Todo dia a passageira X., que pediu paranão ser identificada, faz tudo sempre igual e precisa correr muito desde às 6h da manhã para, uma hora depois, embarcar no ônibus em direção ao trabalho. Este é o cotidiano da moradora de Furnas do Catete, no distrito de Conselheiro Paulino, que desde a semana passada, quando voltou a trabalhar presencialmente, precisa se deslocar cerca de 15 quilômetros até o Vale dos Pinheiros.
Ao voltar a trabalhar normalmente, X. se deparou com cenas lamentavelmente comuns e já noticiadas por A VOZ DA SERRA desde o início da pandemia, em que ônibus lotados - o que configura aglomeração, proibida por decreto municipal - provocam sérios riscos à saúde dos friburguenses.
Segundo a passageira, a linha que liga Furnas ao Centro de Nova Friburgo opera com poucos horários disponíveis durante o dia. Ela observa ainda que há constantes atrasos, o que acarreta uma série de transtornos aos usuários. “Sempre tive que sair de casa duas horas antes para conseguir chegar no trabalho, porque os horários não batem. Ou seja, se pego às 9h no trabalho, tenho que sair de casa às 7h. O trajeto de ida para o centro chega a demorar cerca de duas horas e o de volta três horas, entre espera e viagem (mesmo por conta da pandemia) Continuo saindo cedo, mas a preocupação aumentou. Antes, na saída do trabalho, eu pegava o ônibus do Vale dos Pinheiros às 17h35, para pegar o de Furnas às 18h05, na Estação Livre e chegava em casa por volta das 19h30. Ontem eu saí do trabalho às 16h para pegar o Furnas de 17h05, pois se eu pegasse o Vale dos Pinheiros de 17h35, já teria perdido o ônibus para casa”, explicou a passageira, que chegou em casa às 18h50.
De acordo com o site da Nova Faol, que opera com horários flexibilizados, partindo de Furnas até a Estação livre são apenas cinco horários e saindo do Centro para Furnas são oito horários. Chama a atenção o hiato de 05h45 em que não há qualquer horário de ônibus para a localidade, das 10h às 15h45.
De acordo com X., a falta de horários disponíveis na grade gera aglomeração no ônibus que registra fluxo intenso de passageiros de outras cinco localidades. “Além das duas linhas que utilizo estarem com horários reduzidos, a de Furnas é a única para 5 bairros (Furnas, Belmonte, Bairro Novo, Parque das Flores e Alto do Catete). Isso sem falar que o pessoal de Conselheiro e Prado também utilizam. Todas as linhas para Conselheiro Paulino estão circulando superlotadas tanto no período da manhã quanto no período da tarde.”, ressaltou.
O que diz a Faol
Segundo informou o diretor da empresa, Paulo Valente, os atrasos nos últimos dias das linhas se deve às obras realizadas pela Rota 116 de manutenção do asfalto das Avenidas Comte Bittencourt e Galdino do Valle.
Com relação aos horários para Furnas, o diretor informou que a empresa dimensiona as operações de acordo com o decreto municipal 625, dentro das limitações que a Nova Faol tem por conta da queda violenta de receita e falta de apoio da prefeitura. “Não é verdade que Furnas está com superlotação. Nos horários de pico, manhã e a tarde, como são poucos os horários, há mais passageiros. Há a preocupação da empresa para não ter lotação e amenizar o problema” que justificou também o aumento da circulação de idosos, com o fim da restrição da gratuidade. No entanto, para este item, X. afirma que o perfil dos passageiros, na maior parte, é de trabalhadores de idade menos que 60 anos.
Ainda de acordo com o diretor, outro fator que atrapalha o planejamento é o sistema de bandeiras adotado pela prefeitura. “A gente nunca sabe como deve operar em cada bandeira e a cada semana muda a cor. Tenho falado com representante da câmara, MP e município para marcarmos um debate com a sociedade civil e empresarial e ver o que pode ser feito para amenizar os efeitos da pandemia.”
Mas, de acordo com o decreto, independentemente da bandeira, entre 5h e 21h, a circulação do transporte coletivo público municipal deverá ser executada na integralidade de veículos, horários e itinerários. Nos demais horários, a frota de veículos ficará restrita a 30% por itinerário.
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