O voto impresso é uma necessidade, num país de más intenções

Max Wolosker

Max Wolosker

Economia, saúde, política, turismo, cultura, futebol. Essa é a miscelânea da coluna semanal de Max Wolosker, médico e jornalista, sobre tudo e sobre todos, doa a quem doer.

quarta-feira, 28 de abril de 2021

Ganha força o projeto de, já nas próximas eleições, termos o voto impresso no momento da confirmação, na urna eletrônica. É preciso entender que a impressão de um papel não irá para a mão do eleitor, mas após aparecer na tela os candidatos escolhidos por ele, surgirá, também, o que será impresso. Após essa confirmação, esse impresso será depositado numa urna acoplada à eletrônica. Assim, caso um candidato levante qualquer suspeita quanto à contagem dos votos, eles poderão ser recontados, o que não acontece atualmente, pois se o chip da urna for adulterado, não será descoberto. O que vale é a totalização.

Esse assunto começou a ser ventilado desde que as urnas eletrônicas fizeram sua aparição entre nós, pois se hackers são capazes de se infiltrarem até no Pentágono, nos Estados Unidos, porque as urnas brasileiras estariam a salvo? Sem falar que os presidentes do STE (Supremo Tribunal Eleitoral) são oriundos do STF (Supremo Tribunal Federal) e, o atual não tem a confiança que deveria ter, da população brasileira. Para refrescar a memória de muitos, quando Dias Toffoli presidiu o STE, na eleição durante o seu mandato, mandou fechar as portas do local de apuração das urnas e o mesmo só foi reaberto para comunicar o resultado final das eleições. Aonde estava a transparência necessária para um acontecimento de tamanha envergadura?

Creio que a impressão dos votos é imprescindível nas próximas eleições, pois Jair Bolsonaro é candidato à reeleição e a oposição e a esquerda usarão de todos os meios, mesmo os ilícitos para tentar barrar um novo mandato do atual presidente. Haja vista, as manobras da segunda turma e do plenário daquela que já foi a mais alta corte do país, tornando Luís Inácio da Silva inocente e em condições de disputar as próximas eleições presidenciais. Com várias canetadas conseguiram denegrir e acabar com a maior operação de combate à corrupção, que foi a operação Lava-Jato. O mal, na política sempre triunfa, haja vista que o mesmo ocorreu com a operação Mãos Limpas, na Itália.

Seja na república velha seja na que se seguiu, manipulação ou tentativa de manipulação de votos sempre houve na política brasileira. Em 1982, nas primeiras eleições diretas aos governos dos estados, desde a intervenção militar de 1964, tivemos o famoso caso Proconsult em que Leonel de Moura Brizola quase perdeu as eleições por causa de um esquema fraudulento concebido por aquela empresa. O esquema da fraude deveria funcionar na etapa de totalização final dos votos, quando, em função de um cognominado ‘diferencial delta’, os programas instalados nos computadores da empresa Proconsult, contratada pelo Tribunal Regional Eleitoral do Rio para o serviço, subtrairiam uma determinada porcentagem de votos dados a Brizola transformando-os em votos nulos, ou promoveriam a transferência de sufrágios em branco para a conta do então candidato governista, Moreira Franco.

A falsificação na contagem foi descoberta graças ao trabalho da imprensa, sobretudo a partir do esquema de apuração paralela ao do TRE-RJ montado pela Rádio Jornal do Brasil – cuja cobertura daquelas eleições concorreu e levou larga vantagem sobre o aparato armado pelo conglomerado de mídia hegemônico no estado, as Organizações Globo. A Rádio JB pôde revelar em primeira mão a fraude que se armava, dada as discrepâncias entre os números que anunciava e os constantes nos boletins oficiais do TRE. A apuração foi interrompida e o esquema, descoberto, então desmontado às pressas.

O resultado final mostrou o que as ruas já haviam indicado durante a campanha: Leonel Brizola foi eleito com 1.709.180 votos (ou 34,2% dos votos válidos), Moreira Franco ficou com 1.530.706 (30,6%), Miro Teixeira com 1.073.446 (21,5%), Sandra Cavalcanti obteve 536.383 (10,7%) e Lysâneas Maciel contou 152.614 votos (3,1%). Como se pode notar, a diferença de Brizola para Moreira Franco foi de 3,6% dos votos, um percentual facilmente manipulável, se o esquema não tivesse sido descoberto.

Portanto, nas próximas eleições todo cuidado será precioso para que não paire nenhuma dúvida sobre a veracidade do resultado final, daí a necessidade do voto impresso. Essa seria uma maneira eficaz de dirimir dúvidas caso elas venham a existir. Como diz o ditado popular espanhol “Yo no creo em brujas, pero que las hay, las hay” (eu não creio em bruxas, mas que existem, existem).

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