Crise de pânico e inconsciente

César Vasconcelos de Souza

Cesar Vasconcellos de Souza

Saúde Mental e Você

O psiquiatra César Vasconcellos assina a coluna Saúde Mental e Você, publicada às quintas, dedicada a apresentar esclarecimentos sobre determinadas questões da saúde psíquica e sua relação no convívio entre outro indivíduos.

quinta-feira, 13 de fevereiro de 2020

Estudos mostram que muitas pessoas que apresentam ataques de pânico podem ter dificuldades quanto à separação de pessoas importantes na vida dela, problemas com o manejo da raiva e certa dificuldade de entender suas experiências emocionais pessoais. Os indivíduos que se submetem ao tratamento medicamentoso e psicoterápico na abordagem cognitivo-comportamental para o transtorno do pânico, podem ter recaídas nas crises, mesmo tendo feito uso de medicação por vários meses.

A compreensão mais profunda dos conflitos conscientes e inconscientes pode ajudar a diminuir as recaídas desde que a pessoa aprenda que conflitos são estes ligados às crises de pânico e desenvolva habilidade para administrar tais conflitos.

Nossa mente tem uma área inconsciente. No inconsciente estão gravados pensamentos, fantasias, sentimentos, experiências do passado. Nem sempre temos acesso ao que está em nosso inconsciente. Não temos capacidade de descobrir o que está ali, fora do alcance de nossa consciência, quando desejamos.

Conflitos emocionais que estão no inconsciente não são esclarecidos facilmente na hora que queremos. Uma das funções principais da psicoterapia de base analítica ou chamada “psicoterapia psicodinâmica” é ajudar a pessoa para que o que está na área inconsciente de sua mente, venha para a área consciente e, assim, ela possa compreender a origem dos conflitos que produzem ansiedade excessiva podendo levar às crises de pânico.

Quando temos sentimentos difíceis ou “perigosos” de lidar com eles de forma consciente, nossa mente joga tudo para de baixo do tapete, para o inconsciente. Por exemplo, uma pessoa teve um pai agressivo na infância, sentia raiva dele, tinha vontade de agredi-lo, o sentimento de raiva e o desejo de agredi-lo sendo considerados como perigosos para a manutenção do relacionamento com ele, foram deslocados para o inconsciente. Mas eles não ficaram lá quietinhos. Surgiu uma tensão mental porque eles querem vir para a consciência, mas a mente pode dizer “não”, e tentar manter tudo escondido de si mesmo. Esta tensão entre o material mental que quer vir para fora, para o consciente, e a defesa que quer mantê-lo dentro do inconsciente, produz a ansiedade. E o excesso de ansiedade pode se manifestar de modos diferentes. Um deles é através da crise de pânico.

Cientistas do comportamento admitem que há indivíduos mais susceptíveis a terem crises de pânico pela predisposição para a ansiedade associada a um temperamento medroso. Por causa desta ansiedade, algumas crianças com esta predisposição tendem a desenvolver uma dependência medrosa com outras pessoas. Nestas crianças o sentimento de que os pais estarão presentes o tempo todo provê para elas um senso de segurança. Mas sem este sentimento, a ansiedade aumenta e favorece o pânico.

É humilhante para a pessoa que se sente dependente de alguém para obter segurança. Afinal, ela se sente incapaz. Se o pai e a mãe estão indisponíveis para a criança seja pela rejeição, negligência ou por outras situações que impedem a presença constante deles, é possível que a criança sinta raiva do pai, da mãe, mas ela precisa esconder esta raiva porque depende dos pais para viver. O medo é ligado ao fato de que se ela expressar a raiva para o pai ou mãe, o que acontecerá? Será rejeitada, abandonada, levará uma surra? Diante desta dúvida e medo, o que ela pode fazer com esta raiva “perigosa”? Reprimir, jogar para o inconsciente, sendo algo meio automático, não pensado.

Então, surge um ciclo vicioso: a criança se sente insegura, ansiosa, sente que não vive sem estar com o pai ou mãe perto, se eles não estão disponíveis ela fica com medo e com raiva, tem medo da raiva porque pode ser rejeitada se a expressar, joga a raiva para o inconsciente, a raiva represada quer sair, a consciência moral não deixa sair, surge ansiedade, e pode vir o pânico mesmo muitos anos depois da infância, décadas adiante, quando a pessoa, agora adulta, pode viver uma situação na qual ela se sente, de novo, sozinha, dependente, insegura, sem uma figura de apoio perto, e vem a crise de pânico.

Qual a solução? Entre outras coisas, desenvolver autoconfiança, aprender a diminuir o forte apego que pode ter com algumas pessoas, perdoar pessoas do passado, perdoar a si mesmo, aguentar alguma ansiedade sem ficar concentrado nela e sem ficar “vigiando” sinais no corpo, vencer o medo de ser dominado pela raiva e expressá-la com equilíbrio.

 

 

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