O Sistema Único de Saúde (SUS) desembolsou R$ 449 milhões apenas em 2024 para custear atendimentos a vítimas de acidentes de trânsito no Brasil, segundo dados do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea) com base no Datasus. O valor inclui desde atendimentos de emergência até longos processos de reabilitação, além do fornecimento de órteses e próteses.
Sem os recursos do DPVAT, o SUS arca sozinho as despesas hospitalares, pressionando ainda mais um sistema já sobrecarregado
Para se ter uma dimensão, esse montante seria suficiente para comprar 1.320 ambulâncias do Serviço de Atendimento Móvel de Urgência (Samu), quase quatro vezes mais do que o previsto no Novo PAC Saúde, que pretende adquirir apenas 350 unidades. As novas ambulâncias poderiam ampliar a cobertura do serviço de urgência para cerca de 22 milhões de brasileiros, enquanto as 350 previstas atenderão somente 5,8 milhões de pessoas.
Além do impacto direto nas contas públicas, o SUS enfrenta outro desafio: desde 2021, deixou de receber cerca de R$ 580 milhões por ano provenientes do seguro obrigatório DPVAT (Danos Pessoais por Veículos Automotores de Via Terrestre). Até a sua extinção, 45% da arrecadação anual do seguro era destinada ao custeio de atendimentos médico-hospitalares de vítimas de acidentes em todo o país.
Fim do DPVAT agravou o déficit
O DPVAT foi suspenso em 2021 pelo Conselho Nacional de Seguros Privados (CNSP), sob a justificativa de reduzir fraudes e custos de fiscalização do sistema. Para substituí-lo, o governo federal chegou a propor o DPVAT (Seguro Obrigatório para Proteção de Vítimas de Acidentes de Trânsito), mas voltou atrás diante da pressão de governadores e parlamentares contrários à criação de um novo encargo obrigatório para motoristas.
Entre 2011 e 2020, o SUS recebeu mais de R$ 5,8 bilhões de repasses do DPVAT, com valores que chegaram a ultrapassar R$ 1,3 bilhão em 2014.
Crescimento constante de gastos
Os custos hospitalares com vítimas de acidentes de trânsito vêm crescendo de forma contínua nos últimos 27 anos. Em 1998, o SUS desembolsou R$ 301,7 milhões para internações decorrentes de sinistros em vias públicas. Em 2024, o valor subiu para R$ 449,8 milhões, um aumento real de 49%.
O maior salto foi registrado entre 2008 e 2009, quando as despesas saltaram de R$ 280 milhões para R$ 386 milhões em apenas um ano. Mesmo durante a pandemia da Covid-19, quando houve redução no tráfego de veículos, os gastos permaneceram altos.
Prevenção poderia reduzir tragédia e custos
Especialistas da Organização Pan-Americana da Saúde (Opas) defendem que a prevenção é a forma mais eficaz de conter a escalada dos custos e salvar vidas. O uso correto de capacetes, por exemplo, reduz em até 72% o risco de traumatismo grave e em 39% a probabilidade de morte em acidentes com motocicletas. No entanto, a fiscalização e a aplicação de penalidades efetivas, como a suspensão da CNH, têm sido cada vez menos rigorosas.
A OPAS estima que os acidentes de trânsito custam entre 1% e 3% do Produto Interno Bruto (PIB) dos países da América Latina. No caso do Brasil, isso significa um impacto entre R$ 117 bilhões e R$ 351 bilhões anuais, considerando o PIB de R$ 11,7 trilhões em 2024.
Além dos atendimentos hospitalares, os custos com órteses, próteses e reabilitação prolongada pesam no orçamento. Sem os recursos do DPVAT, o SUS precisa arcar sozinho com essas despesas, pressionando ainda mais um sistema já sobrecarregado.
(Fonte: G1)
Deixe o seu comentário