Enoturismo em Friburgo: vinícola vai abrir à visitação antes de março

Terras Frias contará com duas caves para harmonização com queijos; safra 2022 incluirá vinhos da uva Chardonnay
sábado, 04 de dezembro de 2021
por Adriana Oliveira (aoliveira@avozdaserra.com.br)
As instalações onde são produzidos os vinhos Terras Frias, em Campo do Coelho (Fotos de divulgação)
As instalações onde são produzidos os vinhos Terras Frias, em Campo do Coelho (Fotos de divulgação)

O primeiro vinho friburguense produzido em 100 anos já começou fazendo história. Em apenas três semanas, mesmo ainda sem loja física, foram vendidas quase mil das 3.600 garrafas da safra 2021 do Terras Frias. Todas numeradas à mão, como marca do pioneirismo.

Para o restaurateur e enólogo Ruan Rodrigues, que já serviu o rótulo em algumas de suas mesas na Rua General Osório, o vinho do nosso próprio terroir teve uma resposta positiva de clientes exigentes. “Está, sem dúvida, em um bom caminho. Já provei vinhos de outras regiões logo em seu início e eram bem mais rústicos”, avaliou, a pedido de A VOZ DA SERRA.

O sommelier Dionísio Chaves, do Rio, prometeu fazer a degustação no próximo fim de semana, assim que chegar de viagem, e dizer o que achou.

Enoturismo em vinhedos a 1.100 metros

O dono do rótulo, o empresário André Guedes, de 51 anos, não esconde a felicidade com o resultado e anuncia várias novidades.  A primeira delas é que, ainda no primeiro trimestre de 2022, sua vinícola no distrito de Campo do Coelho estará finalmente aberta à visitação, aproveitando todo o potencial do enoturismo.

Para tanto, obras de infraestrutura estão sendo feitas na propriedade, como ampliação de estacionamento, instalações e banheiros, além da construção de um deque de onde se terá uma visão privilegiada dos Três Picos.

As primeiras visitas, experimentais, começaram no fim de semana passado, exclusivamente para os clientes da pré-venda. “Como os vinhedos ficam a 1.100 metros de altitude, e a sede a 950 metros, foi preciso improvisar uma carrocinha”, conta Guedes, que tem MBA em turismo e faz questão de montar um esquema profissional, de padrão internacional, para abrir ao público. 

A vinícola familiar - Guedes mora ali mesmo e o agrônomo é seu genro - era uma antiga floresta de eucaliptos, com 70 mil pés. Dos 27 hectares, só três são atualmente ocupados por videiras. Há ainda seis tipos de oliveiras, macieiras e pés de limão siciliano, para consumo próprio.

Harmonização com queijos

Outra grande novidade é que foram construídas na vinícola duas caves subterrâneas (acima), onde os visitantes poderão harmonizar os vinhos com queijos de produção também local - de Bom Jardim -, além de pães artesanais de fermentação natural. 

Para harmonizar com os atuais vinhos tintos e rosés, foram escolhidos os queijos Saint-Paulin (o dos monges trapistas), Raclette e o tradicional Montanhês. A terceira novidade é que a safra 2022, além do rosé Cabernet Franc e dos tintos Cabernet Franc e Pinot Noir 2021, incluirá um branco, da uva Chardonnay. 

Enólogo trazido do Sul

“Eu não queria apenas fazer vinho na Região Serrana, mas produzir um vinho fino, de alta qualidade. Não são vinhos de guarda. São monovarietais que mostram as características peculiares de cada uva, respeitando suas fermentações”, explica Guedes, que trouxe do Sul o enólogo Vagner Marchi, filho de viticultor e com mestrado em Montpellier, na França, para aplicar as melhores técnicas.

O investimento passou de R$ 1,2 milhão, fruto de dez anos de economias, mas já se reflete na valorização do lugar: uma casa em meio a uma vinícola, algo inédito em Nova Friburgo. Todo o maquinário, por exemplo, é 100% inox, tal como a de vinícolas jovens e premiadas como a gaúcha Lidio Carraro. Segundo Guedes, a Terras Frias é também a única vinícola do Brasil 100% auto-sustentável, com toda a energia obtida de luz solar e total reuso da água, incluindo a da chuva. 

No clima, o maior desafio

Chuva, aliás, que, de tão abundante em Nova Friburgo, fez do clima o maior desafio enfrentado por Guedes nesta primeira safra. “Foi uma loucura”, resume. Como a uva vinífera requer longos períodos de estiagem e sol, a solução foi aplicar aqui a chamada “poda invertida”: poda-se no verão e colhe-se no inverno. Daí a escolha preferencial pela Cabernet Franc, a mãe de todas as uvas. “O cacho é menos denso, não encharca com muita chuva, não apodrece”, explica Guedes. 

Meta: dez mil garrafas anuais

Para o futuro, a ideia é produzir vinhos das castas Merlot e Syrah. A meta em 2022 é dobrar a produção anual de três mil litros, obtida em 2021, e chegar em  2023 à plena capacidade de produção, que são dez mil garrafas anuais, o triplo da atual, em parceria com vinhedos parceiros em Teresópolis e São José do Vale do Rio Preto.

Mineiro da Zona da Mata, Guedes mora em Friburgo há 32 anos e tem título de Cidadão Honorário da cidade que adotou de coração e onde constituiu família. Chegou para trabalhar com suíços no início do projeto de implantação da Queijaria-Escola, foi fazer especialização na Suíça e voltou para nunca mais ir embora.

Como e por que decidiu embarcar nessa aventura de Baco? Guedes (abaixo) conta que, a vida toda apaixonado por queijos e vinhos (era responsável por harmonizações na Associação Brasileira de Sommeliers), resolveu desafiar a si mesmo. Foi no verão chuvoso de 2017 que ele encomendou as primeiras mudas e começou a preparar o terreno para o plantio, que ocorreu entre 2018 e 2019.  “Desde 2015 a vontade de fazer existia, mas sempre acompanhada de suporte técnico. A  sensação agora de ser pioneiro é muito gratificante”, diz.

Por enquanto, os vinhos podem ser encomendados apenas pelo WhatsApp: (22) 98106-9793.

Um pouco de História

Como informado pelo jornalista Wanderson Nogueira em meados de agosto na sua coluna “Observatório”, em A VOZ DA SERRA, ao noticiar em primeira mão o lançamento do rótulo Terras Frias, Nova Friburgo já teve produção de vinho. Há documentos que comprovam até incentivos fiscais por parte da Câmara de Vereadores pelos idos de 1880. 

A produção era voltada para consumo próprio, entre os colonizadores, até que o capitão Manoel Fernandes Ennes passou a produzir em escala maior para vender até fora da vila. O destaque na época era o vinho verde.

Há relatos de produção de vinho até os idos de 1920, na Chácara do Paraíso, em Conselheiro Paulino, em Campo do Coelho e na Granja Spinelli. Ou seja, 100  anos depois, Nova Friburgo volta a ter uma iniciativa neste sentido.

O Estado do Rio é o segundo maior consumidor de vinhos do país, sendo 80% de rótulos importados. Ou seja, há um mercado de grandes oportunidades. E o  turismo é uma das frentes que pode se somar ao negócio. 

 

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