Estragos pelas chuvas poderiam ter sido minimizados, revela especialista

Lucas Barros

Além das Montanhas

Jovem, advogado criminal, Chevalier na Ordem DeMolay e apaixonado por Nova Friburgo. Além das Montanhas vem para mostrar que nossa cidade não está numa redoma e que somos afetados por tudo a nossa volta.

sexta-feira, 29 de março de 2024

Com o fim das chuvas de verão, cidades do Estado do Rio de Janeiro, como Petrópolis, Teresópolis, Cachoeiras de Macacu e Nova Friburgo registraram alagamentos, deslizamentos e formação de crateras em rodovias por causa do aumento do volume de água registrado nesses locais desde o último fim de semana. Eventos desse tipo são recorrentes nas estações chuvosas no país, especialmente na nossa região, que é extremamente acidentada e recebe um volume alto de precipitação. Entre 2021 e 2022, ocorreram recentes tragédias na Bahia e em Minas Gerais, nos trazendo as tristes lembranças de um amargo passado não tão distante nos pensamentos.

Desastres pelo Brasil

Segundo documento publicado em 2022 pelo Ministério do Desenvolvimento Regional junto com outros órgãos e instituições, o Brasil teve de 1991 a 2020 cerca de 63 mil ocorrências de desastres em quase todos os seus municípios (5.568), causados por chuvas intensas, estiagens, vendavais, erosões, ondas de frio, entre outros.

Os desastres são classificados dessa forma quando registram perdas humanas, materiais, econômicas ou ambientais por causa de um evento natural, segundo o documento. Em quase 30 anos, os 63 mil desastres registrados no Brasil resultaram, em diversos impactos que mudam e muito a vida de gente como a gente.

Nestes últimos 30 anos, o documento nos revela importantes números. Em número aproximados, 4.307* mortes (há contradições*),  7,8 milhões de pessoas desabrigadas e desalojadas, três milhões de habitações destruídas ou danificadas, R$ 18,3 bilhões em prejuízos ao ano para pagar os danos materiais.

Desastres desse tipo ocorrem há décadas no Brasil, principalmente na época das chuvas de verão, por causa de problemas crônicos ligados à falta de planejamento urbano, habitação, saneamento e infraestrutura criados no momento da formação das cidades do país, além da falta de políticas de prevenção e do crescente desmatamento.

Chuvas em 2024 e estragos pela cidade

No último fim de semana, o anúncio das intensas chuvas em todo o estado nos fez reviver o estranho e preocupante sentimento de medo gerado pelas tragédias que ocorreram em 2011. Apesar dos 13 anos passados daquela fatídica madrugada do dia 12 de janeiro, a ferida não foi cicatrizada.

Felizmente, o volume de chuva na nossa cidade foi menor do que o esperado, o que diminuiu os danos na nossa cidade. Apesar disso, não saímos ileso do que parecia ser mais um fim de semana preocupante na vida de quem vive nas áreas de risco de desabamento e de alagamento.

Na tarde da última terça-feira, 26, o tráfego foi interrompido em diversos locais da cidade. Próximo ao Hospital Unimed, na Chácara do Paraíso, a queda de uma árvore. Em Macaé de Cima, duas barreiras interditaram o trânsito e dificultaram o acesso de moradores à região.

Além disso, outros seis pequenos deslizamentos: um na RJ-142 (entre Lumiar e São Pedro da Serra), em Mury, na estrada de Boa Esperança, no Cônego, Cascatinha e Granja do Céu. Felizmente, não houve a ocorrência maiores desastres ou mortes. E caso a chuva que tivesse caído em nossa região fosse a prevista, em volume maior, a situação seria mais grave?

O especialista fala

Tragédias com deslizamentos de terra, árvores e inundações podem ser prevenidas e até evitadas em regiões como a nossa, é o que explica o consultor ambiental de instituições internacionais, biólogo, professor universitário e diretor da empresa H2C Gestão ambiental, Geraldo Eysink.

“O que todas as cidades têm em comum é a falta de planejamento para prevenção de desastres naturais. Atualmente, existem tecnologias capazes de sobrevoar uma determinada região e escanear toda a área. Todas as construções e a vegetação são retiradas digitalmente, reproduzindo a topografia do local – com uma precisão de 3cm - para o estudo dos relevos e prevenções de tragédias.”, explica o biólogo.

Geraldo também falou nos prejuízos econômicos, tanto por causa das perdas materiais causadas pelos desastres quanto pela paralisação da atividade econômica. “As chuvas de verão são inevitáveis. Quando se soma a isso a falta de investimento e de uma política de prevenção, viram tragédias anunciadas”, disse.

Apesar de serem consideradas cada vez mais importantes no contexto da mudança climática, as políticas de prevenção de desastres naturais recebem pouco investimento dos gestores públicos, apesar de serem economicamente mais viáveis ao município. Afinal, o que é melhor: prevenir ou remediar?

Publicidade
TAGS:

Lucas Barros

Além das Montanhas

Jovem, advogado criminal, Chevalier na Ordem DeMolay e apaixonado por Nova Friburgo. Além das Montanhas vem para mostrar que nossa cidade não está numa redoma e que somos afetados por tudo a nossa volta.

A Direção do Jornal A Voz da Serra não é solidária, não se responsabiliza e nem endossa os conceitos e opiniões emitidas por seus colunistas em seções ou artigos assinados.