Um agradecimento aos heróis da pandemia

Max Wolosker

Max Wolosker

Economia, saúde, política, turismo, cultura, futebol. Essa é a miscelânea da coluna semanal de Max Wolosker, médico e jornalista, sobre tudo e sobre todos, doa a quem doer.

quarta-feira, 25 de março de 2020

Quando sentei no meu escritório para escrever o meu artigo da semana, pensei em não tocar no assunto do planeta, na atualidade, a pandemia da gripe chinesa. Sim, pois o vírus veio de lá e, apesar de terem batido duro no Eduardo Bolsonaro, o prefeito da cidade de Huan, onde foi o início dessa praga internacional, confessou que ele demorou, no mínimo, 15 dias para divulgar o aparecimento do primeiro caso do Covid-19. Quinze preciosos dias que poderiam ter mudado a história da propagação da virose. 

A única referência que faria é o de reverenciar os médicos e paramédicos que estão na linha de frente no combate à doença, se expondo e a seus familiares, sem esmorecer e trabalhando à exaustão. Aliás, não é um problema só nosso, pois os colegas franceses reclamam da mesma coisa: se expõe sem material adequado para se protegerem, pois o estado, para variar, está sempre atrás dos acontecimentos. Li no jornal Le Monde, de hoje, que no último domingo, 22, faleceu o Dr. Jean-Jacques Razafindranazy, de 67 anos, médico da cidade de Compiègne, no departamento de l’Oise. É a primeira vítima entre os médicos franceses.

Domingo tive uma queda acentuada de pressão, passei mal e, o que é pior, comecei com uma discreta coriza, mas sem febre, tosse ou dores de garganta. O problema é que li um artigo que diz que o Covid-19 pode provocar, como sintoma inicial, perda do olfato, pois acomete áreas do sistema nervoso responsáveis por esse sentido. Se fosse leigo, isso passaria despercebido, mas ao ser, também do ramo, a primeira coisa que me veio à cabeça foi pensar que meus primeiros sintomas estavam no cérebro, daí minha hipotensão. Liguei para o meu clínico, Marcos David, e pelo timbre da sua voz pensei que o estivesse acordando. Quando me disse que estava no hospital, fiquei assustado, mas, descobri que aquela voz era fruto do cansaço de quem está na linha de frente, trabalhando sem parar.

Tranquilizou-me e se dispôs a passar na minha casa, quando saísse do Hospital São Lucas, onde estava de plantão. A figura de Marcos David é a representação de todos aqueles que estão se desdobrando no cuidado da população, seja aqui, no Brasil inteiro ou a nível mundial, tentando minorar as consequências mais graves da atual pandemia. O meu reconhecimento a todos e que a população, sempre que puder, perca um minuto para rezar pela saúde desses verdadeiros heróis e de seus familiares. Felizmente, melhorei e meu amigo pode ir para casa, para um justo repouso.

Mas, a título de curiosidade, encontrei, também, no Le Monde, algumas amenidades que merecem ser repassadas aos meus leitores. A primeira é que o número de pessoas que estão se curando e recebendo alta está em curva ascendente. Na China já são mais de 70 mil, num universo de 80 mil pesquisados e na França, entre 18 e 19 de março, 2 400 pacientes tiveram alta hospitalar. Isso sem levar em conta aqueles que se curam em casa, quando são acometidos por um simples estado gripal provocado pela doença. Desde o último dia 19 que o país asiático também não registra nenhum caso de origem local.

As águas da cidade de Veneza se tornaram límpidas como há muito não se vê. Não é pela diminuição da poluição, mas sim pela falta de turistas o que faz com que a lama no fundo dos canais seja menos remexida, pela passagem de barcos e gôndolas. Ainda na China, um dos maiores poluidores mundiais, a emissão de poluentes caiu cerca de 30%, em relação ao ano de 2019. Muitos estão redescobrindo o canto dos pássaros, pois ao ficarem em casa, têm tempo de observar as arvores e acompanhar a sinfonia gratuita proporcionada por melros, canários e muitos outros. Além disso, ursos, cobras, porcos espinhos, tartarugas, espécies selvagens habitualmente vendidas na China, vão poder respirar um pouco. Após o aparecimento dos primeiros casos da doença, Pequim anunciou medidas para eliminar o consumo excessivo da fauna selvagem. 

Saiamos de casa o mínimo possível e vamos colaborar para minorar os efeitos dessa pandemia aqui, no Brasil e no mundo. Respeitemos as orientações das autoridades.

Publicidade
TAGS:

Max Wolosker

Max Wolosker

Economia, saúde, política, turismo, cultura, futebol. Essa é a miscelânea da coluna semanal de Max Wolosker, médico e jornalista, sobre tudo e sobre todos, doa a quem doer.

A Direção do Jornal A Voz da Serra não é solidária, não se responsabiliza e nem endossa os conceitos e opiniões emitidas por seus colunistas em seções ou artigos assinados.