O corpo feminino é um diamante a ser lapidado dia a dia

Tereza Cristina Malcher Campitelli

Momentos Literários

Tereza Malcher é mestre em educação pela PUC-Rio, escritora de livros infantojuvenis e ganhadora, em 2014, do Prêmio OFF Flip de Literatura.

terça-feira, 10 de setembro de 2024

Assisti, semana passada, a um filme na Netflix que me motivou a trazer aqui algumas reflexões sobre a mulher. Considerei trazê-lo posto que o roteiro é considerado um estilo literário. Além de elaborado por um escritor que visualiza imagens através de suas ideias e palavras. Trata-se de um texto que antecede a produção de um filme, tendo a finalidade de contar uma história, de organizar e estruturar as cenas através dos diálogos e da ação dos personagens. Tudo no roteiro está voltado para a produção do filme na medida em que o escritor oferece subsídios aos cenógrafos, figurinistas, aderecistas, iluminadores, sonoplastas e outros envolvidos no processo.

“O ano em que comecei a vibrar por mim”, lançado em 2022, é uma comédia romântica sueca, criada e dirigida por uma mulher, Érika Wasserman, que contou com a colaboração de Christin Magdu e Bahar Pars, também mulheres.

A maneira sutil e bem-humorada com que o filme aborda a vida da mulher me fez ser abraçada pela história. Senti vontade de contestar aquele modo de ser da mulher que vai se envolvendo nas teias da vida afetiva, com seus filhos, familiares, parceiros e trabalho, e acaba se vendo puxada por redemoinhos contínuos de situações e esquecendo de si. Apesar de todas as conquistas que a mulher fez, ainda há hiatos nas relações que ela estabelece consigo.

O conhecer-se é um processo de conquista da inteireza pessoal, que acontece ao longo da vida. Cada fase que vivemos nos deparamos com tantas questões; a mais significativa é o corpo. O espelho, muitas vezes, tem um olhar severo e não permite que nos aceitemos como somos. Não deixa que sintamos a sensibilidade de cada parte do nosso corpo. Na essência, somos, acima de sentimentos, espiritualidade, racionalidade, um corpo feminino, que abriga nossos órgãos, ossos e veias cheias de sangue. Sem ele não existiríamos. É a nossa casa primeira. A única verdadeira habitação que nos acolhe, acalenta e nos dá prazer.

Sendo a nossa maior riqueza e defesa, não damos a devida importância a ele. Qual a mulher que se preocupa com seu dedo mindinho. Ai dela se machucá-lo!

A mulher tem de ser inteligente, independente, exuberante e sensual. Porém tudo o que somos depende do corpo que temos. Precisamos cuidar dele, aprender a descobrir, em cada fase da vida, como ele pode estar bem e como é capaz de nos ser prazeroso. Ah, como o deleite saudável regenera nossas células!

Fatores sociais, econômicos, culturais e religiosos contribuem para que omitamos nossos corpos de nós. Tantas razões, alheias a nós, vindas do mundo exterior, dificultam o autoconhecimento corporal, tornando turva a autopercepção.

Temos cinco sentidos! Podemos usar todos para conhecer nossa estrutura corporal e saber o que ela precisa e o que pode nos disponibilizar. E, oferece-nos tanto! Nossos olhos, ouvidos, língua, nariz e pele têm potenciais que não conhecemos. O que podemos alcançar com nossos braços e pernas, mãos e pés? Como pode melhor nos satisfazer a sensibilidade das nossas partes íntimas? Nosso corpo nos pertence e nos é privativo. É um diamante a ser lapidado dia a dia.

E tem voz! Ele nos fala e sinaliza do que precisamos fazer para cuidar dele, valorizá-lo como ponto de partida da nossa sabedoria maior: eu sou. Não podemos nos perceber com vendas nos olhos e tampão de ouvidos. Precisamos nos apaixonar e amarmos como seres mais especiais que conhecemos. Somos, para nós, a pessoa com quem temos, ao mesmo tempo, a maior intimidade e a maior cerimônia.

De quem precisamos para nos conhecer, escutar nossos sons, cheiros, cores? Observar nossas imagens, imaginadas e refletidas? Somente nós. Exclusivamente nós e unicamente nós podemos fazê-lo.

O autoconhecimento é decorrente da vontade de querer saber ser mulher! 

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Tereza Malcher é mestre em educação pela PUC-Rio, escritora de livros infantojuvenis e ganhadora, em 2014, do Prêmio OFF Flip de Literatura.

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