Déjà vu

Paula Farsoun

Com a palavra...

Paula é uma jovem friburguense, advogada, escritora e apaixonada desde sempre pela arte de escrever e o mundo dos livros. Ama família, flores e café e tem um olhar otimista voltado para o ser humano e suas relações, prerrogativas e experiências.

sexta-feira, 20 de março de 2020

Quem imaginaria que estaríamos vivendo esses dias... Creio que nem o maior dos profetas imaginaria um planeta em quarentena para combater seres microscópicos que se multiplicam no invisível. Nem os principais roteiristas de Hollywood ousaram tanto em suas imaginações. Hoje, falaríamos sobre várias coisas, mas infelizmente não consigo projetar nada diferente que não seja a crise pela qual estamos passando em razão da endemia provocada pelo novo coronavírus, o Covid-19.

Parece que de repente ficamos sem assunto, ou cheios do mesmo. Noite dessas, inclusive, sonhei com isso. Sinal claro de que precisaria dar um jeito de me desconectar ainda que durante o sono, dessa loucura da vida real que estamos todos, o mundo inteiro, experienciando juntos. Sinto-me em uma guerra. Uma sensação estranha de quem nunca passou por isso, mas que sente como se estivesse revivendo momentos. Déjà vu. Essa sensação.

Parecemos perdidos, mas ao mesmo tempo sabemos que precisamos de um “kit sobrevivência”, tememos pelas perdas, sentimo-nos impotentes, quando não aprisionados dentro de uma situação. Pensamos no quanto de alimento temos, se a água será abundante, se os médicos e profissionais da saúde estão bem, se terá emprego para todos, como os entes queridos estão se virando. Se temos empatia, sofremos por aqueles que não tem nada e também por aqueles que nunca “quiseram nada com a hora do Brasil”, mas que agora sofrem.

Tudo é sofrimento quando estamos em guerra. Mas nessa, o inimigo declarado não fala, não ameaça com bombas, não persegue com armadilhas, não cria estratégias racionais e os soldados somos todos nós. Agora, o adversário é invisível, microscópico e do tamanho do mundo inteiro, afeta jovens, idosos, ricos, pobres, qualquer etnia, qualquer nacionalidade, qualquer conta bancária. Basta ser pessoa. Ser humano é o requisito principal para poder ser vítima. Não tem objetivo final e quando um perde, todos perdem. E quando um ganha, um sobrevive, um cura, os demais sete bilhões e setecentos milhões de pessoas comemoram.

O que estamos vivendo é tão surreal e complexo que sinceramente, faltam-me até palavras para descrever. Do pouco que sabemos, estamos certos de que aqueles que podem, devem se isolar, que devemos respeitar uns aos outros, sermos mais altruístas e responsáveis e utilizarmos das fórmulas conhecidas e recomendadas pelas autoridades competentes para minimizarmos os efeitos causados pelo inimigo potente da vez.

Enquanto isso, emano toda a energia boa que meu coração é capaz de produzir por toda a humanidade, pelos profissionais da saúde, pelas autoridades que tomam decisões, por todos nós. Não sejamos omissos, cegos, irresponsáveis. O isolamento social é necessário. Sei que não estamos acostumados. Somos um povo caloroso, que ama abraços, que fala com rosto colado, que encosta um no outro, que se beija e se ama intensamente. Queremos continuar vivos. É hora de nos voltarmos para o mundo e para dentro ao mesmo tempo. Vamos trabalhar pela cura, pelo pensamento do bem, pela paz de espírito, a força interior, porque precisaremos de força para ajudarmos uns aos outros. Está só começando. Essa “guerra” demanda esforço, disciplina, coragem, amor, renúncias. Sejamos responsáveis. Vamos passar dessa.

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Paula Farsoun

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Paula é uma jovem friburguense, advogada, escritora e apaixonada desde sempre pela arte de escrever e o mundo dos livros. Ama família, flores e café e tem um olhar otimista voltado para o ser humano e suas relações, prerrogativas e experiências.

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