O aumento dos casos e internações por Covid-19 em vários estados brasileiros, que vem sendo registrado com tendência de alta desde o início de novembro, está encontrando um sistema de saúde menos preparado para atender à demanda por leitos de enfermarias e UTIs. Não só nas regiões metropolitanas, mas, principalmente, em cidades menores do interior. A possibilidade de colapso do atendimento aos novos casos é real e poderá acontecer nas próximas semanas, agravada pela chegada das festas de fim de ano e das férias.
É o que alerta a nota técnica "O fim do ciclo de interiorização, a sincronização da epidemia e as dificuldades de atendimento nos hospitais", desenvolvida pela equipe de pesquisa do MonitoraCovid-19 da Fundação Oswaldo Cruz, emitida nesta quarta, 9. A nota alerta que no fim do ano a maior movimentação de pessoas “sem cuidados devidamente adequados e sem manutenção do isolamento social” agravará um quadro composto por “desmobilização de leitos extras dos hospitais de campanha; a ocupação de leitos por outros problemas de saúde que ficaram represados durante o avanço da epidemia de Covid-19; a maior circulação de pessoas; as dificuldades de identificação de casos e seus contatos devido à baixa testagem; e o relaxamento dos cuidados de distanciamento social, uso de máscaras e higiene”.
“No início da epidemia no Brasil, tivemos uma demanda grande nas regiões metropolitanas, e só depois veio a interiorização, num momento em que a incidência da Covid-19 já apresentava sinais de estabilidade nas cidades maiores. Agora, a Covid-19 está fortemente presente tanto nas regiões metropolitanas quanto nas cidades do Interior. E a epidemia está sincronizada, não começa mais nas metrópoles para depois ir para o Interior. Um novo aumento dos casos pressionará a capacidade do atendimento à saúde das regiões metropolitanas, reduzindo também seus recursos para atender a pacientes vindos do Interior. Na maioria dos lugares a assistência à saúde deverá ser incapaz de atender à demanda”, alerta o epidemiologista Diego Xavier, do Instituto de Comunicação e Informação Científica e Tecnológica em Saúde (Icict/Fiocruz) e um dos autores do estudo.
Um importante indicador da dessasistência de saúde está nos números de óbitos fora da UTI. Segundo a nota técnica, a “falta de UTI foi ainda mais expressiva nos municípios do interior, sobretudo pela dificuldade de acesso e as longas distâncias que devem ser percorridas em busca de atendimento”.
Segundo dados do Sistema de Informação de Vigilância Epidemiológica da Gripe (SivepGripe), no interior o total de mortos fora das UTIs é proporcionalmente maior do que nas regiões metropolitanas em quase todo o país (a única exceção é a Região Sul), o que indica que a desassistência aos enfermos por Covid-19 é mais significativa nas cidades menores. Em nível nacional, 36% morreram de Covid-19 fora das UTIs no Interior, contra 31% nas RMs. Há também os registros sem informação sobre o local da morte (9% no Interior e 13% nas regiões metropolitanas), que podem elevar esses números.
“Nos próximos meses, a busca por assistência especializada pode aumentar simultaneamente, nas regiões metropolitanas e no interior, provocando novo colapso do sistema de saúde (...) No Brasil, a dimensão territorial do país dificulta o acesso geográfico ao atendimento. Some-se a isso a concentração de recursos em áreas metropolitanas e capitais mais densamente povoadas. A circulação das pessoas no período de festas de fim de ano e férias deve acelerar a disseminação do vírus, que já circula com bastante velocidade e volta a ocupar os leitos hospitalares. A movimentação das pessoas tende a aumentar a necessidade de atendimento por outros agravos de saúde como os acidentes de trânsito, por exemplo".
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