A conexão entre religião e saúde

César Vasconcelos de Souza

Cesar Vasconcellos de Souza

Saúde Mental e Você

O psiquiatra César Vasconcellos assina a coluna Saúde Mental e Você, publicada às quintas, dedicada a apresentar esclarecimentos sobre determinadas questões da saúde psíquica e sua relação no convívio entre outro indivíduos.

quarta-feira, 29 de março de 2023

Cientistas têm verificado a importância da religião para nossa saúde. Apesar de vivermos numa sociedade materialista, uma minoria pensante da população sabe que saúde depende de coisas simples, alimentos simples não processados industrialmente, vida no campo, relações humanas éticas moralmente, sem competição, praticando espiritualidade ao exercer uma fé religiosa saudável.

Há alguns anos reuniu-se na Duke University, nos Estados Unidos, um grupo de 12 psiconeuroimunologistas, teólogos e médicos renomados, para uma revisão dos efeitos do estresse sobre o sistema imunológico e para ver como este conhecimento poderia informar-nos sobre a conexão religião-saúde. Já por 30 anos, centenas de estudos realizados em diferentes povos, revelam a existência da conexão entre envolvimentos religiosos, melhor saúde física e maior longevidade.

Naquela reunião, cientistas da Duke University sugeriram que há a possibilidade de que envolvimentos religiosos possam afetar positivamente a saúde física através de mecanismos neuroendócrinos e imunes. A fé religiosa produziria efeitos no sistema nervoso, em glândulas e no sistema imunológico humano. Bruce Rabin, da University of Pittsburgh, mostrou que crenças e atividades religiosas podem influenciar o sistema nervoso simpático, melhorando e aumentando seu funcionamento, ajudando, assim, a diminuir o estresse e melhorar a sociabilidade.

Ronald Herberman, da University of Pittsburgh Cancer Institute, um dos descobridores das células NK (natural killer cells ou células matadoras naturais) do sistema imune, fez uma revisão dos estudos que revelam as conexões entre estresse social e psicológico sobre a atividade das células NK, cujo estrese pode explicar como fatores psicosociais influenciam a suscetibilidade para o câncer e como afetam o seu desenvolvimento.

Na década de 70 não era raro ouvir-se falar de uma cirurgia chamada “vagotomia”, que é o corte cirúrgico de um nervo chamado “vago”. O cirurgião corta este nervo interrompendo a corrente dos estímulos nervosos dirigida aos órgãos por onde ele passa. É como se você cortasse o fio que vai da TV à tomada na parede. O que ocorre? A TV não liga. O nervo vago é chamado de “pneumogastroentérico”. Pneumo tem que ver com pulmões; gastro tem que ver com estômago e entérico com intestinos. Este nervo segue uma trajetória desde o cérebro, passando pelos pulmões, estômago e chegando aos intestinos.

Uma pessoa muito nervosa emocionalmente, estimula demais este nervo podendo ter reações desagradáveis nos pulmões, estômago e/ou intestinos. A vagotomia seria para melhorar ou tentar resolver tais reações físicas nestes órgãos, nas pessoas nervosas ou muito ansiosas. Mas será que resolve, se elas permanecem nervosas sem aprenderem a lidar com suas emoções que afetam estes órgãos?

Hoje sabe-se que a prática de princípios religiosos como o perdão, a compaixão, a fé, a esperança, entre outros, “acalmam” os nervos, por liberar hormônios como acetilcolina, endorfina, serotonina, produzindo relaxamento muscular, serenidade, melhorando a digestão e absorção de nutrientes, facilitando o sono reparador, aliviando dores físicas, corrigindo a hipertensão arterial e diminuindo a ansiedade.

As sugestões apresentadas pelos cientistas ligados ao estudo e pesquisa da interface religião-saúde, são de que “os esforços em medicina para tratar somente a doença biológica, não resultará em cura completa a menos que os outros aspectos do que ela (a doença) significa para o ser humano sejam também consideradas.” (The Link between Religion and Health – Psychoneuroimmunology and the Faith Factor, Harold G. Koenig, Harvey J. Cohen, Oxford University Press, p.9, 2002).

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