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A polêmica sobre usar ou não a hidroxicloroquina
Max Wolosker
Max Wolosker
Economia, saúde, política, turismo, cultura, futebol. Essa é a miscelânea da coluna semanal de Max Wolosker, médico e jornalista, sobre tudo e sobre todos, doa a quem doer.
É muita leviandade querer atribuir ao presidente da República a imposição do uso da hidroxicloroquina, no tratamento da infecção pela Covid-19. Mas, da mesma maneira que um leigo consulta a opinião de médicos ou vai ao Google, é claro que Jair Bolsonaro tem seus contatos na área médica e deve ter conhecimento da utilidade desse fármaco, como coadjuvante do tratamento da virose chinesa.
Como clínico que sou, sei que ela surgiu no mercado para tratamento e prevenção da malária ou febre terçã. Para essa enfermidade a dose prescrita é de 600 mg no primeiro dia e 300 mg no segundo e terceiro dias, cerca de 25 mg por quilo de peso, num adulto. De acordo com um trabalho publicado pelo Instituto Oswaldo Cruz, da Fundação Fiocruz, “na dose habitual do tratamento de doenças agudas, a cloroquina tem poucos efeitos adversos. A toxicidade aguda pode ocorrer após a ingestão de uma única dose de 1,5-2,0 gramas, ou seja, 2-3 vezes a dose diária de tratamento”.
Ainda, segundo a Fiocruz, “é necessário gerar evidências sobre a segurança e eficácia da cloroquina para tratar pacientes infectados com o SARS-CoV-2, agente etiológico da Covid-19. O medicamento deve ser administrado sob estrita supervisão médica em ensaios clínicos e por um tempo curto. É fundamental avaliar cuidadosamente a quem a cloroquina pode ser efetivamente prescrita”. Não foi o que aconteceu nessa terra esquecida por Deus, pois logo que se divulgou os primeiros informes sobre a sua utilidade, ela sumiu das prateleiras das farmácias. Isso obrigou as autoridades a só permitirem sua venda com prescrição médica. Para a Covid-19 a hidroxicloroquina é mais segura e com toxicidade menor.
Num recente debate entre os médicos Marcos Boulos e Paolo Zanotto, ficou claro que mesmo entre os mais entendidos, muitas dúvidas permanecem. Mas, apesar de Boulos dizer que esse vírus não tem tratamento, estudos “in vitro’ mostram a eficácia da cloroquina contra o SARS-CoV-2, agente etiológico da Covid-19. Devido a inexistência de medicamentos seguros e efetivos para enfrentar essa doença, ela pode ser uma alternativa terapêutica, pois é um medicamento usado há mais de 70 anos e relativamente seguro. Baseado em que? Estudos “in vitro” mostram que o fosfato de cloroquina pode inibir a replicação de vários coronavírus “in vitro”, numa concentração próxima à alcançada durante o tratamento da malária aguda.
A CQ inibe a replicação do vírus reduzindo a glicosilação terminal dos receptores da enzima conversora de angiotensina 2 (ACE2) na superfície das células Vero E6 e interferindo na ligação dos receptores SARS-CoV e ACE2. Foi o que mostrou Paolo Zanotto, se referindo ao sucesso do tratamento da doença, no hospital da operadora de saúde Prevent Senior, em São Paulo. Ela tem de ser usada do segundo ao quarto dia do aparecimento dos sintomas e manifestações clínicas.
Segundo ele, em três dias já se nota uma diminuição acentuada da atividade viral. Numa outra entrevista, essa no jornal da TV Cultura, ele enfatizou que a partir do quinto dia, quando o paciente passa do estágio de transmissão viral para a inflamatória, quando o pulmão já está com mais de 50% de comprometimento, ela já não tem a mesma ação. Em média, a partir do sétimo dia, caso a infecção se agrave, o paciente vai precisar ser entubado e a eficácia do tratamento é muito baixa. Esse mesmo procedimento foi feito pelo professor Vladimir Zelenka, em Nova Iorque.
Tem protocolos que usam a Azitromicina associada ao sulfato de zinco. Como disse o doutor Boulos, vírus não responde a antibióticos, mas aqui o seu uso é também em função da inibição da replicação viral. Os protocolos variam muito, mas na nota técnica Covid-19 09/2020 – SESA/GS, do SUS, preconiza-se hidroxicloroquina 400 mg de 12 em 12 horas durante o primeiro dia e 400 mg por dia durante quatro dias. Num debate promovido pelo laboratório Sandoz, o geriatra Marcos Valente sugeriu hidroxicloroquina 200mg de 12 em 12 horas, no primeiro dia e 200 mg por dia por mais quatro dias.
Pelo sim pelo não, se numa infelicidade, eu me contaminar, vou querer usar a hidroxicloroquina, juntamente com a Azitromicina e o Sulfato de Zinco. Se tivesse na ativa, desde que meu paciente não tivesse comorbidades que impedissem o uso do medicamento, eu o prescreveria. O importante é salvar uma vida e não se perder em embates políticos, que não vão levar a nada.
A hidroxicloroquina é uma droga barata, o Remdesivir, recém lançado nos Estados Unidos terá um custo de US$ 4.650 por tratamento. Entenderam?
Max Wolosker
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