Há alguém ideal para você?

César Vasconcelos de Souza

Cesar Vasconcellos de Souza

Saúde Mental e Você

O psiquiatra César Vasconcellos assina a coluna Saúde Mental e Você, publicada às quintas, dedicada a apresentar esclarecimentos sobre determinadas questões da saúde psíquica e sua relação no convívio entre outro indivíduos.

quinta-feira, 27 de agosto de 2020

O “amor psicológico”, que defino como  “sensação de gostar” é um aspecto emocional, que é um dos componentes da capacidade de amar alguém. Mas a sensação não é o amor. A paixão não é o amor. A atração sexual também não é o amor. O desejo não é o amor. O amor do marido para com sua esposa e da esposa para com o marido envolve alguns destes aspectos, mas depende de algo mais.

Todo ser humano, após a queda espiritual em Adão e Eva, sofre. Sofre devido ao afastamento da relação direta e permanente com o criador. Ficou um “buraco” espiritual em nosso ser. Isso promoveu outras desgraças, em especial, a perturbação do relacionamento afetivo na educação de filhos. Resultado: nunca mais houve infância normal, nem crianças 100% normais. Todos, pretos, brancos, ricos, pobres, religiosos, não religiosos, temos carências afetivas. Uns mais, outros menos. Uns com consciência delas, outros sem.

Trazemos carências para a vida adulta e tentamos resolvê-las, na maioria das vezes inconscientemente, seja no trabalho, no casamento, no cuidado com os filhos, no namoro, em amizades etc. Alguns, não suportando a dor dessas carências, se drogam. E, importante dizer, a “droga” pode ser muita coisa além do álcool, cocaína, heroína, tranquilizantes, anfetaminas etc. Pode ser o trabalho, o sexo, a comida, a pornografia, a estética corporal, o consumismo, a ganância, e mesmo o “amor” como dependência afetiva e fissura por romance.

Na vida conjugal é comum haver desavenças porque cada um, marido e mulher, ao longo dos anos de convívio, pode não suportar o vazio interior do passado trazido para dentro do casamento, além de problemas atuais. Estes dois fatores (carências da infância e problemas afetivos do relacionamento atual) causam dor. Se juntarmos a isto a dor originada no “buraco” espiritual, pode ficar algo bem doloroso ou insuportável para alguns de nós.

Com isso, uma pessoa pode pensar em separação, em traição, pode ficar brigando o tempo todo no relacionamento conjugal sempre achando que é o outro o culpado de toda esta dor. Pode ter um ciúme doentio. Não consegue separar o que é sua dor, algo seu que o outro não tem nada que ver com isso, com o que é realmente fruto de problemas de casamento, solucionáveis ou não. Na verdade, esta separação entre o que é fruto de sofrimentos do passado na família de origem e o que é problema atual, não é fácil de ser percebida e identificada.

Quando um casal, diante de sofrimentos conjugais não enxerga que há uma diferença entre problemas pessoais e os próprios do casal, a tendência é sempre culpar o outro como o único responsável pela sua dor e atacar, se isolar, trair, separar sem buscar uma solução. Quando há o que chamo de “honestidade emocional”, que é a pessoa admitir que parte de sua dor pode ser mesmo algo pessoal e não culpa do cônjuge, existe possibilidade de melhora, de ajustamento, de felicidade, tanto internamente na pessoa (ela com ela mesmo), quanto externamente, ou seja, entre ela e o cônjuge. Se a pessoa racionaliza culpando só o outro como causador da sua dor emocional ela talvez terá um longo caminho para conseguir ser feliz e ter paz interior.

Há alguém ideal para mim? Há alguém que possa preencher toda a minha necessidade afetiva nessa vida? Você pode se casar com alguém que é ativo para trabalhar, que produz conforto material, segurança financeira, mas faltar manifestações afetivas diretas. Ou pode ter alguém que é afetivo, sensual, bom parceiro sexual, mas não provê segurança material etc.

Em algum momento da vida, para ser feliz, cada um precisa aprender a lidar com suas próprias limitações comportamentais. Precisa entender que é parcial, não é Deus, não pode ser tudo para o outro o tempo todo, não pode ter do outro tudo o que queria o tempo todo.

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O psiquiatra César Vasconcellos assina a coluna Saúde Mental e Você, publicada às quintas, dedicada a apresentar esclarecimentos sobre determinadas questões da saúde psíquica e sua relação no convívio entre outro indivíduos.

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