Transtorno Obsessivo Compulsivo (TOC): o que é e o que fazer com ele?

César Vasconcelos de Souza

Cesar Vasconcellos de Souza

Saúde Mental e Você

O psiquiatra César Vasconcellos assina a coluna Saúde Mental e Você, publicada às quintas, dedicada a apresentar esclarecimentos sobre determinadas questões da saúde psíquica e sua relação no convívio entre outro indivíduos.

quinta-feira, 23 de janeiro de 2020

O nome já diz: obsessão e compulsão. Uma pessoa com este sofrimento mental tem pensamentos intrusivos, que ela não quer ter, que ficam perturbando a consciência. Exemplos podem ser pensamentos tipo: “Será que tranquei a porta de casa?”, ou “Acho que me contaminei com germes ao tocar naquele objeto.” Com pensamentos assim que não param, a pessoa sente a compulsão para fazer o que eles dizem. No primeiro caso, ela vai verificar várias vezes se realmente trancou a porta. E no segundo caso ela vai lavar as mãos repetidas vezes. Os pensamentos obsessivos ficam “mandando” a pessoa com TOC praticar os atos compulsivos, porque se não fizer, a ansiedade perturbará muito.

Existem vários tipos de pensamentos obsessivos, como o de que a pessoa cometeu um pecado imperdoável, ou que ela tem que arrumar seu armário de maneira perfeita, ou que tem que ajeitar um quadro na parede que está um pouquinho torto, ou que tem que dar três toques na parede sempre que pensar numa palavra etc. Milhares de pessoas sofrem de TOC. No Brasil varia de 0,7 a 2,5% da população. Portanto, não é algo raro.

As pessoas normais podem ter pensamentos que se repetem na mente, mas é algo temporário. Nos indivíduos com TOC eles se tornam recorrentes ou obsessivos que perduram e se tornam um padrão de pensamento. Isto provoca muita ansiedade, e muita ansiedade provoca isto. E uma tentativa de aliviar a ansiedade produzida pelos pensamentos obsessivos é praticar os atos compulsivos. Por exemplo, se na mente da pessoa com TOC o pensamento obsessivo é sobre contaminação, ela poderá tentar amenizar isto através do ritual de lavar as mãos exageradamente dezenas de vezes ao dia. Se o pensamento obsessivo é sobre trancar alguma porta, ela pode conferir se realmente fechou uma série de vezes.

Alguns cientistas acreditam que o TOC tem que ver com alterações cerebrais e que é necessário usar medicamentos para tratá-lo. Mas não é “só” isso. Há outras complicações emocionais que geram muita ansiedade e a mente usa os pensamentos obsessivos e atos compulsivos como defesa da dor emocional profunda. Então, na causa do TOC há fatores físicos, emocionais e espirituais.

Ajuda a lutar contra o TOC dizer para si mesmo que os pensamentos obsessivos não tem valor moral, mas são resultado de alterações neuroquímicas talvez devido ao excesso de ansiedade. Por isso, a pessoa com TOC precisa desvalorizar os pensamentos obsessivos o mais que puder e dizer para si mesma que ela não tem que fazer o que eles mandam.

Também é importante lutar para pensar em outra coisa para substituir o pensamento obsessivo. Isto é difícil no começo, mas com o tempo a pessoa pode conseguir evitar ficar concentrado nos pensamentos obsessivos, escolhendo pensar em outras coisas. A dificuldade surge porque existe uma ansiedade forte que leva a pessoa a ter estes pensamentos e eles, por sua vez, conduzem aos atos compulsivos, repetitivos.

Isto significa que, quando a pessoa luta para impedir que os pensamentos obsessivos continuem em sua mente perturbando, ela pode sentir mais ansiedade. Mas com o tempo esta ansiedade poderá começar a diminuir sem que a pessoa necessite praticar a compulsão para obter alívio daqueles pensamentos.

Um exercício que pode ajudar é: ao vierem os pensamentos obsessivos, ao invés de logo praticar o ato compulsivo, diga para si: “Vou esperar uns 20 minutos sem me deixar levar pela necessidade de agir compulsivamente.” Depois de alguns dias ou semanas, aumente este tempo de “espera”. Ou você pode diminuir, por exemplo, no caso de uma compulsão para lavar as mãos por vários minutos. Lute para decidir lavá-las usando menos tempo.

Não tenha vergonha de falar disso para alguém. Se você não conseguir interromper gradativamente os atos compulsivos, procure uma ajuda profissional com psiquiatra e psicólogo. Quando o TOC se torna grave a ponto de perturbar a vida social e de trabalho da pessoa, uma medicação temporária prescrita por médico psiquiatra poderá ser necessária além da psicoterapia.

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