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Ética e sagrada escritura
A Voz da Diocese
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Buscando trazer uma palavra de paz e evangelização para a população de Nova Friburgo.
No mês dedicado à Sagrada Escritura, a Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB) por meio da Comissão Bíblico-Catequética e o Serviço de Animação Bíblica propõe à Igreja no Brasil o estudo do Livro do Deuteronômio, apontando como lema a passagem bíblica que diz “Abre a tua mão para o teu irmão” (Dt 15, 11). Com tal lema, e diante da crise ético/moral em que vivemos no cenário pessoal, político e familiar, podemos refletir de modo abundante sobre como apontar caminhos de saída da dita crise marcada, sobretudo, pelo indiferentismo.
O texto do livreto do Serviço de Animação Bíblica esclarece o seguinte: “Apesar da centralidade do culto e da confirmação de que Israel é um povo eleito e santo, as exigências apresentadas (no Deuteronômio) não se restringem à relação entre Deus e o povo; pelo contrário, a eleição e a fidelidade à aliança se expressam na convivência humana, comunitária, fraterna, no estabelecer leis humanitárias e numa atenção especial às pessoas mais vulneráveis: o pobre, o órfão, a viúva, o estrangeiro (Dt 12 – 26)”. Portanto, o Deuteronômio não é somente um livro que sintetiza o que é fundamental para a fé do povo de Deus, mas também traz consigo um ethos, uma lei moral que visa estabelecer relações éticas entre os membros do povo, leis que humanizam.
Pode parecer que, por ser um livro escrito em um contexto de fé na categoria da revelação, ele não contenha uma reflexão ética pautada na razão tal como a ética no decorrer de 26 séculos de pensamento filosófico, desde a Grécia antiga até os tempos atuais. Mas se engana quem pensa assim, pois a fé no Deus de Israel não visava levar o povo a atitudes contrárias ao que é próprio do ser humano. Para tanto, devemos compreender o que é o ser humano e entendermos quais são as atitudes próprias de uma pessoa humana. Ou seja, sem uma adequada antropologia não poderá haver uma adequada reflexão ética e consequente conduta ética.
Recentemente, muitas reflexões têm surgido em torno do conceito de pessoa. O que é pessoa? Resumindo, pessoa tem a ver com relação. É um ser capaz de se relacionar. E muito mais, se não está aberta à relação com os semelhantes, não vem a tornar-se pessoa no sentido mais pleno da palavra. O ser humano foi criado para a relação e nunca chegará a ser plenamente ele mesmo se não se abrir ao que mais o edifica: a bondade. O ser humano bondoso é a mais plena realização do que vem a ser pessoa, pois a bondade quebra o indiferentismo, abre espaço generoso para a escuta, a caridade, a esmola e todo tipo de saída de si mesmo, jurando de morte o egoísmo.
No versículo 7 do capítulo 15 do livro em questão, lemos: “Se houver entre os teus um pobre, um irmão teu (...) não endureças o coração nem feches a mão ao teu irmão pobre”. Aqui está explicitada a fé do povo de Deus e a subsequente conduta moral: porque Deus é bom para com o povo, os membros do povo devem ser bons uns com os outros. A memória da bondade de Deus, do que ocorreu na história, serve de apoio reflexivo para a conduta do povo. Leia o que se segue: “Não defraudarás o direito do migrante e do órfão, nem tomarás como penhor roupas da viúva; recorda que foste escravo no Egito, e de lá o Senhor teu Deus te resgatou; por isso eu hoje te ordeno cumprir esta lei” (Dt 24, 17-18).
Aqui está delineado um caminho a ser seguido sem medo e que desembocou numa reflexão ímpar na boca de Jesus, tornando-se a regra de ouro da ética cristã: “O que vós desejais que os outros vos façam, fazei-o também vós a eles” (Lc 6, 31). O que antes era justificado apenas na revelação, em Jesus torna-se lei justificada também pela razão, pois Deus se fez humano sem deixar de se revelar divino. Não mais cumprir a lei somente porque Deus agiu com bondade para com o povo. Também isto.
Mas a reflexão cresce e humaniza-se sem deixar de ser divina; e aquilo que era transcendente, sem o deixar de ser, torna-se imanente sem se adulterar, pois a suprema regra se encontra no amor ao próximo, como Cristo, feito homem, nos amou. Deste modo, podemos elencar várias leis de amor: Seja bom pois você também deseja a bondade; seja pacífico, pois você também deseja a paz; seja prudente em relação às palavras, pois você não deseja ouvir grosserias. Eis um caminho que pode solapar o indiferentismo.
Padre Celso Henrique Macedo Diniz é vigário paroquial da Catedral Diocesana São João Batista. Esta coluna é publicada às terças-feiras.
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