A apavorante decisão de ser operado durante uma pandemia

Max Wolosker

Max Wolosker

Economia, saúde, política, turismo, cultura, futebol. Essa é a miscelânea da coluna semanal de Max Wolosker, médico e jornalista, sobre tudo e sobre todos, doa a quem doer.

quarta-feira, 15 de abril de 2020

Há quase dois meses sofri uma queda, na Via Expressa, praticamente no término da minha caminhada matutina. No final dessa via existe um triangulo pintado de branco, com pitocos amarelos nas bordas; vários estão arrancados, permanecendo apenas os parafusos no asfalto. Foi num deles que meu pé direito bateu, me desequilibrando e fui projetado para o outro lado da via só não chocando minha cabeça com o meio fio, pela hiperextensão do braço direito, o que a manteve elevada. Como consequência tive a ruptura de dois tendões do ombro, o infra e o supra espinhosos.

Quando esse tipo de acidente acontece, lamento que não tenha sido a genitora do prefeito de plantão na sede da prefeitura, que tenha tido o problema, pois nesse caso eles tomariam conhecimento (será?) do descaso que demonstram com os cidadãos desta cidade e o pouco caso com a qualidade de vida dos mesmos. Aliás, essa não foi minha primeira queda, em via pública. A outra há mais ou menos cinco anos, em plena governança de Rogério Cabral, foi em frente à entrada da residência da família Guinle, na Avenida Conselheiro Julius Arp, próximo ao Country Clube, em virtude da calçada estar em péssimo estado de conservação.

A queda atual se deu no governo de Renato Bravo, cuja administração, na minha opinião, deixa a desejar. Acho, inclusive, que ele foi eleito na confusão de nomes, pois existia um outro Renato, o Abi-Ramia, que também era candidato a prefeito. O eleitor friburguense optou pelo Renato errado.

A indicação para esse tipo de ocorrência é cirúrgica e, inclusive, já estou fazendo os exames pré-operatórios, mas confesso que estou muito preocupado, o que pode aumentar o risco que qualquer cirurgia trás no seu bojo. Estamos em plena crise na saúde coletiva, causada pela pandemia do Covid-19, o que levou os hospitais a limitarem as cirurgias eletivas, reservando os leitos hospitalares para os possíveis portadores da virose, cujo número de acometidos é exponencial e o número de doentes só tende a aumentar.

Como a fase três dessa doença requer internação em UTI (unidade de terapia intensiva), e Friburgo tem carência dessas vagas, os centros cirúrgicos, por contarem com respiradores artificiais, podem ser requisitados para aumentar a capacidade de atendimento aos pacientes que precisarem ser entubados.

Um outro fator que me preocupa é a imobilização dos movimentos das articulações do braço e cotovelo direito, entre quatro a seis semanas, o que resultará numa fisioterapia de no mínimo três meses, dado o tempo de inatividade dessas articulações. E o que é pior, seria a continuação da quarentena que já dura quase um mês. Teria que virar canhoto e depender da ajuda da minha mulher, em determinadas situações.

Outra coisa que me deixa muito preocupado é o fato de ter de frequentar o ambiente hospitalar, mesmo que seja por um dia apenas, na atual conjuntura. O consenso é o de só ir ao hospital, em não se tratando de um agravamento dos sintomas do Covid-19, em último caso, ou seja, numa urgência, principalmente, para as pessoas de risco, o que é o meu caso por ser hipertenso e ter 70 anos, completados no dia 7 de fevereiro.

Perdi algumas funções do braço direito, no que se refere à força, mas nada que me impeça de dirigir, escrever seja com a caneta ou no computador, nos movimentos; o que permanece mesmo é a dor, em determinados momentos, o que uma boa fisioterapia, talvez, possa minimizar. A sensação que tenho é a de que se ficar o bicho come, se correr o bicho pega, pois quanto mais tempo retardar a cirurgia, menor a possibilidade de êxito, pela retração natural do tendão. Não sei o que fazer, me sentindo como um cego no meio de um tiroteiro.

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