Na matemática do futebol, obviamente, os números refletem boa parte de um todo um trabalho desenvolvido em determinado campeonato ou período. Contudo, em qualquer análise, eles devem ser devidamente contextualizados. A campanha do Friburguense na Série A2 deste ano (a segunda divisão do Campeonato Estadual), por exemplo, aponta para três vitórias, quatro empates e quatro derrotas nos 11 jogos realizados em dois turnos.
Os 13 pontos ganhos renderam ao Tricolor a oitava colocação geral, a frente de times como Artsul, Maricá e Cabofriense, que investem um valor muito superior. Com a mesma pontuação do América e não muito distante de Americano, por exemplo (dois pontos a menos), dois clubes que empregaram bastante dinheiro na montagem dos elencos.
“A dificuldade aumenta a cada ano. Não podemos ficar só trabalhando e pensando de forma negativa, mas precisamos esclarecer as coisas. O Friburguense se tornou um produto, e fizemos parte disso, de 1998 a 2016, onde através do futebol nós produzíamos grandes e eventos e trazíamos os grandes clubes do Rio, participávamos da Copa do Brasil. Realmente tinha um apelo muito grande, e com isso a nossa marca fortaleceu demais”, avalia o gerente de futebol do Friburguense, José Siqueira.
O dirigente, inclusive, abriu o jogo durante bate-papo com A VOZ DA SERRA. Os principais trechos da entrevista serão publicados em uma série de matérias, a começar por esta, que traz alguns temas divididos em tópicos.
Posição do clube no futebol do Rio
“Num momento fundamental de mudança de calendário, de 16 para 12 clubes no Carioca para 2016, o Friburguense como nono colocado caiu de divisão junto com o América. A partir dali, tivemos, já em 2017, a partir da não assinatura do Flamengo com a Globo, deixamos de receber uma cota, voltando para a segunda divisão. Era um momento de crise que o país estava vivendo, e perdemos o nosso patrocínio, que junto à cota de TV, mantinha todo o nosso trabalho de base até o profissional. A gente conseguiu subir e respirar em 2019. Muita gente reclamava da Seletiva, mas você estava numa primeira divisão e recebia a cota. Veio 2020, fomos campeões do grupo X e, com isso, asseguramos o nosso valor de cota. Aí houve todo o processo de rescisão da Globo com a Federação, e ficamos sem o dinheiro. Já vencemos em duas instâncias da Justiça, mas ainda não recebemos. São R$ 850 mil reais. Vem a Record TV, e através disso, novamente caímos pelo regulamento. Em 2021 se organizou o campeonato com 12 e acabou a Seletiva. Descemos mais uma vez sem cair dentro de campo para a Série A2.”
Fator Gerson Andreotti
“Para montar já é muito complicado. Pegamos um campeonato com a maioria dos clubes investindo muito e, logo na estreia, enfrentamos o Volta Redonda, que já havia realizado sete jogos no Brasileiro da Série C e investiu muito. Foi um sacrifício muito grande, e começamos com dois resultados muito ruins. Volto a dizer que o Gerson Andreotti foi fundamental para nossa campanha. Mesmo com passagem marcada para Portugal, para o final de junho, abriu mão de ficar com a família no Rio para nos ajudar. A gente sabia que era necessário um treinador experiente, pelo fato de o grupo ser muito novo. Sabíamos que haveria uma dificuldade inicial. O Afonso e o Bidu deram continuidade, e os agradeço também. Ambos têm muito potencial.”
Opção por Afonso
“O Afonso, desde o primeiro momento, começa a fazer parte da comissão, trabalhando como auxiliar e treinador de goleiro. Tenho certeza que foi um aprendizado muito grande para ele, especialmente na paciência e experiência para lidar com o momento ruim que o Gerson tem. Depois do 5 a 1, em vez de dar desculpa e falar sobre a idade do grupo, ele destaca a evolução da equipe. Acho que essa aposta deu certo. Poderíamos ter trazido outro treinador, mas o Afonso tem um potencial muito grande de leitura de jogo e ações na hora da partida. É algo raro de talento, e pegando o caminho do Gerson, amadureceu bastante.”
Resultado alcançado
“Foi o campeonato mais desgastante, em termos financeiros e também de trabalho. Chegávamos às 8h e saíamos do clube, todos os dias, às 20h, 20h30. Tínhamos a perspectiva de subir, é claro. Na vitória contra o Angra, não só nos livramos, como também vários outros clubes que investiram muito. Ficamos a poucos pontos dos primeiros colocados no geral. Considero o resultado, em cima do que iniciamos, bastante grande.”
Invencibilidade fora, sem vitórias em casa
“Foi a primeira vez que não ganhamos em casa e terminamos invictos fora. Lembro que, após o jogo com o Macaé, voltei no ônibus ao lado do Afonso e conversamos sobre uma determinada maneira de jogar fora de casa e, às vezes, não tínhamos o resultado. Claro que tivemos dois jogos que poderíamos ter ganho, contra o Gonçalense, quando criamos demais, e contra o Olaria, numa partida muito equilibrada. Poderíamos ter vencido. Algumas coisas interferem. O que mais eu senti, principalmente no primeiro turno, mas depois equilibrou, foi que alguns sentiram um pouco. Não tivemos grandes públicos no Eduardo Guinle, sempre em torno de 150 pessoas, e com o estádio vazio, se escuta bastante a arquibancada. Então, nem sempre, com os resultados não acontecendo, o torcedor apóia. As críticas não eram bem assimiladas pelos garotos. Tivemos algumas falhas individuais também, muito relacionadas ao emocional. Não é desculpa, são apenas alguns fatores que, para jogar em casa, são fundamentais.”
Números do Friburguense na Série A2
- Jogos: 11
- Pontos ganhos: 13
- Vitórias: 3
- Empates: 4
- Derrotas: 4
- Gols marcados: 9
- Gols sofridos: 14
- Aproveitamento: 39,4%
- Classificação geral: 8º
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