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Vivendo em família 24 horas por dia em quarentena
Cesar Vasconcellos de Souza
Saúde Mental e Você
O psiquiatra César Vasconcellos assina a coluna Saúde Mental e Você, publicada às quintas, dedicada a apresentar esclarecimentos sobre determinadas questões da saúde psíquica e sua relação no convívio entre outro indivíduos.
Última parte
No artigo anterior comentei que muitas famílias estão vivendo em alto estresse porque foram pegas de surpresa com o isolamento social devido à pandemia viral. Expliquei que traria algo prático na segunda parte do artigo, mas que cada membro da família, marido, esposa, ou outro adulto dentro do mesmo convívio, tomasse a decisão inicial de lutar consigo para ter autocontrole emocional e não perturbar o outro em casa. Isto já seria um grande passo. Vejamos agora dicas práticas para que o comportamento familiar neste momento de quarentena seja vivido com o mínimo de tensão, briga, e desarmonia possível.
1 - Evite atitudes de crítica
Agora não é o momento de ficar apontando falhas do outro. Na verdade, isto deve ser evitado em qualquer momento, mas principalmente nesta emergência que vivemos. Se você evitar críticas, isto previne estresse, tristeza, irritação. Agora é hora de apreciação, valorizar, elogiar o outro para criar um clima calmo. Não critique seu marido porque ele não arruma a louça como você. Não critique sua esposa porque ela não cozinha tão bem como sua mãe.
Agradeça seu marido por colocar o lixo fora, coisa que talvez ele nunca fazia. Agradeça sua esposa por ela ter ficado com as crianças sem a babá ou a vovó enquanto você trabalhava home office, se isolando num cômodo da casa. Antes de dormir você pode dizer para seu cônjuge três coisas que apreciou nele/nela naquele dia. Não se pode conviver juntos em paz sendo críticos. Seja gentil um com o outro.
2 - Procure ser mais curioso do que furioso
Se perceber que seu marido/sua esposa está irritada num certo momento, não se irrite também. Procure saber o que está ocorrendo com desejo de ajudar. Incentive a pessoa a falar e expressar sua contrariedade e não traga aquilo como algo pessoal. Claro, a pessoa precisará falar sem atacar você ou outro membro da família. Quando as pessoas estão estressadas é perigoso o que elas dirão, e é também difícil ouvirem. Fale, sem agredir o outro, e escute o desabafo do outro com respeito.
3 - Permita que seu familiar em casa se sinta mal ou bem quanto à esta crise da pandemia
Otimistas poderão se sentir melhor, sem tanto medo e ansiedade. Não a critique porque ela não está ansiosa como você. Outros mais preocupados e sensíveis poderão com mais frequência se sentir mal, impacientes, com medo. Neste caso, não critique a pessoa que é mais medrosa e preocupada. Cada um lida emocionalmente com esta pandemia da maneira que consegue, e isto não tem que ser igual para todos.
Ao lidar com um familiar que fica muito ansioso neste momento, basta ser empático, ou seja, escutar a pessoa falar do medo, das preocupações, e você pode até ir além de oferecer ouvidos atentos, repetir para ela o que ela está expressando para mostrar que você está entendendo o sofrimento dela. Você pode dizer após a pessoa falar que está tensa com medo de contaminação pelo vírus corona e começar a chorar: “Puxa, que chato este seu medo. Chorar pode aliviar. Mas procure evitar ficar pensando em coisas trágicas.” Veja que nesta frase você oferece compreensão, não critica a pessoa porque ela chorou, e deixa uma ideia positiva para ela lidar com os pensamentos de medo.
4 - Negocie o tempo em casa
Você, seu marido ou sua esposa podem querer estar algum tempo sozinho, sozinha, sem as crianças por perto. Ofereça ficar com as crianças num certo período do dia e depois vocês trocam, o outro fica com as crianças para você fazer algo sozinho que desejar ou precisar. Então, vai ter momento para cada um ficar só, outro para todos ficarem juntos, outro para o casal conversar a sós sem as crianças perto, e outro momento para as crianças brincarem sozinhas ou fazer alguma tarefa escolar. Não é nem todo mundo junto o tempo todo e nem todo mundo separado o tempo todo, se não houver complicações clínicas com ninguém.
5 - Planeje seu dia, mas sem rigidez
Dividam as tarefas em casa. Colocar lixo no lixo, ração para o cachorro e limpar as sujeiras dele, ajudar na cozinha no preparo do alimento, cada um cuidar de sua roupa, da sua cama, da sua toalha de banho. Cada um assumir tarefas escolares e do trabalho feitas agora em casa. Claro, crianças pequenas não podem assumir coisas difíceis, mas dependendo da idade já podem cooperar com tarefinhas simples.
6 - Surgiu uma tensão difícil que agitou os sentimentos?
Respire fundo. Conte até 50. Vá tomar um banho. Deixe o sangue esfriar. Pense. Evite soltar os cachorros imediatamente. Deixe passar pelo menos meia hora para você ter tempo de refletir, acalmar as emoções para depois falar com serenidade. Mas evite deixar isto para o dia seguinte. Conversem pensando em resolver o impasse, o problema, e não para criar mais tensão. Seja honesto e pense: No que estou errando? O que é culpa minha? Como falar de forma respeitosa? Seus filhos não querem ver os pais brigando. Eles sofrem com isso. Portanto, procurem resolver a situação tensa que surgiu da melhor maneira possível.
7 - Respeite os limites
Se seu marido ou sua esposa está isolada num cômodo trabalhando, respeite, não deixe as crianças interromperem o trabalho batendo na porta, gritando, ou chamando o pai ou a mãe. Combinem uma hora em que será a hora do trabalho e que só poderá se interrompida se ocorrer alguma emergência. Explique para as crianças que papai/mamãe está trabalhando ali no quarto ou no escritório da casa e que daqui há pouco ele/ela sairá para tomar a refeição juntos e conversar.
8 - Seja claro ao fazer um pedido ao seu esposo ou esposa
Algumas pessoas têm dificuldade de pedir ajuda e por isso se sobrecarregam de tarefas. Então, especialmente agora com todo mundo junto o tempo todo em casa, peça ajuda, mas de forma clara, com humildade e sem manipular. Isto é importante porque o outro pode não perceber que você está com uma carga pesada de tarefas. Daí ser importante pedir ajuda.
Cesar Vasconcellos de Souza
Saúde Mental e Você
O psiquiatra César Vasconcellos assina a coluna Saúde Mental e Você, publicada às quintas, dedicada a apresentar esclarecimentos sobre determinadas questões da saúde psíquica e sua relação no convívio entre outro indivíduos.
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