A importância do contato mãe-bebê para o futuro da criança

César Vasconcelos de Souza

Cesar Vasconcellos de Souza

Saúde Mental e Você

O psiquiatra César Vasconcellos assina a coluna Saúde Mental e Você, publicada às quintas, dedicada a apresentar esclarecimentos sobre determinadas questões da saúde psíquica e sua relação no convívio entre outro indivíduos.

quinta-feira, 04 de fevereiro de 2021

A infância é um tempo crucial para o desenvolvimento do cérebro. É vital que os bebês e seus pais sejam apoiados durante este tempo para promover o vínculo. Sem haver uma ligação inicial boa, as crianças são menos prováveis de crescerem para serem adultos felizes, independentes e resilientes. A etapa mais importante para o desenvolvimento do cérebro é o começo da vida, iniciando no ventre e então no primeiro ano de vida. Na idade de três anos, o cérebro de uma criança tem atingido quase 90% do tamanho adulto. Este rápido crescimento cerebral e de circuitos tem sido estimado numa espantosa taxa de 700 a 1.000 conexões de sinapses por segundo neste período da vida. Impressionante, não é? As experiências que o bebê tem com seus cuidadores são cruciais para a rede de neurônios e habilita milhões e milhões de novas conexões no cérebro para serem feitas. Interações e comunicações repetidas com as pessoas próximas ao bebê ajudam memórias e relacionamentos a se formarem. Se experiências positivas não ocorrem entre o bebê e seus pais, os circuitos cerebrais necessários para a vivência de experiências humanas normais podem ser perdidos. Isto é frequentemente referido como um princípio que diz “use-o ou perca-o”, no contexto do que estamos falando, significa: use o cérebro ou perca-o. Estudos de casos trágicos de crianças “selvagens” que sobreviveram com um mínimo de contato humano, ilustra a severa perda da linguagem e do desenvolvimento emocional na ausência de amor, linguagem e atenção. Do mesmo modo, ainda que bebês tenham uma profunda predisposição genética para unirem-se a um pai amoroso ou mãe amorosa, isto pode ser quebrado ou prejudicado se um pai, mãe ou outro cuidador do bebê for negligente, descuidado e inconsistente ou incoerente no lidar com a criança. Por exemplo, um dia a mãe abraça o bebê e o beija com carinho, e horas depois se irrita pelo cansaço e age com frieza com ele. Você faz isso com sua criança? Você descarrega suas frustrações com seu marido sobre seus filhos? Você grita ou bate nos seus filhos mais por causa da desavença com sua esposa do que por erros cometidos por eles? Se você faz isso mamãe, papai, é hora de parar com este abuso para não prejudicar o cérebro destas crianças e para não criar uma base psicológica ou emocional para doenças mentais no futuro. No artigo “Feridas que o tempo não cura. A neurobiologia do abuso na criança”, publicado na revista científica chamada “Cerebrum” no ano 2000, o cientista Teicher relatou as seguintes patologias ou doenças em crianças que sofreram negligência nos primeiros anos de vida: (1) Reduzido crescimento no hemisfério cerebral esquerdo o qual pode levar à aumento associado do risco de depressão. (2) Aumento da sensibilidade no sistema límbico o qual pode favorecer o surgimento de desordens de ansiedade. (3) Redução no crescimento do hipocampo que poderia contribuir para deficiências no aprendizado e na memória. Estes resultados foram confirmados por casos de extrema negligência e resultados de crianças vivendo em orfanatos na Romênia. O médico psiquiatra do Departamento de Psiquiatria da Criança e Adolescência da Universidade de Birmingham, de Londres, Inglaterra, Dr. Rutter e colaboradores, tiveram um artigo publicado em 1985 na revista inglesa de psiquiatria, The British Journal of Psychiatry, que é o resultado de estudos sobre o desenvolvimento de crianças de um orfanato na Romênia adotadas em idades diferentes por famílias amáveis. Quando cada criança tinha 6 anos de idade, os pesquisadores avaliaram que proporção das adotadas funcionavam normalmente. Eles encontraram que 69% das crianças adotadas antes dos seis meses de idade; 43% das adotadas entre sete meses e 2 anos de idade e somente 22% das adotadas entre 2 anos e 3 anos e meio de idade funcionavam normalmente. Este estudo destaca a importância do apoio dos pais para com os bebês nos cruciais primeiros anos de vida. Entretanto, os pais podem se preocupar com coisas que não são tão importantes para o desenvolvimento do cérebro de seus filhos, tais como dar a eles um quarto próprio, comprar muitos brinquedos e levá-los a passeios caros nos feriados. No lugar disto, o presente mais valioso para uma criança é grátis: é o amor, o tempo e o apoio dos pais. Isto não é um sentimento vazio, superficial, sem sentido. A ciência está agora mostrando o por que o cérebro do bebê precisa de amor mais do que qualquer outra coisa.

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