Quem visita o distrito de Amparo, se encanta com o conjunto arquitetônico do final do século 19 e início do século 20, ainda preservado. Entre os imóveis, chama atenção o casarão do antigo Cine-Theatro, que está à venda. “Queremos vender para que alguém que cuide do imóvel como se deve, preservando e fazendo uma boa utilidade dele”, explicou Janice Rocha do Couto, uma das herdeiras do imóvel.
De acordo com ela, o casarão não é tombado pelo Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan). “Hoje em dia, praticamente, não é feita nenhuma manutenção. Apenas foi feita a pintura da fachada”, relatou. O casarão foi comprado pelos seus pais em 1987, quando fizeram um restaurante. Mas o imóvel de 226 metros quadrados situado em um terreno de aproximadamente 300 metros, já abrigou, além do cinema, teatro e restaurante, uma escola e sediou eventos beneficentes, bailes de carnaval e também foi moradia de uma família.
(Janice Rocha do Couto)
A advogada conta que no imóvel já houve até uma apresentação da Orquestra Tabajara. “Não sei ao certo quanto tempo o Cine-Theatro funcionou. Quando meus pais compraram o imóvel já estava fechado há uns 20 anos e o cinema havia parado de funcionar há mais tempo ainda”, relatou ela.
Janice lembra que o imóvel, que faz parte da história, não só do distrito, como de Nova Friburgo, já despertou o interesse de diversos governos. “Houve uma conversa entre minha falecida mãe e a ex-prefeita Saudade Braga. Foi feita uma proposta de compra pela prefeitura sim, mas não foi adiante. Toda vez que há troca de prefeito, somos procurados para conversar, mas até hoje nada avançou”, lamenta.
A VOZ DA SERRA questionou a prefeitura sobre um possível interesse em desapropriar o imóvel, mas não obtivemos resposta até o fechamento desta edição.
História
Vanuza Gripp, historiadora e moradora de Amparo, escreveu sobre a história do imóvel: “Sobrado construído por José Corrêa de Almeida, em 1925, medindo 13 X 21 metros, tendo na parte inferior um salão grande com um palco ao fundo; na parte superior, uma sacada, sala, corredor, cinco quartos, sala de jantar, cozinha, banheiro, pequena despensa e área.
Ainda em 1925, durante o dia, funcionou no salão principal, a escola estadual de Amparo, criada naquele ano, enquanto se construía o prédio novo. À noite e nos fins de semana funcionava o cinema. Entre os filmes mais lembrados: Assim Caminha a Humanidade, Trinta Segundos sobre Tóquio, Adeus Mocidade!, Nada de novo no Front; O Gordo e o Magro; Filmes de Far Wet; O Cachorro Rin-Tin-Tin, Jeca Tatu, entre outros
Shows de mágica também eram frequentes por lá. Várias companhias de teatro amador apresentaram peças. Também Antonio Lugon e o maestro Pedro Baptista com o Grupo Dramático Amparense encenaram peças de sua autoria e de outros autores.
O Cine-Theatro Almeida foi ponto cultural e de lazer de várias gerações. Nas décadas de 1920 e 1930, do século passado, tinham micaremas animadíssimas: o carnaval era comemorado em Nova Friburgo e o sábado de aleluia em Amparo, atraindo gente de toda parte.
As festas de 10 de outubro, comemorando a reintegração de Amparo a Nova Friburgo, começavam com a queima de fogos da alvorada, mais tarde, leilão, barraquinhas, tendo seu ponto alto no Cine-Theatro, com a escolha da rainha e das princesas da festa e um grande baile.
Também as festas juninas, com moças, rapazes e crianças em seus trajes à caipira, salão enfeitado de bambu, bananeira e bandeirolas e o ponto alto da festa: a quadrilha, marcada por Guilherme Winter e, mais tarde, por Raul Rivail Gripp.
Por tudo que representa esse prédio, precisamos transformá-lo na Casa da Cultura do Amparo, preservando a história do 4° distrito e promovendo seu resgate cultural. Que possamos voltar a assistir filmes e peças teatrais no Cine-Theatro, desenvolvendo nas crianças e nos jovens, as suas potencialidades, com a criação de uma biblioteca, aulas de informática, artes plásticas, artemusical etc.”
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