Aspectos emocionais da infertilidade

César Vasconcelos de Souza

Cesar Vasconcellos de Souza

Saúde Mental e Você

O psiquiatra César Vasconcellos assina a coluna Saúde Mental e Você, publicada às quintas, dedicada a apresentar esclarecimentos sobre determinadas questões da saúde psíquica e sua relação no convívio entre outro indivíduos.

quinta-feira, 12 de novembro de 2020

A infertilidade é causada por uma variedade de fatores. Dentre eles e do ponto de vista de alterações biológicas, estão a síndrome do ovário policístico, endometriose e homens com baixa quantidade de esperma. Porém, cientistas têm verificado a importância do fator emocional na dificuldade para engravidar.

Não é raro que um casal que tenta ter filhos por vários anos, ao decidir adotar uma criança, depois da adoção ocorre a gravidez. Isto possivelmente pode ser explicado pela diminuição do estresse após adotar uma criança, sendo que esta redução do estresse produz reações neuroendocrinológicas no casal. E temos que compreender que decidir ter um filho é algo sério, por envolver muita coisa na vida do pai e da mãe. Por isso é importante que o casal esteja em harmonia quanto a querer mesmo um filho. Se o marido ou a esposa não estão ainda decididos a ter uma criança, é melhor esperar o momento apropriado que é quando ambos queiram.

Muitas vezes a pressão para engravidar vem da pessoa que quer o filho. Neste caso, a mulher que quer engravidar pode se tornar muito estressada e tensa sobre isto, e este nervoso prejudica a concepção. Muita ansiedade prejudica a fisiologia. Quanto menos estressada a mulher ficar, quanto melhor conseguir crer que seu organismo funcionará bem, quanto mais confiar na natureza e no Deus da natureza, mais provável é que engravide, desde que sejam afastados diagnósticos clínicos que impedem a concepção.

Estudos verificaram que as mulheres inférteis tendem a ter uma personalidade mais dependente, são mais ansiosas do que as férteis e apresentam conflitos quanto à sua feminilidade e medo associado com a reprodução. Nos homens se têm verificado que existe uma relação entre estresse emocional e oligospermia ou presença de pouco esperma. A impotência produz estresse no homem o que contribui para a infertilidade também. Estudos sugerem que cerca de 10% da infertilidade pode ser parcial ou completamente explicadas devido à impotência, que é uma disfunção sexual masculina.

Já que a infertilidade é experimentada pelo casal com grande tensão emocional, a psicoterapia é indicada como parte do tratamento, a qual pode resultar na correção do que emocionalmente contribuía para a infertilidade ou pode ser usado para ajudar o casal e aceitar a perda e a impossibilidade de engravidar pela presença de doença física.

As mulheres em geral aceitam melhor o problema de infertilidade, enquanto que os homens tendem a ver isto como uma vergonha para sua masculinidade. Mas na verdade pode ocorrer com ambos uma série de sentimentos, além da ansiedade e medo, podendo ser culpa, frustração, inveja, vergonha, desesperança ou raiva.

Dois médicos ginecologistas e obstetras pesquisadores, Machelle Seibel e Melvin Taymor, do setor de Endocrinologia Reprodutiva do Hospital Beth Israel e da Faculdade de Medicina de Harvard, publicaram um trabalho científico com o título “Aspectos emocionais da infertilidade”, no qual comentam que de 40% a 50% dos casos de infertilidade podem ser relacionados com fatores emocionais. Alguns casais possuem traços de personalidade que favorecem a inabilidade para conceber. Por exemplo, casais inférteis têm uma postura mais ambivalente quanto a crianças, ou seja, têm uma mistura de emoções, quer e não quer, deseja e não deseja, gosta mas não gosta, sim e não.

A situação de um casal pode ficar tão tensa quanto à infertilidade, que ambos passam a ter muito estresse na hora das relações sexuais, porque na cabeça deles ao invés de existir um relax para “fazer amor”, surge uma tensão para ter que “fazer um bebê.” E esta tensão pode prejudicar a fisiologia da concepção. Por exemplo, o excesso de produção dos hormônios catecolaminas prejudica a atividade do óvulo fecundado na trompa. O estresse pode afetar os nervos do útero, das trompas e dos ovários prejudicando a ovulação, o transporte do ovo e a implantação dele no útero.

Uma equipe de cientistas liderados por SSC Yen (1978) descreveu que muitas pessoas com problemas numa região do cérebro chamada hipotálamo tiveram falta de ovulação crônica, e este problema surgiu após problemas psicossexuais e traumas ambientais ocorridos antes ou em torno da puberdade, ou início da adolescência.

Se você luta com problemas de infertilidade ou conhece alguém assim, cuja causa não parece ser física, está indicado a procurar aconselhamento profissional para corrigir possíveis problemas com relacionamento conjugal, dificuldades sexuais, ansiedade excessiva, estresse exagerado, estados depressivos.

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O psiquiatra César Vasconcellos assina a coluna Saúde Mental e Você, publicada às quintas, dedicada a apresentar esclarecimentos sobre determinadas questões da saúde psíquica e sua relação no convívio entre outro indivíduos.

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