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A vitória de um Botafogo Monumental!
Vinicius Gastin
Esportes
Pobre da Libertadores, que nunca teve o Botafogo até então. Pobre do futebol se não existisse essa Estrela Solitária. Talvez o Brasil não fosse o país do futebol. Talvez o futebol fosse apenas mais um detalhe de nosso país, e não a maior das metáforas da vida. A maior das paixões de milhões. Das coisas menos importantes, a mais fundamental para quatro milhões de escolhidos. Aquela que mexe.
Aquela que desloca mais de 45 mil botafoguenses, das mais variadas partes do mundo, até Buenos Aires. Com a fé de quem, há três anos, não teria motivo nenhum para acreditar. O que fez o Botafogo sobreviver até os investimentos de John Textor? A resposta estava nas arquibancadas do Monumental de Nuñez. Explicar o que é ser Glorioso para o botafoguense é desnecessário. Para todos os outros, completamente impossível. Coisa de Alma(da).
Foi uma invasão de sentimento. Tensos pela responsabilidade do favoritismo. Pressionados por representarem diversas gerações de alvinegros que não tiveram a oportunidade de viver esse momento. Único para o neto que ouvia do avô sobre o Botafogo de Garrincha e Nilton Santos, e até então não havia vivido esses encantos.
Em todos os cantos, o preto e o branco na histórica casa do River. Mas o alvinegro de General - Nuñez - Severiano tomou conta de forma Monumental, inédita e épica. Como jamais visto. Como seriam aqueles 112 minutos de futebol. Que não existiram nos primeiros 40 segundos, quando o ótimo Gregore se candidatou a vilão.
Com um a menos em campo, mas com milhares a mais fora dele. Organizado e inteligente, o Botafogo reviveu a magia da camisa 7. De um menino que joga - muito - futebol. Alegre e debochado. Um verdadeiro mané, como fora Mané outrora. O número místico não pesa para Luiz Henrique. Muito menos a 13, que para Alex Telles, é responsabilidade. De pegar a bola, cobrar o pênalti e fazer o inimaginável: colocar 2 a 0 de frente na etapa inicial.
Seria normal segurar a vantagem construída por uns 20 minutos no segundo tempo. Mas não seria Botafogo. A gloriosa história sempre foi dramática, e neste capítulo, há o parágrafo para o gol de Vargas. Ainda havia tempo pela frente até o apito final, talvez comparado ao que se demora para ler uma Bíblia. E agora?
Agora passava todos os filmes na cabeça do botafoguense, porém nunca sem duvidar do final feliz. Os olhares se dividiam entre campo e relógio, entre a bola e o céu, entre os gritos e as orações. Elas foram determinantes para as duas chances perdidas por Vargas. Para as defesas de John. Para fazer do contestado Vitinho, um monstro, e de Artur Jorge um hábil ao escolher o escolhido para ser um dos heróis da conquista.
Ele, Júnior Santos, que iniciou a caminhada na Libertadores, foi a campo para colocar ponto final em umas das mais insanas histórias do futebol mundial. Que começou na Pré Libertadores, passou por uma fase de grupos instável, pela guerra do Allianz, a batalha do Morumbi e o espetáculo no Nilton Santos.
Até a final, foram 30 dias que pareceram 130 anos. O exato tempo de vida de um dos clubes mais importantes do mundo. Que a Libertadores ainda não tinha, mas agora tem. De forma como nunca vista. Épica, insana, arrebatadora. Para misturar lágrimas e sorrisos, abraços e gritos que pareciam libertar um povo inteiro de todas as correntes de um passado recente sombrio. E assim foi.
O futebol paga sua dívida a um de seus maiores expoentes. Premia o amor, a fidelidade e a devoção daqueles que foram escolhidos para carregar a Estrela Solitária no peito. O verdadeiro Botafogo de Futebol e Regatas renasce. Conquista a América. Liberta a sua gente, que não apenas torce, mas vive o seu existir.
Uma data para sempre. Para quem sempre acreditou e nunca desistiu. Para quem resistiu e está liberto. No livro aberto da vida, o Glorioso é drama, superstição e suspense. Literatura e poema. Único como o dia 30 de novembro de 2024, eterno como o Botafogo de Futebol e Regatas.
Vinicius Gastin
Esportes
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