A literatura e o cinema

Tereza Malcher

Tereza Cristina Malcher Campitelli

Momentos Literários

Tereza Malcher é mestre em educação pela PUC-Rio, escritora de livros infantojuvenis, presidente da Academia Friburguense de Letras e ganhadora, em 2014, do Prêmio OFF Flip de Literatura.

segunda-feira, 17 de fevereiro de 2020

Na semana passada, a 29ª. cerimônia de entrega dos Academy Awards, o Oscar, produzida pela Academia de Artes e Ciências Cinematográficas, teve o esplendor de sempre. A noite de premiação dos melhores atores, técnicos e filmes de 2019 foi iluminada pelo desfile dos astros do cinema sobre o Tapete Vermelho, pelos shows e pela premiação das 24 categorias dos elementos que compuseram a produção dos filmes. O Oscar é um evento televisionado, que invade a madrugada, emocionante e único. 

Ao assisti-la fui tomada pela ideia de que a literatura é o ponto de partida de todo o processo de produção cinematográfica, que exige um trabalho de equipe competente, criativo e articulado. A imaginação do escritor tem o poder, quase mágico, do toque inicial. A vontade, decorrente do seu incômodo ou do seu encantamento, até mesmo da sensação de que a vida não lhe basta, o impele a transcrever suas emoções para textos em estilos literários diferentes. Os filmes baseados em fatos ou ficção, inclusive os documentários, estão fundamentados em roteiros (estilo literário próprio do cinema) originais ou adaptados. Os adaptados, por sua vez, são provenientes de obras, como dos contos, romances, ensaios, dentre outros.

O filme Coringa, cujo ator, Joaquim Phoenix, merecidamente premiado, conta a história de um dos maiores vilões fictícios, o Coringa. Este gênio do crime foi criado na década de quarenta por Jerry Robinson, Bill Finger e Bob Cane e compôs enredos de filmes, histórias em quadrinhos e livros. Ah, sem vilões não há tramas empolgantes!; eles tecem as mais incríveis armadilhas aos heróis, que, desafiados, reagem com bravura, oferecendo ao espectador um suspense espetacular. Joaquim Phoenix é o personagem de uma história de ficção pertencente a outras. 

Todos nós fomos criados rodeados por este estilo de literatura que nos permitiu assimilar as características dos seus heróis. Quem não se identificou com as atitudes de Batmam ou da Mulher Gato? Quem não passou uma tarde se divertindo como estes heróis incitados pelo Coringa? Qual a criança que não gosta de se fantasiar com suas roupas e máscaras? 

Hoje a literatura não é mais fechada em si mesmo, na medida em que suas fronteiras interagem com outras linguagens artísticas. Podemos apontar como causas relevantes o avanço da tecnologia que possibilita a visualização da escrita literária, bem como o mal-estar com as circunstâncias da vida. Ao mesmo tempo em que se precisa criar modos de sentir prazer, há a necessidade de avaliar os momentos históricos. Na medida em que a literatura faz críticas e cria utopias, o cinema corrobora dando imagem e movimento às obras literárias; ambas as linguagens acabam por se confundir através das artes cinematográficas, como nos figurinos, nos cenários, na sonoplastia, nos efeitos especiais. O cinema é a síntese das artes ao promover várias formas de visualização da criação humana.

A literatura dá asas ao cinema que, por sua vez, estabelece a conversa entre expressões artísticas diversas que vão se enriquecendo na medida em que se agregam e complementam-se.  

 

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Tereza Malcher é mestre em educação pela PUC-Rio, escritora de livros infantojuvenis, presidente da Academia Friburguense de Letras e ganhadora, em 2014, do Prêmio OFF Flip de Literatura.

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