In memoriam de minha mãe

Max Wolosker

Max Wolosker

Economia, saúde, política, turismo, cultura, futebol. Essa é a miscelânea da coluna semanal de Max Wolosker, médico e jornalista, sobre tudo e sobre todos, doa a quem doer.

quarta-feira, 02 de setembro de 2020

Mesmo sendo difícil escrever, em função da reconstrução de três tendões rompidos do meu braço direito, precisei fazer um esforço e deixar registrado o que me vai no coração. Na última quarta-feira, 26 de agosto, minha mãe partiu para sempre, e só nos reencontraremos, de novo, se realmente existir uma vida, numa outra dimensão. As lágrimas vão secando aos poucos, mas o aperto no coração, a certeza de não mais vê-la, no nosso dia a dia, ainda permanecerão por muito tempo e, só ele será capaz de aliviar, em parte, essa angústia.

É claro que aos 96 anos a saúde de todos é uma linha tênue que pode se romper a qualquer momento, principalmente, numa pessoa que há cerca de dois anos teve um enfarte que comprometeu 50% do coração. Mas, quanto a essa ruptura, a gente sempre finge que ela nunca será possível, pois nós, humanos, não estamos preparados para esse tipo de perda. Mas, aconteceu e ela se foi, deixando aquele vazio que já citei.

Na realidade, minha mãe foi uma vítima indireta da Covid-19, pois até o início de março, ela levava numa boa, sua vida pós-enfarte. Mesmo deixando de ser aquela mulher ativa, que até os 93 anos ainda frequentava aulas de artesanato e nos deixou trabalhos lindos, que estão espalhados na minha casa, na de minha irmã e de netos, sobrinhos e amigos.

No entanto, o confinamento que foi imposto às pessoas de risco, como era o seu caso, começou a minar o seu equilíbrio emocional e mesmo da percepção, pois na última semana de vida, ela já não reconhecia suas cuidadoras e mesmo a nós, seus filhos. Ela chegou a ter um surto psicótico, sendo obrigada a usar medicação específica, tamanha foi sua agitação e até a visão de bichos lhe saindo pelo corpo. Na sua mente, eram os corona vírus. Muito triste para quem a conhecia e assistiu essas crises.

Mas, nem tudo é lamentação, pois afinal ela viveu intensamente a vida e criou a mim e a minha irmã, dentro dos princípios da ética, da honestidade e do amor ao próximo, o que na realidade é um conceito religioso forte, mesmo que ela não fosse uma católica praticante. Minha irmã e eu tudo devemos a nossa mãe, que sempre esteve ao nosso lado nos bons e maus momentos e é por isso que a ficha vai demorar a cair, mas essa é a realidade das coisas e só nos cabe aceita-las.

Um agradecimento em meu nome e da minha irmã a Katia, Paula, Cristiane e Marli, suas cuidadoras que se desdobraram no dia a dia nos cuidados de que ela necessitava. E um agradecimento de coração também aos amigos, parentes e aos nossos filhos, em especial, que nos consolaram nesse momento tão difícil.

Minha mãe quis ser cremada em Nova Friburgo e sua vontade foi por nós cumprida. Fica aqui registrado também nossos agradecimentos à SAF e ao Crematório Luterano, pela atenção que nos foi dada.

Vá em paz D. Maria, que você seja recebida nos braços do Senhor e que continue a velar por nós lá do alto, onde mais uma estrela começou a brilhar, no firmamento.

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