As vilas operárias de Nova Friburgo

quinta-feira, 07 de maio de 2020

Cidade operária, cidade corporativa ou vila operária são localidades onde as habitações são de propriedade de uma empresa que fornece residências aos seus trabalhadores para permitir que morem em um ambiente salubre e próximo ao local de trabalho. Foi um conceito que surgiu na década de 1980 do século 19, entre as grandes indústrias.

Um dos primeiros exemplos de vila operária foi nos Estados Unidos empreendida pela empresa Pullman, fabricante de vagões de trem, nos subúrbios de Chicago. A cidade era inteiramente de propriedade da Pullman Company, que disponibilizava habitações, mercados, biblioteca, escolas, igreja e entretenimento para os seus funcionários e dependentes. Outro exemplo de cidade operária é a multinacional francesa fabricante de pneus Michelin. Ela instalou no ano de 1889, em Clermont-Ferrand o seu parque industrial. Além de moradia para acomodar os seus funcionários oferecia escola, creche e um parque esportivo.

Já no Brasil, a primeira vila operária foi do empresário Luís Tarquínio, fundador da Companhia Empório Industrial do Norte, na década de 1890, na cidade de Salvador-BA. A Revolução Industrial implicou em um surto de migração para as grandes metrópoles industriais, acarretando o êxodo rural. Havia a necessidade de que essas populações operárias, geralmente provenientes de outras regiões fossem acomodadas próximas ao local de trabalho, na ausência de meios de transporte.

As miseráveis condições de vida dos trabalhadores passam a preocupar governos e industriais, que associavam a ideia de produtividade à sua condição de vida. A construção de residências salubres para os operários era uma forma de garantir o seu bem-estar. Para alguns historiadores, as fábricas com vila operária estabeleciam relações de dominação para manter o funcionário disciplinado, como por exemplo, longe do vício da bebida alcoólica.

As vilas operárias representavam, à época, uma solução para o problema habitacional da classe proletária e, ao mesmo tempo, uma forma de imobilização dos trabalhadores. Antes da chegada dos industriais alemães no início do século 20, Nova Friburgo era tão somente uma cidade de veraneio. O município terá um crescimento urbano bem acelerado em função da instalação de indústrias têxteis por empresários alemães, a partir do segundo decênio do século 20.

Em razão disso, ocorreu uma imigração massiva dos habitantes de municípios vizinhos em busca de novos empregos nessas fábricas. O distrito agrícola de Amparo ficou esvaziado e os filhos dos produtores rurais trocaram a lavoura pelo emprego na fábrica. Peter Julius Ferdinand Arp foi o primeiro a instalar no ano de 1911, a Fábrica de Rendas Arp, estimulando e sendo sócio de outras indústrias têxteis que viriam se estabelecer em Nova Friburgo.

Um ano depois, Maximilianus Falck iniciou as atividades da Fábrica Ypu em um galpão em seu sítio às margens do Rio Santo Antônio. A Fábrica de Filó foi a terceira a se instalar, no ano de 1925, por Carl Ernst Otto Siems juntamente com o seu pai. As indústrias Rendas Arp, Ypu e Filó construíram vilas operárias para abrigar os funcionários da empresa.

A vila operária da Fábrica de Rendas Arp, a Vila Arp é a única que foi totalmente extinta. No local onde foi a Vila Arp encontra-se atualmente o condomínio Vila das Flores bem como o estacionamento do supermercado Bramil. Localizei à margem da Via Expressa uma residência que preserva praticamente todo o estilo de uma antiga casa da Vila Arp. No entanto, as residências próximas e que compunham a mesma vila foram modificadas em sua estrutura e fachada.

Verificando as casas da vila operária da Fábrica Ypu constatei que estão em excelente estado de conservação e possivelmente ocupada por antigos funcionários. Entre as três indústrias, a Fábrica de Filó é a única que ainda funciona e pertence atualmente ao grupo Rosset. A vila operária dessa indústria foi a que mais se expandiu pelas proximidades da empresa, com um “correr de casas” geminadas ou não de variadas formas de construção e estilo.

Algumas dessas residências vêm sendo demolidas, apesar de o Ministério Público garantir que uma quantidade delas serão mantidas para assegurar a memória da Vila Operária. Uma particularidade interessante. No passado, os proprietários e executivos das indústrias residiam bem próximos à elas ou até mesmo dentro das instalações da fábrica. Julius Arp residia em frente a sua empresa, a Rendas Arp.

O grande executivo alemão Emil Cleff, que salvou a Fábrica Ypu da falência na primeira década de sua implantação residia dentro de suas instalações. Otto Siems e alguns de seus executivos moravam igualmente dentro da área da Fábrica de Filó.

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    A vila operária da Fábrica de Filó foi a que mais se expandiu pelas proximidades da empresa

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    Década de 1950. Residências da extinta Vila Arp, em Olaria (Acervo: Wander Fernandes)

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    Emil Cleff executivo da Fábrica Ypu residia dentro de suas instalações

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