Estacionar de carro hoje no Centro de Nova Friburgo é questão de sorte: ponto para quem conseguir encontrar uma vaga entre tantos espaços demarcados - e normalmente já ocupados - por motocicletas, carros de aplicativo, táxis, idosos, caminhões de carga, veículos de serviço, hotéis e até trailers de comida. Sem contar as caçambas de entulho.
Aos poucos, mais e mais vagas de estacionamento vão desaparecendo. O que seria uma tendência moderna, mundial, aqui tem um agravante: na contramão de cidades mais sustentáveis, Friburgo está longe de oferecer um sistema de transporte coletivo exemplar, e muito menos uma rede eficiente de ciclovias que facilite a vida sem automóvel.
Para piorar o cenário urbano, à medida em que vagas somem, mais e mais casarões antigos, que antes compunham o patrimônio ambiental de nossa cidade, vão sendo derrubados para dar lugar a estacionamentos privados.
Na prática, as vagas de automóveis são suprimidas não para abrir espaço a pedestres e ciclistas, estimulando assim alternativas de deslocamento mais saudáveis e menos poluentes, mas para comportar o aumento expressivo de um outro tipo de veículo que passou a infernizar o trânsito friburguense com suas manobras arriscadas, escapamentos barulhentos e um rastro de infrações: as motocicletas (acima, na Rua Dante Laginestra)
Desde o início da pandemia, em março de 2020, Friburgo ganhou 563 motos registradas, segundo as estatísticas do Detran-RJ. Parece pouco, mas o número equivale a mais de uma moto nestes 420 dias.
O caso mais curioso de privilégios no estacionamento permitido é de um ponto central da Avenida Alberto Braune, que concentra pelo menos quatro farmácias (duas quase lado a lado, outra na calçada em frente e a última dentro de uma galeria). Ali, a única vaga exclusiva para farmácia que existia até poucos meses atrás foi abolida; em seu lugar, a prefeitura demarcou um espaço exclusivo onde cabem pelo menos seis motos, além de uma parada de carros de aplicativo.
Pouco adiante, uma das maiores agências bancárias da Alberto Braune (acima) agora tem, bem na frente, oito vagas de curta duração - outra novidade que vem se espalhando pelas ruas de Friburgo.
A maioria das farmácias, por sinal, se queixa da substituição gradual de vagas exclusivas por vagas de curta duração, que atendem a todo tipo de comércio, independentemente de sua essencialidade. A Secretaria Municipal de Ordem e Mobilidade Urbana (Smomu) alega que vagas exclusivas para estabelecimentos comerciais são ilegais, e por isso estão sendo substituídas.
A proliferação de vagas de curta duração mudou completamente a configuração de estacionamento em algumas ruas. Na Dante Laginestra, por exemplo, no trecho de menos de 50 metros entre a Comte Bittencourt e a Eugênio Muller, há hoje uma vaga reservada para um órgão público, três para um hotel e, agora, nada menos do que cinco para paradas de curta duração.
A Smomu informou que, de janeiro a maio deste ano, foram criadas 40 vagas de curta duração, distribuídas pelo Centro, por Olaria e por Conselheiro Paulino. Nesse período também foram criadas seis vagas para motos em Olaria, segundo o órgão.
Mesmo beneficiadas por mais vagas exclusivas, as motos param onde bem entendem, ocupando os poucos espaços que sobram para automóveis comuns (acima, na Rua Farinha Filho). A Smomu admite que não existe punição para motos que estacionem fora de suas vagas. O mesmo, porém, não se aplica a outros veículos que param nas vagas de motos: estes são multados.
Segundo a prefeitura, a implantação do estacionamento rotativo em Nova Friburgo depende da aprovação do Plano de Mobilidade Urbana, que ainda está sendo alinhavado.
Deixe o seu comentário