O trânsito em Friburgo se tornou insano

Max Wolosker

Max Wolosker

Economia, saúde, política, turismo, cultura, futebol. Essa é a miscelânea da coluna semanal de Max Wolosker, médico e jornalista, sobre tudo e sobre todos, doa a quem doer.

terça-feira, 26 de março de 2024

Vários fatores explicam esse fenômeno, não se podendo afirmar ser um mais importante que o outro ou outros. É claro que o aumento do material rodante associado a uma malha viária que pouco evoluiu, contribui em muito com essa insanidade. Além do mais, o aumento constante do número de motocicletas, que também se enquadra no material rodante, é outro fator a aumentar o caos nosso de cada dia.

Não sei se a má educação no trânsito espelha o grau aumentado da nossa falta de educação geral, o que para mim é uma constatação, mas, creio ser a argamassa para essa insanidade. E, como a maioria dos nossos motoristas são crias das auto-escolas, essas têm um papel importante na balbúrdia em que se transformou rodar pelas ruas e avenidas da cidade. Aliás, isso não é só aqui, pois o que vemos por aí, pelo menos nas principais cidades do Estado do Rio, é uma loucura.

Fazendo parte de uma coletividade, nós motoristas deveríamos atentar para certos hábitos que precisam ser ensinados e corrigidos nas auto-escolas. Por exemplo, freio é um coadjuvante nos equipamentos que compõem um automóvel, mas, hoje em dia, tornou-se um pesadelo para quem está atrás de outro veículo. Não importa qual a situação, maquinalmente coloca-se o pé no freio. Muitas vezes, o simples tirar o pé do acelerador é suficiente para reduzir a velocidade do carro, principalmente, dentro das cidades onde a velocidade máxima não deveria ser superior a 60 km por hora.

Engavetamentos muitas vezes ocorrem, por que, de repente, o condutor da frente, sem a menor necessidade pisa no freio e provoca uma reação em cadeia. E aí surge um outro problema que é o de não se respeitar uma distância mínima entre dois carros. Na baixa velocidade há tempo para se remediar o inevitável, mas acima dos 60 km por hora uma batida é quase inevitável. E, o que é pior, muitas vezes um motorista precavido deixa um espaço seguro a sua frente, que logo será preenchido por um apressadinho. Quem tem pressa, na hora do rush, que saia bem mais cedo de casa.

Outro problema sério é quando o motorista, próximo a uma esquina resolve parar para decidir que caminho seguir, com esse simples ato pode desencadear batidas em série, causar engarrafamentos, prejudicar a travessia dos pedestres. Esquece o princípio básico de que o direito de uma pessoa termina quando começa o de outrem. Além de infringir um conceito básico das leis de trânsito que é parar na via pública, a não ser em caso de pane.

Aliás, conhecimento das leis de trânsito é um outro tópico que deveria ser ensinado nas auto-escolas. Circular em baixa velocidade na faixa da esquerda, não respeitar os sinais de trânsito e as faixas de pedestres, andar na contra mão, ultrapassar pela direita, desrespeitar o sinal vermelho, trocar de faixa repentinamente e sem sinalizar e, o que é mais grave, sem observar com atenção se a pista do lado está livre, não respeitar as setas. Se um condutor sinaliza que vai dobrar à direita ou à esquerda, quem está atrás ou a uma certa distância, ao lado, ao invés de acelerar, deveria deixar a passagem livre. Todos esses tópicos fazem parte das leis do trânsito e teriam de ser aplicadas no dia a dia.

A falta de uma boa conduta por parte dos motoristas é flagrante, principalmente entre os motoqueiros, motivo maior da insanidade geral. Virou hábito circular, em alta velocidade, pelos corredores, para escapar dos engarrafamentos, não respeitar setas de sinalização, circular em alta velocidade, ultrapassar entre o meio fio e o automóvel, seja na esquerda ou na direita, fazer ultrapassagens perigosas, tirando fino de carros, caminhões e ônibus. Esquecem que a lataria de uma moto é o corpo do próprio condutor e que o automóvel é o veículo a ser respeitado e não o contrário. São maiores, mais pesados e existem em maior número.

A falta de um poder público eficiente e competente, também contribui para esse caos geral. Não se tem, em Friburgo, um sistema de transporte público eficiente, o que obriga muitas vezes o uso do carro desnecessariamente. Uma pessoa que saia da Cascatinha ou do Cônego para ir à Olaria, para resolver problemas simples como ir ao banco, a um médico ou dentista, ou fazer compras em farmácias, sapatarias ou lojas de roupas, ou vai a pé ou de carro, pois o ônibus custa a passar. Desses bairros citados, para o centro da cidade é o mesmo problema. Não existe um horário certo para a passagem dos coletivos e muitas vezes eles são insuficientes. A desculpa é de que circulam vazios, mas o fazem justamente pela falta de credibilidade que acarretam.

O poder público também pouco faz, a não ser assistir de camarote, para tentar solucionar o grande engarrafamento que tomou conta da cidade. O Paissandu é o maior exemplo, pois está ali desde que foram abertos os bairros de Olaria, Parque São Clemente, Cônego e Cascatinha e nunca existiu um projeto para resolver aquele nó. O que é pior, tal fato se agrava de ano para ano. Moro em Friburgo há 47 anos, no início, sem via expressa levava-se dez minutos para se deslocar do Cônego ao Centro. Hoje, com via expressa, é, no mínimo meia hora. E a distância é a mesma. Sem falar na Avenida Roberto Silveira, que liga Duas Pedras até Conselheiro Paulino e é passagem obrigatória para quem se dirige para cidades vizinhas, como Bom jardim, Cordeiro, Cantagalo e o norte do estado.

 Educação no trânsito e governos competentes, talvez, sejam a nossa salvação. Mas, atualmente é querer demais.

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