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Como começar um texto?
Paula Farsoun
Com a palavra...
Paula é uma jovem friburguense, advogada, escritora e apaixonada desde sempre pela arte de escrever e o mundo dos livros. Ama família, flores e café e tem um olhar otimista voltado para o ser humano e suas relações, prerrogativas e experiências.
Como começar um texto? Às vezes é muito simples, outras, nem tanto. Depende do pensamento que te inspira a compilar esse emaranhado de ideias em algumas palavras. Hoje fiquei refletindo sobre a linguagem, os idiomas diferentes e sua possível interferência no modo de sentir das pessoas.
Sabemos que a palavra saudade nos é própria. Coisa nossa. Mas também parece certo que o sentimento correspondente à saudade é universal. Quase não consigo assimilar um ser humano que não se conecte com esse sentimento. Volta e meia de alguma maneira, me conecto com pessoas cuja linguagem, por ser tão diferente e não familiar, aparenta ser mais fria, menos emocional. Por aqui, convivemos com pessoas que muitas vezes não têm noção sobre as regras de linguagem idiomática, mas que dominam a linguagem corporal e se fazem entender muito bem. Sentindo.
Para muito além do palavreado, a expressão corporal no Brasil diz muito sobre nosso povo. Temos, de maneira geral, uma queda por contato físico. Abraço para nós é algo rotineiro, próximo. As pessoas que às vezes acabam de se conhecer, cumprimentam-se com beijos no rosto – algo deveras íntimo. Nós somos de encostar, de andar de mãos dadas, de tocar no outro enquanto conversamos. Terminamos uma prosa com um “eu te amo”, mandamos beijos pelo telefone, choramos com as estórias dos outros, sorrimos para desconhecidos, partilhamos de emoções de forma única.
Um teste interessante tem a ver com a capacidade que temos de fazer amigos, com a facilidade de interagir em ambientes sociais, com a ausência de barreiras para trocar ideias, fazer perguntas. Obviamente não estou generalizando. Mas se pararmos para pensar, se convivermos com pessoas de culturas muito diferentes, se tivermos a oportunidade de viajar e observar pessoas dos mais diversos lugares, talvez nos aproximemos dessa conclusão.
O contexto pandêmico relativizou muito disso. O afastamento social forçado, a reclusão vivida por muitas pessoas, as máscaras estancando os sorrisos, o medo de transmissão do vírus impedindo o aperto de mãos e, principalmente, por questão de segurança, precaução e responsabilidade, os abraços cederam espaços a olhares, acenos, mensagens no celular. Sem toques. Sem abraços. Sem beijos. Tudo menos, bem menos que antes. Com uma certa desconfiança. Com risco.
E sei lá. Tenho a sensação de que as coisas não voltaram a ser como eram. E nem teria como. Não somos os mesmos. E a pandemia ainda não acabou. Mas a saudade segue, e ao que parece, maior, mais inflada. Da mesma forma o amor.
Amor é sentimento universal, mas creio que as formas de amar, as demonstrações desse amor, sofrem interferência direta com o lugar em que vivemos, a forma como somos criados e educados e até mesmo da linguagem. Assim, imagino que seja a tristeza, a frustração, a melancolia, a alegria, a satisfação e muitos outros sentimentos. Mas há algo que eu acho que realmente seja universal, que não podemos mudar, não podemos interferir, não podemos criar fórmulas para controlar – ninguém pode: o tempo. Sobre ele, já diria Cazuza, não pára. Aproveitemos, pois. Isso sabemos fazer.
Paula Farsoun
Com a palavra...
Paula é uma jovem friburguense, advogada, escritora e apaixonada desde sempre pela arte de escrever e o mundo dos livros. Ama família, flores e café e tem um olhar otimista voltado para o ser humano e suas relações, prerrogativas e experiências.
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