“Bandeira Branca”, o lírio-da-paz do carnaval

Tereza Cristina Malcher Campitelli

Momentos Literários

Tereza Malcher é mestre em educação pela PUC-Rio, escritora de livros infantojuvenis e ganhadora, em 2014, do Prêmio OFF Flip de Literatura.

segunda-feira, 12 de fevereiro de 2024

Eita!, estamos em pleno carnaval. Dias de festas e folias. Alegria, música e agitação dos pés à cabeça. Antes de escrever a coluna resolvi passear pelas músicas carnavalescas que brindam os blocos de ruas, os bailes nos clubes e casas que comemoram esse importante festejo popular. 

As músicas carnavalescas tradicionais são cantigas, compostas com poesias que tocam a vida do povo com humor e filosofia, cujos versos são narrativas que descrevem situações da vida diária. Uma cantiga que puxou minha atenção como um imã foi “Bandeira Branca”. Esta marcha-rancho, composta por Max Nunes e Laércio Alves, fez tamanho sucesso nos anos 70 que atravessou gerações e permaneceu viva na memória popular. 

Com presença marcante nos carnavais atuais, “Bandeira Branca” foi inspirada na tradição do carnaval. Primeiramente era usada para fazer marcações nas escolas de samba. Posteriormente, para mostrar aos sambistas rivais que ninguém queria briga, uma vez que, nos primórdios do samba de rua, as vias públicas eram tomadas por grupos rivais e violentos que se enfrentavam e acabavam com a festa. A música, inspirada no ideal da paz, foi grande sucesso na voz de Dalva de Oliveira, a Rainha da Voz, que, por sua vez, vivia uma relação conflituosa com o companheiro, Herivelto Martins.

Por que “Bandeira Branca” me tocou? 

Quando comecei a cantar e a dançar a música, me veio a vontade de viver num lugar de paz, num mundo de entendimentos e conversas. Que sonho dourado! O amadurecimento nos faz entender que a vida é feita de divergências e precisamos lidar com elas com inteligência, disposição e criatividade. A ponta de lança usadas em nossas atitudes pode ser substituída por olhos carregados de bom-senso, preenchidos pela sensatez através das experiências existenciais. Não há arma mais poderosa do que o conhecimento das circunstâncias que permite uma ação inteligente e lúcida.

Bandeira branca é símbolo de paz entre povos, torcidas, exércitos, dentre tantos milhares de grupos. É um estandarte regulado pela Convenção de Genebra que garante a inviolabilidade do portador. A bandeira branca, ao mesmo tempo em que expressa um pedido de rendição, contém a solicitação de uma trégua. Hoje, ninguém quer abandonar seus ideais; nem deve. Entretanto um tempo para pensar e dialogar tem preciosidades. Numa época em que se preserva a democracia e liberdade, a bandeira branca é como o lírio-da-paz que dispersa as energias negativas, suavizando os momentos em que as tendências opostas são radicais.  

O diálogo é forma mais vigorosa de se lidar com as diferenças que carregam interesses divergentes. Certa vez, ouvi que o humor é uma forma eficiente de educar. Se o carnaval é caracterizado pela brincadeira, diversão e descompromisso, a cantiga “Bandeira Branca” provavelmente vai ficar na memória dos carnavalescos e poderá ser usada no quotidiano posteriormente. 

Deixo, então, a letra da música “Bandeira Branca” para ser cantada no carnaval e cantarolada no banheiro por quem preze a paz. Salve Mahatma Gandhi!

Bandeira branca, amor

Não posso mais

Pela saudade que invade

Eu peço paz.

(...)

Saudade, mal de amor, de amor

Saudade, dor que dói demais

Vem, meu amor

Bandeira branca, eu peço paz

 

(...)

 

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Tereza Cristina Malcher Campitelli

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Tereza Malcher é mestre em educação pela PUC-Rio, escritora de livros infantojuvenis e ganhadora, em 2014, do Prêmio OFF Flip de Literatura.

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