UBS Cordoeira: um total desperdício do dinheiro público

Com obra parada, equipamentos, materiais e insumos se deterioram em prédio sem telhado
quinta-feira, 05 de março de 2020
por Fernando Moreira (fernando@avozdaserra.com.br)

Você, leitor, se for reformar o telhado da sua casa, deixaria móveis e equipamentos nos cômodos sem nenhuma proteção? Certamente não. Mas é assim que foi feito na obra de reforma e ampliação da Unidade Básica de Saúde (UBS) Ariosto Bento de Mello, no Cordoeira. O que A VOZ DA SERRA flagrou nesta quinta-feira, 5, no posto de saúde do bairro é um exemplo claro de desperdício de dinheiro público e descaso com a população.

Segundo moradores do bairro que não quiseram se identificar, a obra foi paralisada em meados de julho de 2019, há cerca de oito meses. A intervenção, orçada em R$ 266 mil, e que conta com verbas do Fundo Nacional de Saúde e da Prefeitura de Nova Friburgo, havia sido iniciada em março pela empresa WW Casemirense Incorporações, e deveria ter sido concluída em novembro do mesmo ano. O que não aconteceu e, pelo que tudo indica, ainda está longe de acontecer.

“Isso é o maior absurdo que já vi na minha vida. O único problema aqui eram algumas goteiras, aí resolveram reformar o posto todo. Mas o que era para melhorar, piorou. Nosso posto está completamente destruído, abandonado. A gente tinha tudo aqui. É lamentável. E se continuar desse jeito, está arriscado até esse prédio cair. A Defesa Civil deveria verificar isso”, desabafou um morador, que não quis ser identificado.

Mas a obra parada não foi o maior problema encontrado por A VOZ DA SERRA. Como o canteiro de obras não está devidamente fechado, qualquer pessoa pode entrar no local. Do lado de dentro, um lamentável retrato do abandono. Como o antigo telhado foi retirado para a reforma, a laje ficou desprotegida e todos os cômodos estão repletos de infiltrações e goteiras. A água pinga sem parar do teto, que está completamente úmido e mofado.

O mais impressionante é que materiais que compõem a estrutura do posto não foram retirados para o início das obras. E com o abandono dos trabalhos, dezenas de equipamentos, insumos, materiais e itens - que poderiam estar sendo utilizados em outras unidades de saúde do município, ou pelo menos preservadas para quando as obras forem finalizadas – estão completamente abandonados e, literalmente, sendo sucateados pela ação do tempo.

Encontramos ainda centenas de fichas e prontuários dos pacientes atendidos na unidade. Parte desse material já foi perdido por conta da umidade. Também há dezenas de talões para declaração de comparecimento, atestado de saúde e receituário médico ainda embalados, que nunca foram utilizados e poderiam estar servindo a outras unidades de saúde do município.

Além disso, também flagramos equipamentos caros abandonados no local, como cadeira odontológica, maca ginecológica, bicicleta ergométrica, compressores, balanças, ventiladores, freezer, geladeira, fogão, microondas, botijões de gás, estetoscópios, bebedouros, mesas, cadeiras, longarinas, armários, estantes e muito mais. Tudo à mercê da umidade, se deteriorando com o tempo.

“O que tem ali dentro (do posto de saúde) é o que sobrou. Já levaram muita coisa. É triste ver que o dinheiro que pagamos em impostos está sendo desperdiçado dessa maneira. Já estamos cansados de tanto descaso. A obra parou em julho e nunca mais veio ninguém aqui. Estamos abandonados”, disse outra moradora, que também não quis ser identificada.

A parte “nova” da obra também está em péssimas condições. Pisos, azulejos e blindex estão sofrendo com a ação do tempo e talvez tenham que ser substituídos. Há mato brotando do encanamento, o que sugere que a instalação hidráulica também já necessita de reparos.  

Cabe ressaltar que ao lado da UBS fica o Posto de Saúde da Família (PSF), este funcionando plenamente, apesar do espaço acanhado. Inclusive, no momento em que estivemos no local, uma clínica-geral atendia na unidade, que antes encaminhava os pacientes para diversas especialidades no posto ao lado, como pediatria, ginecologia, cardiologia, fisioterapia, entre outras. Mas sem a UBS, as pessoas precisam se deslocar até a Policlínica Sylvio Henrique Braune, no Suspiro, a cerca de três quilômetros, para receberem este tipo de atendimento.

O que diz a prefeitura

Questionada por A VOZ DA SERRA sobre os motivos da paralisação da obra, quando ela seria retomada e se os equipamentos, materiais e insumos seriam retirados do espaço a fim de que fossem preservados, a Prefeitura de Nova Friburgo, apesar da gravidade das denúncias, se limitou a dizer que “já realizou todos os trâmites burocráticos e está em negociação com a empresa para marcar a data do reinício das obras”.

 

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TAGS: saúde | Cordoeira