Textos védicos, antiquíssimos e atuais

Tereza Malcher

Tereza Cristina Malcher Campitelli

Momentos Literários

Tereza Malcher é mestre em educação pela PUC-Rio, escritora de livros infantojuvenis, presidente da Academia Friburguense de Letras e ganhadora, em 2014, do Prêmio OFF Flip de Literatura.

segunda-feira, 27 de abril de 2020

Nestes tempos de pandemia, a literatura tomou conta dos momentos nossos de quietude, e, assim, tive a interessante experiência de voltar a ser ouvinte de histórias. Quando criança eu as escutava de minhas avós, como também nos discos, que me eram colocados em vitrolas antigas. Minha avó Minussa ou Minuça, até hoje não sei se o nome dela era escrito com ç ou ss, contava longas histórias em capítulos, todas as noites, às 20h, na época em que havia “blecaute” (as luzes da cidade do Rio de Janeiro eram desligadas). Eu me sentava com as pernas cruzadas e a escutava a perder o tempo.

Com a pandemia, um primo me indicou as histórias védicas, o Mahabharata, contadas em português. São mais de 300 capítulos. Coloquei o fone de ouvido e me pus a escutá-las. E, deste modo, comecei a conhecer a milenar Cultura Védica.

A literatura védica é a primeira do mundo, que foi manuscrita antes da civilização egípcia, grega ou mesopotâmica. Surpreendentemente atuais, seus escritos guardam todos os aspectos da vida, enquanto matemática, física quântica, medicina, arquitetura. As artes e o yoga. Os temas relativos à ciência e a espiritualidade estão contidos nestes manuscritos, como a teoria da relatividade, o cálculo da velocidade da luz, a idade da Terra, a lei do carma, os conceitos de alma e de consciência, a teoria da reencarnação. Dentre outros.

Cientistas, filósofos e estudiosos buscam nesta literatura a exatidão e a perfeição do conhecimento e do pensamento. A leitura dos Vedas expressa a busca da qualidade da consciência que existe em nós porque esses escritos têm a chave da sabedoria. Outras culturas, como a Maia, encontraram fundamentos nesta literatura.

Antes da escrita, os versos védicos eram transmitidos por tradição verbal e foram compilados há mais de cinco mil anos. O Mahabharata é um dos manuscritos, dentre outros que trazem a essência do conhecimento Vedas, escritos em Sânscrito, língua ancestral do Nepal e da Índia.

O Mahabharata contém a tradição, a beleza e as características da civilização védica, que guarda o conhecimento da natureza livre do ser humano, que respeita e valoriza da verdade absoluta, que preconiza a contribuição de cada pessoa para a sociedade e os padrões de comportamento pacíficos e não violentos. Essas histórias revelam a essência do sujeito, enquanto ser completo. Os Vedas propõem um estilo de vida que tem como propósito a maturidade emocional, enquanto resultado do crescimento físico e do cuidado para com a saúde, do domínio sobre si mesmo a partir do entendimento da própria mente, do desapego, do questionamento e do conhecimento puro para que a pessoa possa buscar seus objetivos na vida.

A cultura védica valoriza, enquanto busca pela maturidade emocional, a união entre duas pessoas, ou seja, o casamento, de modo que o prazer e a construção da família sejam preservados.

Escutá-las têm-me sido um aprendizado. Tenho a impressão de que, ao mergulhar na sabedoria milenar, vou começar a me preparar para a próxima vida.

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Tereza Malcher é mestre em educação pela PUC-Rio, escritora de livros infantojuvenis, presidente da Academia Friburguense de Letras e ganhadora, em 2014, do Prêmio OFF Flip de Literatura.

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