Encontros virtuais ensinam que o amor não está vinculado ao contato físico, mas à entrega

Psicogeriatra Thatiana Erthal analisa o distanciamento forçado entre avós e netos, nestes tempos de pandemia
sábado, 25 de julho de 2020
por Ana Borges (ana.borges@avozdaserra.com.br)
A psicogeriatra Thatiana Erthal
A psicogeriatra Thatiana Erthal

Natural pensar que o papel dos avós é só mimar. Afinal, nessa relação avós-netos, o chamego predomina. Mas, a participação deles na criação dos netos assim como o convívio com eles, na verdade é muito mais do que isso. E nesse convívio, de estímulos e constante aprendizado, ganham todos. 

Mas, em meio à pandemia de um novo coronavírus, os idosos foram os mais afetados, não só pela doença mas pelo afastamento dos netos e avós. Apesar dos idosos sentirem falta da presença física deles, reconhecem a importância da tecnologia e a conexão que a internet e suas plataformas digitais oferecem e “encurtam” o distanciamento.

Nesta entrevista, a psicogeriatra Thatiana Erthal ressalta: “Tenho ouvido de meus pacientes muitas queixas. Queixas de um vazio tremendo, de pensamentos depressivos cada vez mais fortes e frequentes. E do tempo que não para, e acaba transformando esse hiato em perda de marcos importantes que não voltam”. Confira!

 

AVS: Como estão seus pacientes-avós? Tem ouvido muitas queixas sobre o distanciamento dos netos?

Thatiana Erthal: Muito se fala do benefício do convívio intergeracional. As pessoas idosas recebem esse convívio como uma possibilidade de reviver e resignificar a relação que tiveram com seus filhos, só que de uma maneira mais lúdica e sem tanta cobrança, pois diferentemente de sua juventude, agora possuem mais sabedoria e tempo disponível. E o que não falta é amor. “Avó é mãe com açúcar”, já diziam as nossas próprias avós. Já as crianças podem aproveitar esse tempo de aconchego para brincarem das mais diversas travessuras que sempre, sempre são permitidas na casa dos avós. Os avós são de açúcar e a casa deles cheira a bolo de chocolate e pão fresquinho! Não tinha como essa equação não dar certo, não é mesmo? 

Até chegar a pandemia e trazer a possibilidade de que o convívio com a criança é perigoso, porque são assintomáticas e potenciais riscos a quem já é “grupo de risco”. A saudade dos pequenos momentos, dos abraços e gargalhadas, da vida e alegria que invadem a casa quando a criança, ou até mesmo o neto mais velho, está. Tenho ouvido muitas queixas. Queixas de um vazio tremendo, de pensamentos depressivos cada vez mais fortes e frequentes. E do tempo que não para, e acaba transformando esse hiato em perda de marcos importantes que não voltam. O primeiro dentinho, os primeiros passos, o cheiro do bebê aos recém-chegados a esse tão sonhado universo dos avós. As confidências, as cerimônias de formatura e casamento para aqueles avós veteranos.

 

Como se sentem cuidando dos netos enquanto os pais trabalham?

Hoje em dia, o aumento de escolas em tempo integral e creches com monitoramento de câmeras possibilitou uma tranquilidade maior para os pais que trabalham também em período integral. Mas, todas essas opções são muito custosas e na maioria das vezes não cabem no orçamento. Lançar mão dos avós passa a ser um recurso seguro e infinitamente mais econômico. Quem vai cuidar melhor do seu filho, com amor, cuidado e prazer que seus próprios pais? Muitos pacientes meus participam de forma ativa da rotina de seus netos, substituindo seus filhos até mesmo em reuniões escolares e festinhas infantis. 

Embora perceba esse movimento de querer participar dessas atividades, observo que avós de hoje não querem dispor de todo o seu tempo aos netos. Querem também viajar, fazer cursos, academia e sair com os amigos. Desejam ser avós e não babás não remuneradas. Portanto se queixam quando se sentem sobrecarregados, mas também sofrem quando seus netos não dependem mais tanto deles. Aquele velho dilema humano, de desejar o que não se tem.

 

Como driblar a saudade e promover o convívio em tempo de pandemia?

O ser humano é extremamente adaptável. A tecnologia nessas horas passa a ser fundamental! Aliás, muitos avós aprenderam a manejar a tecnologia, principalmente celular, e com a ajuda dos netos. E é através desses recursos que a comunicação está acontecendo. Na magia dos encontros virtuais, os sorrisos voltam aos lábios e os corações se tocam e se unem. A saudade dói menos e reaprendemos, então, que o amor não está vinculado só ao contato físico, mas sim à entrega. 

Seguimos pacientes na torcida para tudo passar logo porque o que os avós mais querem é dar um abraço bem gostoso nos netos, apertar suas bochechas e olhar com bastante cautela para ver se estão cuidando direitinho deles.

Parabéns para todos aqueles feitos de açúcar que nos ensinam a importância de sentar à mesa com educação, vestir o casaco porque está frio e estudar para ser alguém na vida.....para aqueles que fazem a nossa vida mais doce!

 

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