Um ato pacífico reuniu centenas de pessoas - entre empresários e trabalhadores do polo de moda íntima de Nova Friburgo - na tarde desta segunda-feira, 22, na Praça Dermeval Barbosa Moreira. A Polícia Militar acompanhou tudo de perto, inclusive com a presença do comandante do 11º BPM, tenente-coronel Alex Soliva, mas não interveio porque o ato não se caracterizou como uma manifestação, já que não houve carreata, passeata, ou exibição de cartazes contra ou a favor determinado grupo ou ideologia.
Os participantes do ato, todos com máscaras e respeitando o distanciamento seguro, se espalharam ao longo de toda a Praça Dermeval Barboza Moreira. A ideia inicial do grupo era partir em caminhada pela Avenida Alberto Braune até a sede da Prefeitura de Nova Friburgo, de modo a pressionar o Executivo Municipal por uma flexibilização que contemple o setor de moda íntima do município. No entanto, seguindo as orientações da Polícia Militar, o ato se concentrou apenas na praça, sem passeata.
“Há uma inconformidade muito grande em relação à paralisação. A ideia desse ato foi mostrar, de alguma forma, a indignação do empresariado. O movimento surgiu nas redes sociais e o Sindivest tinha duas saídas: ou fingia que não estava acontecendo nada ou assumia um posicionamento de apoiar o empresariado, de uma forma democrática, ordeira, legal, apartidária e seguindo as recomendações do Ministério da Saúde”, declarou Marcelo Porto, presidente do Sindicato da Indústria do Vestuário de Nova Friburgo (Sindivest).
Marcelo Porto destacou ainda que a crise já atingiu em cheio o polo de moda íntima local, um dos principais motores da economia friburguense e responsável pela geração de milhares de empregos diretos e indiretos no município. Segundo ele, somente em maio o setor registrou 585 demissões, com uma perspectiva de chegar a 3 mil postos de trabalhos perdidos ao final da crise: “Isso dentro da realidade de um município do porte de Nova Friburgo é algo muito significtativo”, pontuou.
“Ninguém está aguentando mais. O auxílio que o governo poderia dar está passando. Hoje temos uma concorrência desleal porque outros polos já voltaram a trabalhar de forma plena. A parte de EPI (equipamentos de proteção individual) foi um paliativo importante para muitas confecções, mas o que temos como excelência é a nossa lingerie. Precisamos retomar as nossas atividades. Já vai ser difícil em função da dificuldade do mercado, o que dirá agora que atrasamos para reiniciar. Acreditamos que a retomada talvez seja ainda mais difícil que a parada. Essa é a nossa grande preocupação”, projetou Marcelo Porto.
Por fim, o presidente do Sindivest discursou aos presentes e afirmou que espera uma solução para breve: “A gente acredita que até amanhã (terça-feira, 23) tenhamos a oportunidade de reabrir. No fim de semana estive com o prefeito e ele se sensibilizou quanto a necessidade de estar presencialmente intervindo junto ao Tribunal de Justiça. E hoje tivemos contato com algumas pessoas que podem, de alguma forma, influenciar nesse sentido. E o objetivo do sindicato estar aqui é mostrar que está ao lado dos empresários e que há a necessidade de mostrarmos a nossa cara, mas de forma ordeira. Ninguém aguenta mais ser perseguido”, finalizou.
A crise do polo de moda íntima
Devido a pandemia do novo coronavírus (Covid-19), a Prefeitura de Nova Friburgo restringiu o funcionamento de diversos setores da economia no final de março, inclusive das indústrias e confecções. Em 8 de abril, o prefeito Renato Bravo publicou um decreto autorizando o funcionamento parcial das confecções friburguenses interessadas em produzir equipamentos de proteção individual (EPIs), como máscaras de barreira, por exemplo, de modo a suprir essa demanda na cidade e possibilitar uma retomada, mesmo que gradual do setor.
Nesse período o Governo Municipal também promoveu uma chamada pública para comprar cerca de 1 milhão de máscaras de pouco mais de 100 confecções de Nova Friburgo. No final de maio, o prefeito Renato Bravo publicou novo decreto, desta vez flexibilizando o funcionamento de indústrias e confecções a partir de 1º de maio – com 50% da capacidade. No entanto, uma ação civil pública ajuizada pela Defensoria Pública de Nova Friburgo acabou fazendo com que o Tribunal de Justiça suspendesse a medida. Segundo os defensores, essa flexibilização, ainda que gradativa e controlada, provocaria aumento no número de contaminações, se comparado à taxa de contágio no ambiente de confinamento.
Somente na última quinta-feira, 18, a Prefeitura de Nova Friburgo anunciou que, através da Procuradoria Geral do Município, impetrou um pedido de suspensão da liminar que impediu a flexibilização em Nova Friburgo. Até o fechamento desta edição, o Tribunal de Justiça ainda não tinha anunciado se acatava ou não o pedido do Executivo Municipal.
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