Desmatamento nos impacta aos poucos

Lucas Barros

Além das Montanhas

Jovem, advogado criminal, Chevalier na Ordem DeMolay e apaixonado por Nova Friburgo. Além das Montanhas vem para mostrar que nossa cidade não está numa redoma e que somos afetados por tudo a nossa volta.

quinta-feira, 25 de agosto de 2022

Hoje, o Brasil derruba mais árvores do que consegue plantar. Não é uma suposição, nem um ‘achismo’, é um fato. O desmatamento na última década arrasou mais de um milhão de hectares de florestas em todo o país, e menos de 70 mil hectares foram devidamente restaurados até hoje.

Agronegócio expansivo, garimpo ilegal, grileiros e extração de madeira irregular apesar de serem os maiores responsáveis por essas grandes tragédias que vem ocorrendo nos últimos 20 anos, não são os maiores beneficiários. Empresas com sede nas grandes cidades, multinacionais e contrabandistas não precisam adentrar as matas para causar estragos.

Para termos ideia, o desmatamento na Amazônia em 2021 foi o pior em dez anos, é o que afirma o Instituto do Homem e Meio Ambiente da Amazônia. Os dados apontam que houve um crescimento da devastação em 29% em relação a 2020. E afinal, o que isso muda na minha vida?

Prejuízo nacional

Ainda que as grandes matas estejam a quilômetros de distância da gente, a situação é mais delicada do que parece e para isso, precisamos olhar com calma para a nossa volta e analisarmos de um ponto de vista apolítico.

Um estudo da FAO, afirma que o desmatamento na Amazônia deve gerar um prejuízo de mais de US$ 1 bilhão por ano para a agricultura brasileira pelas próximas três décadas. Certamente, consigo ver muitos leitores se questionando: “Não devastamos parte das florestas para plantar? Como pode haver prejuízo?”.

A questão é mais delicada do que imaginamos. À exemplo, a nossa bela região: possuímos um índice de chuvas bem alto no verão – até demais.  Mas você sabia que grande parte das chuvas que banham a nossa cidade não são de água evaporada daqui? Pois bem, é verdade...

Atualmente, pesquisas indicam que ao menos 30% das chuvas na região Sul e Sudeste vêm através do que chamamos de “rios voadores”, que são responsáveis diretos para que não precisemos racionar água. Mais que isso, pela viabilidade até da produção de hortaliças e flores na nossa cidade.

Como cerca de 20% da reserva de água doce do planeta está na Amazônia, que possui um clima quente, grande parte da evaporação de água é levada por esses canais aéreos, que formam as correntes de nuvens que passam pelos céus de todo país. E o volume de água transportada por lá é gigantesco.

São cerca de 20 trilhões – não, você não leu errado - de litros de água por dia, mandados para atmosfera e “distribuídos” por todo país. É muita chuva. Para se ter ideia, em situações não comuns, o “rompimento” (a instabilidade atmosférica) em um desses canais, pode ser responsável por chuvas como as que causaram inúmeros estragos em Petrópolis em fevereiro e março deste ano e da tragédia climática de 2011 na Região Serrana. Estamos falando de “canais” responsáveis pelo reabastecimento de 60% da população brasileira.

Os rios voadores tem perdido quantidade de água e consequentemente afetam as chuvas. E não é difícil notar que ano após ano chove menos e o calor bate recordes. Com menos árvores, menos água é “transpirada” para atmosfera e como consequência, menos chuva, que gera seca, crise, aumento no preço dos alimentos. Não é uma matemática difícil de ser feita.

Já é rotina. No inverno, ano após ano, as contas de luz sobem de forma alarmente por conta de que? “Dos baixos níveis de água nos reservatórios”. O mesmo vale para o fornecimento de água, que nos últimos anos, grandes e pequenas cidades têm que racionar – cai água um dia sim e outro não.

E acima de tudo, ainda que devastemos para incentivar a pecuária e ao plantio de soja no país, que são economicamente importantes e ajudam a abaixar os preços – ou deveriam – no país, é preciso lembrar que sem água não temos pecuária e nem plantações. Plantações essas, que são uma das grandes responsáveis pela renda da nossa cidade, que é uma exportadora de legumes, verduras e hortaliças para todo estado.

Hoje, plantar árvores e recuperar florestas, além de ser uma das soluções mais simples e baratas para combater o aquecimento global, podem trazer outro benefício: a geração e a manutenção de empregos. Publicado recentemente na revista científica People and Nature essa iniciativa poderia gerar 2,5 milhões de empregos, só no Brasil, até 2030.

De acordo, com o levantamento feito pela pesquisa, com 350 empresas responsáveis pelo reflorestamento no Brasil, o país empregou 8.200 pessoas para o reflorestamento de uma área de 19 mil hectares. Mesmo sem investimentos, o país hoje consegue gerar até um emprego para a cada dois hectares (área equivalente a dois campos de futebol).

Em longas escalas, seria o suficiente para reduzir em quase 25% a atual taxa de desemprego no país (10,1 milhões de pessoas, segundo o IBGE). O desmatamento desenfreado influencia na vida, desde a conta de luz, passando pelo sustento do agricultor em Campo do Coelho e chegando aos preço dos alimentos. Desmatamento é assunto Além das Montanhas.

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Jovem, advogado criminal, Chevalier na Ordem DeMolay e apaixonado por Nova Friburgo. Além das Montanhas vem para mostrar que nossa cidade não está numa redoma e que somos afetados por tudo a nossa volta.

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