Caos na saúde de Nova Friburgo é alarmante

Para o médico e ex-secretário de Saúde, Renato Abi-Ramia, além de críticas, existem soluções plenamente executáveis
terça-feira, 14 de maio de 2024
por Jornal A Voz da Serra
Dr. Renato Abi-Ramia é médico pneumologista, ex-secretário de Saúde e ex-vereador em Nova Friburgo
Dr. Renato Abi-Ramia é médico pneumologista, ex-secretário de Saúde e ex-vereador em Nova Friburgo

Nova Friburgo tem vivido meses de descaso com a saúde da população, principalmente para aqueles que dependem do SUS (Sistema Único de Saúde). Há mais de seis meses não tem cardiologista nos ambulatórios, não tem psiquiatra e nenhum reumatologista, resultando em um aumento significativo da morbimortalidade, pois as doenças cardiovasculares ocupam o primeiro lugar em mortes. Mesmo com o convênio em hospital particular para a realização de diversos procedimentos cardíacos, os pacientes que necessitam de continuidade no tratamento não conseguem pela falta de especialista.

Com toda essa demanda, o dr. Renato Abi-Ramia, pneumologista, vem atendendo muitos pacientes no Ambulatório Bento XVI - onde todo trabalho é voluntário – sendo a maioria com necessidades específicas, como tratamento de doenças cardiovasculares, doenças autoimunes, entre outras. Para o dr. Renato muitas mortes poderiam ter sido evitadas se a população estivesse recebendo o tratamento adequado, preventivo e de qualidade, já que existem muitos tratamentos modernos que permitem a remissão de certas doenças.

“A insensibilidade do governo municipal tem matado as pessoas pela falta de atendimento básico. É inadmissível não ter um cardiologista no SUS E a ausência de reumatologista só piora a qualidade de vida das pessoas que têm doenças autoimunes, cerca de 1% a 2% da população”.

Há alguns anos o Conselho Regional de Medicina do Estado do Rio de Janeiro (Cremerj) fez um estudo chamado “Perfil do médico e das emergências do Rio de Janeiro”, cujo resultado, em resumo, diz que 83,8% nunca receberam treinamento técnico específico para a atividade que exercem (atendimento em emergência). E esse é o reflexo também em Nova Friburgo, onde mais de 90% dos médicos que atuam nas emergências nunca tiveram treinamento.

“Ora, as emergências podem definir o futuro do paciente e o diferencial entre a vida e a morte está presente”, alerta dr. Renato, que tem pós-graduação em Administração Hospitalar, já foi chefe do antigo Inamps e secretário municipal de Saúde. “No Hospital Municipal Raul Sertã a situação é desesperadora, se avolumando, a cada dia, os resultados nefastos do atendimento”, completa.

Essa realidade estadual, e na cidade, traz consequências irreversíveis, desde a pandemia, com tantas mortes evitáveis. Desde então, dr. Renato tem atendido pacientes oriundos do Hospital Raul Sertã e da UPA, com diagnósticos equivocados, segundo ele, principalmente de pneumonia, sendo mais de 50% outras doenças. “Muitas viroses autolimitadas, porém dezenas são de insuficiência cardíaca, embolia pulmonar, infarto do miocárdio, cujos diagnósticos podem resultar em mortes. O sofrimento dos pacientes e dos familiares é indescritível, faltando além da competência insubstituível, a humanização do atendimento, a relação médico-paciente está totalmente distorcida”, descreve dr. Renato.

Diante de todo cenário atual da saúde em Nova Friburgo, dr. Renato Abi-Ramia, após as críticas, aponta sugestões de melhorias, mas relata que logo após as eleições municipais de 2020, com a vitória do atual prefeito, agendou por duas vezes reuniões com ele, mas foram desmarcadas no dia acordado, alegando outros compromissos. Mas, mesmo não sendo ouvido pela atual gestão, ele vem indicando propostas imediatas e outras em médio prazo para que a saúde na cidade volte a melhorar, como já foi em outras épocas.

“De início, é necessário contratar dois chefes para os plantões de 24 horas no Hospital Raul Sertã, com expertise em Medicina de Urgência e experiência em hospitais de grande porte, que teriam dupla função: revisar todos os atendimentos de pacientes com falta de ar, dor torácica, dor abdominal sem diagnóstico, febre sem conhecimento de origem, politraumatismo, etc. O atendimento correto dos referidos pacientes mudariam substancialmente o prognóstico. A outra função seria de transferir os conhecimentos para a equipe que, em pouco tempo, se habilitaria a exercer as suas funções, com ganho geral para a cidade. Na UPA seria atendida virtualmente e como seriam dois médicos, na necessidade, um iria até lá”, sugere.

“Concomitantemente, teríamos a refundação do Centro de Estudos do HMRS, com presidente e secretária, com marcação de reuniões e presenças obrigatórias, mesmo que virtualmente. Seriam realizadas também as Discussões Multidisciplinares (DMD), absurdamente inexistentes na cidade e um componente obrigatório para um mínimo de padrão no atendimento. Também imediatamente, seriam designados dois médicos experientes para as chefias das diferentes clínicas, que teriam a incumbência de revisar os atendimentos nos pacientes internados, agregando valor e resolutividade, impedindo inclusive a utilização de exames desnecessários e antibióticos sem indicação, como tenho visto”, completa dr. Renato.

E ele continua: “Em médio prazo, teríamos um Programa de Residência Médica, após o cumprimento das exigências estabelecidas para a sua instalação, nas especialidades de Clínica Médica, Cirurgia Geral, Pediatria, Ortopedia e Traumatologia e Medicina da Família. Com isso, seriam contratados preceptores e o padrão de atendimento do HMRS mudaria de patamar, tornando-se o melhor da região e passaria a ser o melhor da cidade em emergência, não tenho dúvidas”.

Essas são algumas das sugestões do dr. Renato Abi-Ramia, para que a saúde da cidade tenha uma melhora imediata e significativa em médio e longo prazo, e se torne referência em qualidade de atendimento e humanização.

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