Primeiro no coração

César Vasconcelos de Souza

Cesar Vasconcellos de Souza

Saúde Mental e Você

O psiquiatra César Vasconcellos assina a coluna Saúde Mental e Você, publicada às quintas, dedicada a apresentar esclarecimentos sobre determinadas questões da saúde psíquica e sua relação no convívio entre outro indivíduos.

quinta-feira, 27 de maio de 2021

Podemos ter coisas em nossa mente que não estão em nosso coração. Podemos ter desejos, sentimentos, o que achamos que é amor num nível consciente, mas não ser isso que está lá no mais profundo de nosso ser que, poeticamente, chamamos de coração.

Certa vez Jesus explicou para seus ouvintes que o que perturba as pessoas, os relacionamentos pessoais e, por extensão, a sociedade como um todo, é o que sai do coração das pessoas, da parte mais profunda de nossa mente. E ele nomeou algumas destas coisas problemáticas que estão em nosso coração e que quando saem dele produzem corrupção, dor, sofrimento, estresse, morte. Ele falou de maus pensamentos, mortes, adultérios, fornicação, furtos, falsos testemunhos e blasfêmias. (Mateus 15.9).

Num tratamento psicológico buscamos verdades que existem na mente da pessoa, na história dela que produzem o sofrimento que motivou a consulta. Um tratamento psicológico, psicoterapia ou terapia psicológica, especialmente a chamada “psicoterapia psicodinâmica” ou “psicoterapia psicanalítica” tem como meta ajudar a pessoa a entender suas verdades, ver o que está em seu inconsciente e que produz dificuldades comportamentais. Mas parece que o coração, este espaço virtual em nossa mente do qual Jesus se referiu como sendo a central dos problemas humanos, é algo além do consciente, da consciência, e do inconsciente. É mais do que o psicológico.

O coração precisa ser mudado se não a sociedade não funciona com justiça. Você conhece aquele ditado popular que diz que a boca fala do que o coração está cheio. Quando olhamos o cenário mundial de corrupção podemos pensar: o que existe no coração de líderes que se aproveitam dos cargos para enriquecimento pessoal? Quando pensamos em eleições políticas também podemos pensar: o que existe no coração dos candidatos? Eles podem dizer coisas bonitas em seus discursos, podem prometer benefícios para a sociedade caso sejam eleitos. Estas palavras que eles falam saem da mente, mas o que está no coração deles? A gestão, o mandato mostra.

Muitos vivem romantizados, fissurados em novelas de TV, livros de romance, creem que em sua mente há amor maduro. Mas por que gostam de brigar, manipular, trair o companheiro, a companheira? É porque o coração delas é a fonte destes problemas. Se o coração não mudar para melhor, nada funciona em justiça, em verdade, em equidade.

Você consegue mudar seu coração? Será que um transplante cerebral mudaria o caráter (coração) de uma pessoa? Um medicamento psiquiátrico tem poder para mudar nosso coração, ou só muda o sintoma da dor emocional?

Uma ficha dos Alcoólicos Anônimos nos Estados Unidos numa face diz: “To thine own self be true.” Uma tradução literal é: “Para ti mesmo seja verdadeiro”. Ser verdadeiro pode ser entendido como ser honesto. Você pode ter honestidade em sua mente e em seu coração a desonestidade. Lobo em pele de ovelha, como certos membros de Comissões Parlamentares de Inquérito (CPI) que são lobos vorazes contra a sociedade. E quem escolhe estes corruptos para serem membros de uma CPI são ingênuos? Difícil romper com a corrupção de um país, não é?

Primeiro no coração. Se a justiça, o amor, a verdade, não procedem do coração, de nada adianta discursos decorebas, atitudes superficiais, promessas demagógicas. Primeiro tem que haver mudança no coração, no conteúdo dele, para que você seja verdadeiro, para que seus relacionamentos familiares, profissionais, políticos, religiosos sejam eficazes para o bem de todos.

Se você percebe que há uma contradição, um paradoxo, entre o que está em sua mente consciente, que parece bom, e o que está em seu coração, que é maligno, você precisa de um novo coração caso queira ser feito uma pessoa que merece viver com dignidade. Se preferir manter a corrupção interna e agir superficialmente como se fosse do bem, você não vale nada. Primeiro no coração, depois na conduta. O que contamina o homem é o que sai do coração.

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O psiquiatra César Vasconcellos assina a coluna Saúde Mental e Você, publicada às quintas, dedicada a apresentar esclarecimentos sobre determinadas questões da saúde psíquica e sua relação no convívio entre outro indivíduos.

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