Desafios no casamento

César Vasconcelos de Souza

Cesar Vasconcellos de Souza

Saúde Mental e Você

O psiquiatra César Vasconcellos assina a coluna Saúde Mental e Você, publicada às quintas, dedicada a apresentar esclarecimentos sobre determinadas questões da saúde psíquica e sua relação no convívio entre outro indivíduos.

quinta-feira, 26 de agosto de 2021

Viver uma vida à dois é um desafio. Em meu primeiro livro, “Casamento: o que é isso?”, que você pode adquirir no meu site www.doutorcesar.com, no primeiro capítulo defino o que é o casamento e destaco que trata-se de algo incompatível porque é uma união de duas pessoas diferentes. Gêneros diferentes, desejos diferentes, formas de pensar diferentes, visão da vida talvez diferente, religião diferente às vezes, ou maneira de viver a religião que pode ser bem diferente, um com lógica matemática e outro com ilógica, que não é falta de inteligência, um enxerga o detalhe e outro enxerga o global, um é racional e o outro é afetivo, um adora romance e o outro se sente incomodado com muito romance, um é sentimento e o outro razão, um veio de uma família onde todos se comunicam com frequência e o outro veio de uma família onde há rara comunicação, um adora sexo e o outro não, um quer parentes em casa com frequência e o outro detesta isso, um é impulsivo e o outro pensativo, um é arrumado e o outro é bagunçado, um é acelerado e o outro é lento, um gosta de praia e o outro de montanha, um fala demais e o outro é calado, um quer fazer as coisas sempre junto com o cônjuge e o outro não, um quer sexo todos os dias e ou outro uma vez ao mês está bom, um tem orgasmo rápido e o outro demora muito, isto tudo fora gostos para música, comida, filmes, local onde passar férias, que podem ser opostos entre os cônjuges. Com tanta diferença como é que pode dar certo?

Cada um leva para dentro do casamento problemas emocionais vividos durante a infância, que podem ser complicados ou não, mas que influenciam a vida dentro do casamento de forma inevitável. Por exemplo, um rapaz teve uma mãe autoritária e dominadora, é comum se casar com uma mulher também autoritária, e esta mulher pode ter vindo de uma infância em que seu pai pode ter sido passivo, daí ela vem a casar-se com um homem passivo a quem quer dominar. No fundo ela quer um homem "forte" que cuide dela, mas ela não deixa isto ocorrer porque parece que há uma necessidade inconsciente de repetir a história passada, ou seja, repetir o papel da mãe autoritária. O marido também pode ter necessidade de continuar num papel passivo aprendido no passado em sua família de origem, quando no fundo ele quer independência da mulher. 

Outro exemplo pode ser o de um indivíduo que viveu com pais superprotetores e entra no casamento com esta tendência de superproteger, o que esconde (muito ou pouco, de maneira disfarçada ou explicitamente) seu próprio desejo de ser superprotegido. Se esta pessoa obsessiva com proteção não receber a mesma carga de proteção do cônjuge para ela mesma ou para os filhos, possivelmente criticará este cônjuge por não superproteger. E dirá que o que quer não é superproteção, mas cuidado normal. Mas pode ser superproteção negada pela pessoa. Superproteção não é o mesmo que amor e nem é o mesmo que cuidar bem de alguém. Superproteção significa que a pessoa que superprotege não acredita que a pessoa alvo de sua proteção exagerada tem condições de lidar com o problema atual. Não acredita nas capacidades da outra pessoa.

Imagine uma esposa superprotetora vivendo com um marido que não superprotege. Ela poderá vê-lo como indiferente, frio, enquanto que o problema pode ser mais dela do que dele. Mas se ela não enxergar isto, vai surgir conflito.

No casamento se lida o tempo todo com fatores inconscientes. Impulsos inconscientes fluem e interferem na vida à dois. Se cada um não melhorar a consciência de si, e procurar entender como é que dificuldades emocionais vividas na família de origem durante a infância afetam o relacionamento atual, provavelmente o casamento não se tornará agradável e harmonioso.

A ansiedade excessiva no esposo ou na esposa perturba o relacionamento conjugal se não for administrada. Na verdade, é muito difícil separar onde termina o problema psicológico pessoal que se levou para dentro do relacionamento conjugal e onde começa o problema emocional do casal.

Gosto muito de um pensamento que diz: “Primeiro de tudo … olhe-se a si mesmo. Depois … olhe-se de novo.” Isto significa parar de ficar culpando o outro de sua infelicidade, para fazer algo a fim de melhorar seus problemas emocionais que você pode ter trazido para dentro do seu casamento. Na pior das hipóteses, você se sentirá melhor consigo mesmo, independentemente se seu cônjuge amadurece ou não. Paz interior, serenidade é algo muito pessoal.

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O psiquiatra César Vasconcellos assina a coluna Saúde Mental e Você, publicada às quintas, dedicada a apresentar esclarecimentos sobre determinadas questões da saúde psíquica e sua relação no convívio entre outro indivíduos.

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