Desde que você se sinta bem ... está tudo certo!

César Vasconcelos de Souza

Cesar Vasconcellos de Souza

Saúde Mental e Você

O psiquiatra César Vasconcellos assina a coluna Saúde Mental e Você, publicada às quintas, dedicada a apresentar esclarecimentos sobre determinadas questões da saúde psíquica e sua relação no convívio entre outro indivíduos.

quinta-feira, 08 de julho de 2021

As filosofias pós-modernas defendem ideias estranhas para a vida útil, saudável, ética e de bom senso. Uma delas afirma que se você faz algo que o faz se sentir bem, então tudo bem, é válido. Mas está tudo bem mesmo? E a saúde? E os relacionamentos importantes que precisam ser preservados? E a conduta honesta? E o bem estar da comunidade? E o respeito pela propriedade privada? E a preservação da família?

O perigo desta postura na vida, de que é válido fazer tudo aquilo que faça você se sentir bem, é colocar o sentimento como padrão para se medir condutas saudáveis. Se você se sente bem cheirando cocaína, então está tudo certo, não importa se você torra todo o seu dinheiro e se arrebenta com a família. Se você se sente bem tendo uma ou um amante por fora do casamento, então está tudo certo, não tem problema seu cônjuge e filhos sofrerem ao saberem disso. Se você se sente bem recebendo vultuosas propinas em seu cargo político, então está tudo certo, não importa o povo sofrer. Se você se sente bem trabalhando exageradamente para aumentar sua fortuna e isto o priva de estar com sua família, então está tudo certo, mesmo errando com negligência para com seus filhos. Vê o absurdo desta ideologia do prazer baseado só no que uma pessoa sente?

Maturidade não é seguir os sentimentos sem uma avaliação racional do certo e do errado, do honesto e do desonesto, do verdadeiro e do enganoso, do construtivo e do destrutivo. Um fim bom não justifica um meio mau. Não estou dizendo que nunca devemos tomar esta ou aquela conduta baseado no que sentimos. Isto seria caminhar para o outro extremo de exagero.

Parece que está havendo um aumento do número de pessoas, especialmente jovens e adultos jovens seguindo uma vida baseada nos sentimentos e os resultados não são bons. Filhos frustram seus pais com condutas disfuncionais, aumento do alcoolismo e outras dependências químicas, gravidez indesejada, relacionamentos descartáveis, divórcio com suas dores difíceis de enfrentar, filhos sem base espiritual para enfrentarem as ideologias corruptoras de muitas escolas e universidades, aumento da corrupção generalizada, crimes, violência social, superficialidade do sentido da vida, materialismo,  e por aí vai.

Liberdade não é você fazer o que você sente. É fazer o que é saudável para o corpo, para a mente, para o espiritual e para o social. Invadir terras é doença social, assim como enriquecimento ilícito é patologia mental. A liberdade tem seu limite natural. O mar tem liberdade para jogar suas ondas sobre a praia. Mas e se ele sentisse desejo de avançar mais com suas ondas? Lembre o que ocorreu em algumas cidades com os tsunamis.

Há uma luta dentro de todos os seres humanos, que a filosofia séria chama de “angústia existencial”. De onde vem esta angústia? O que ela faz com a gente? O que fazemos com ela? Sören Kierkegaard, um dos filósofos que estudou a angústia humana, diz em seu livro “O Conceito de Angústia” que aquele que aprendeu a lidar corretamente com sua angústia, aprendeu o mais importante na vida. Você acredita nisso?

Muitas pessoas nem sabem o que é angústia. Negam tê-la e vivem praticando atitudes insalubres motivadas pela própria angústia que negam ter. Que loucura! Chamam de liberdade o que, na verdade, em seu comportamento é a tentativa de fugir desta angústia. A gente se torna aquilo que causa menos dor. Mas como isso é geralmente feito de forma inconsciente, podemos cair na ideologia pós-moderna que prega o conceito de “se sinto bem fazendo isso, então está tudo certo”. Quando, na verdade, isso que a pessoa se torna e que a faz se sentir bem, pode ser a doença, ou parte da doença não percebida e/ou não admitida.

Daí se segue um monte de ideologias doentias e seus defensores promovem um protocolo de normalidade do que é doentio. E querem enfiar pela garganta a dentro da sociedade que aquilo que é o sofrimento, passa a ser o normal, que o alterado ou o desviado é o correto e isto gera o que chamam de “orgulho sadio”. Fazem até paradas com milhares de pessoas, equivocadas, não honestas em suas reflexões consigo mesmas, fugitivas da verdade e da liberdade genuínas. Que mundo estamos!

Não será o correto dizer: desde que você se sinta bem e quer praticar o que é saudável do ponto de vista físico, emocional, espiritual e social, então está tudo bem?

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O psiquiatra César Vasconcellos assina a coluna Saúde Mental e Você, publicada às quintas, dedicada a apresentar esclarecimentos sobre determinadas questões da saúde psíquica e sua relação no convívio entre outro indivíduos.

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