Pandemia maluca

César Vasconcelos de Souza

Cesar Vasconcellos de Souza

Saúde Mental e Você

O psiquiatra César Vasconcellos assina a coluna Saúde Mental e Você, publicada às quintas, dedicada a apresentar esclarecimentos sobre determinadas questões da saúde psíquica e sua relação no convívio entre outro indivíduos.

quinta-feira, 26 de novembro de 2020

Um rapaz buzinou no portão de casa. Era um conhecido jovem que estava trazendo algumas compras de supermercado para mim. Como sou do grupo de risco para esta pandemia maluca e cheia de conflitos de interesses por parte de empresários, governo, laboratórios farmacêuticos, eu havia solicitado que trouxesse algo para mim. Isto foi no início da pandemia em março e abril deste ano.O rapaz deixou as sacolas no portão. Agradeci e disse que faria a transferência para a conta dele do valor das compras e acrescentaria um pouco mais como agradecimento. Com um sorriso simpático ele se despediu, entrou no carro e partiu.

Aí começou e continuou a ansiedade. Meus pensamentos estavam à mil. Pensava comigo mesmo: Preciso pensar que estas sacolas de supermercado podem estar contaminadas. Eu havia separado um local específico para colocar qualquer compra que chegasse para ali fazer o processo de higienização. Que coisa chata! Que realidade desagradável!

Meus pensamentos continuaram acelerados pensando em mil coisas. Tirei as coisas das sacolas, e fui higienizando produto por produto. Coloquei frutas e verduras numa vasilha com água misturada com água sanitária. Precisava abrir a torneira da pia da cozinha, mas pensava: Não posso me esquecer que toquei naquelas compras, e assim preciso higienizar minhas mãos para não correr o risco de contaminar a torneira. Não podia me esquecer também da maçaneta da porta da cozinha. De dentro e de fora da porta!

A loucura continuou. Agora preciso limpar o balcão onde havia colocado as compras. Depois, pensei, preciso limpar minhas mãos novamente, afinal tinha tocado no balcão. Não! Não precisava, porque havia lavado as mãos com sabão. Sim, precisava, porque havia tocado nas sacolas para jogá-las no lixo. Então, vou lavar novamente as mãos.

Agora preciso deixar as frutas, verduras e legumes de molho um tempo suficiente para matar o danado do vírus que poderia estar ali. Onde está este cara? Na sola do sapato? Na sacola do mercado? Na embalagem do biscoito? Na casca da maçã? No troco que o caixa da padaria me deu? Na maçaneta do meu carro? No volante? Que maluquice!

Minha ansiedade e medo diminuíram após uns três meses de início da pandemia. Comecei a sair, ainda vigilante, ou seja, sem relaxar, para comprar algo, com máscara, mantendo distância das pessoas, coisa nem sempre possível num supermercado. Usando álcool em gel na entrada da loja, na saída, ao sentar no banco do meu carro. Seria bom se o álcool em gel limpasse uma mente ansiosa e a corrupção de líderes da nação, não é?

Certo dia, também lá pelo terceiro ou quarto mês da pandemia, meus netinhos vieram me visitar com a mãe, minha filha, e meu genro. Eu morria de saudades deles. Senti uma ambivalência. Que bom que eles vieram, e que preocupante eles terem vindo! Meu netinho mais novo, de 3 anos de idade, em certo momento correu para mim, para me abraçar, e eu corri dele com medo da contaminação, minha e dele. Ele chorou, foi para o colo da mãe que o acolheu e meu coração ficou partido. Vírus maldito que parte nosso coração e não só infecta nossos pulmões!

A ansiedade diminuiu mais, o medo de contaminação reduziu muito. Troquei uma ideias com colegas médicos. E recomecei a abraçar meus netinhos, todos com máscara ainda, mas, ufa!, um alívio, para mim e para eles. Afinal, estamos todos num mesmo barco. Somos frágeis. Não temos vida em nós mesmos de modo que possamos, como disse Jesus: “Tenho poder para dar a minha vida, e poder para tornar a tomá-la.” (João 10:18).

Ricos, pobres, pretos, brancos, religiosos, não-religiosos, todos estamos na mesma situação de fragilidade quanto à este vírus e tantas outras coisas. Vírus este que invadiu o planeta porque pessoas se contaminaram ao comerem animais proibidos por Deus como alimento, como descrito em Levíticos capítulo 11 na Bíblia, não sendo coisa só para judeus do Antigo Testamento. As leis de saúde descritas ali quanto à alimentação são para sempre. O exclusivo para os judeus eram as leis cerimoniais. Não o Decálogo (Êxodo 20), não as Leis da Saúde (Levítico 11).

Não se iludam. A pandemia do vírus corona pode passar, mas virão outras situações dolorosas para a humanidade. Isto não é pessimismo, é realismo. Um mundo onde a corrupção, a mentira (fake news), a fraude, o materialismo domina, não é democrático, não é justo, não evolui para o bem e não durará para sempre. O mal sempre destrói o mal. Mas hoje você pode escolher o bem e praticá-lo. Isto pode fazer diferença para um grupo de pessoas, mesmo que pequeno, sob sua influência. Pode diminuir sua ansiedade, culpa, medo de ser descoberto. E você poderá abraçar as pessoas com paz no coração. E com máscara. Ainda.

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