma reunião da mesma variante replicada diversas vezes, e sim de diferentes variantes que, juntas, têm a mesma origem. A cepa, por sua vez, é um grupo de variantes que se comportam de forma diferente do vírus original. Ou seja, essas cepas podem infectar as pessoas de formas diferentes, provocar doenças diferentes e exigir respostas imunológicas também diferentes do organismo.

A ciência anunciou que “mutações fazem parte da dinâmica natural dos vírus e nem todas as variantes formadas viram motivo de alerta para os cientistas”. Informaram tanbém, que a variante sul-africana “é considerada uma ‘variante de preocupação’, assim como a brasileira, ambas com mutações associadas a um maior potencial de transmissão da Covid-19”. O que tudo isso significa? 

As variantes de preocupação (VOCs, na sigla para o termo em inglês Variants of Concern), identificadas até o momento são: Alfa, a antiga B.1.1.7, identificada no Reino Unido; Beta, a antiga B.1.351, na África do Sul; Gama, a antiga P.1, no Brasil; e a Delta, a antiga B.1.617.2, na Índia. Elas são chamadas de ‘variantes de preocupação’ por apresentarem características de maior transmissibilidade, gravidade ou risco de escape de imunidade adquirida (por infecção natural ou vacina) e por isso, oferecem maior risco de disseminação global. 

Boa parte da população anda confusa, isolada e seguindo protocolos de proteção pessoal, mesmo aqueles que já tomaram as duas doses da vacina. Outra parte ignora a doença e se recusa a seguir as recomendações sanitárias. Como deter ou pelo menos diminuir os casos de contaminação e mortes, considerando esse quadro?

As variantes continuarão surgindo e oferecendo risco de novas ondas de contágio enquanto a população mundial não alcançar cobertura vacinal adequada. A partir do momento em que houver imunização de rebanho (pela vacina) o vírus terá uma circulação menor e também menor chance de replicação, com consequente redução do risco de mutação e aparecimento de novas variantes.

O ministro da Saúde garante que até o “fim do ano” todo o público adulto brasileiro estará vacinado. Até lá, diante da lentidão da vacinação em todo o país, o que deve ser feito para evitar a contaminação?A única chance de acabar com a pandemia de Covid-19 e tornar esta doença endêmica, como a Influenza (gripe), é vacinando a população em massa. Quando alcançarmos uma cobertura vacinal adequada no Brasil, será possível eliminar as máscaras faciais e retomar a nossa rotina pré-pandemia. Até lá, devemos seguir todas as medidas de prevenção, como uso de máscaras faciais de proteção, higiene frequente das mãos, distanciamento social e ventilação adequada dos ambientes.

O que é importante deixar claro para o friburguense?

Vacinas em geral têm maior efeito na imunidade coletiva do que individual. Por isso, é muito importante cada cidadão se vacinar contra a Covid-19, quando chegar a sua vez. E não importa qual a vacina é oferecida. Todas são eficazes para conquistarmos a tão sonhada imunidade de rebanho. Vacinar é um ato de amor ao próximo!

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A luta contra a pandemia

Baseado em um estudo liderado pela Universidade Federal de Pelotas (UF-Pel), em parceria com a Universidade de Harvard (EUA), sobre a eficiência dos imunizantes em idosos com mais de 70 anos — mesmo com o avanço da variante Gama, no país — o epidemiologista Alexandre Kalache, do Centro Internacional de Longevidade, do Rio, afirma que a pesquisa respondeu a uma dúvida legítima:

“Estamos todos preocupados com o risco de as novas variantes de coronavírus impactarem o resultado do programa de vacinação. O estudo mostra que, confrontada com a nova variante Gama, a vacina se saiu bem, mas o perigo continua, porque quanto mais o vírus circula, mais oportunidades existem para outras variantes ganharem terreno na esteira do atraso da vacinação”. 

Kalache alerta ainda que na faixa acima de 60 anos ainda há uma lacuna razoável de cobertura, apesar de mais jovens já estarem sendo vacinados. Portanto, tudo indica que o caminho para o fim desta pandemia ainda está longe do fim. E todo cuidado é fundamental!

Dezenove variantes

Mapeamento realizado pelo Instituto Butantan apontou a circulação de 19 variantes do novo coronavírus no Estado de São Paulo. A variante Gama, detectada pela primeira vez em Manaus (AM), é a dominante, com 89,8% dos casos. Há registros também da Alpha, identificada primeiramente no Reino Unido, com 4,2% dos dados avaliados. Boletins da Rede de Alertas das Variantes é atualizado semanalmente e permite o acompanhamento da doença no estado através da evolução temporal e incidência das cepas, quantidade de testes positivos e porcentagem destes exames encaminhada para sequenciamento genômico.

 

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