“Hospital Raul Sertã sem médico na emergência hoje! Nem na emergência comum nem na ala do Covid. Pessoas com sintomas da doença precisam voltar para casa pois não têm quem as atenda. Alguém pode explicar?”
Essa postagem foi uma das primeiras coisas que o colunista Massimo leu na manhã desta quarta-feira, 2, e naturalmente se tornou alvo de apuração, como ele descreve em sua coluna.
E sim, de fato o déficit de médicos nos quadros do nosso principal hospital chegou a este ponto, e não é preciso refletir muito para compreender que a ausência de cada novo profissional que deixa as fileiras sobrecarrega aqueles que ainda permanecem, aumentando a pressão para que outros também deixem o hospital, num perigoso círculo vicioso.
Espaço aberto
A autora da postagem pergunta se alguém pode explicar a situação, e a coluna também gostaria de ouvir e dar voz a todos os lados.
Existem diversos profissionais da Saúde internados na cidade, lutando pelas próprias vidas após terem sido infectados pelo novo coronavírus. Não é difícil imaginar que o Raul Sertã tenha se tornado, neste momento, um ambiente de trabalho desafiador, para dizer o mínimo. E que muitos profissionais venham sofrendo pressões até mesmo familiares para que trabalhem em outras unidades.
Negligentes
A situação evidentemente não teria se tornado tão séria se tantas gestões não tivessem sido negligentes no que se refere à realização de um amplo concurso público para a Saúde, por mais que seja fácil identificar focos de resistência (inclusive interna) motivados por interesses contrários a este tipo de estabilidade, da mesma forma como há quem não queira nem ouvir falar em informatização do sistema.
Mas ora, numa gestão séria quais interesses devem prevalecer? Os do lobismo ou os da coletividade?, pergunta o colunista.
Quem sempre paga
Ninguém aqui está dizendo que é fácil, mas simplesmente não dá mais para empurrar para debaixo do tapete.
E mais: esse tipo de precariedade, que há tanto tempo se tornou regra do RH da Saúde, está neste momento cobrando um preço altíssimo.
Temos várias pessoas com sintomas flagrantes de Covid que simplesmente não estão recebendo tratamento algum, ou estão demorando demais para serem atendidas.
Naturalmente, isso ocorre entre as pessoas mais desassistidas, e gente, falando sem rodeios, essa é uma situação inaceitável.
Informações úteis
De imediato, a coluna pode informar que grande parte da triagem tem sido realizada nos postos de saúde, e procurá-los é a recomendação para quem estiver experimentando sintomas compatíveis com a Covid.
No Raul Sertã, pacientes com suspeita invariavelmente serão direcionados para a ala de Covid, certamente um ambiente mais perigoso (e sobrecarregado) do que aquele encontrado nos postos.
Importante também ter em mente que a testagem é sujeita a protocolos, e só é realizada dentro de uma janela específica de tempo durante a evolução do contágio.
Mas...
Ocorre que nos postos de saúde o déficit de profissionais também se faz notar.
No Suspiro, por exemplo, está faltando clínico nesta semana, pois um profissional está afastado para campanha, dois estão afastados por idade e comorbidade, e um está com suspeita de Covid.
São Geraldo está com apenas uma médica, pois um está de licença e outro está afastado para o pleito eleitoral.
Segue
No Cordoeira também há um médico afastado por suspeita de Covid, e na ESF Xingu um médico está afastado por atestado.
A coluna também pode confirmar que está faltando testes rápidos nos centros de triagem. Ao que consta está sendo aguardada liberação por parte do estado, ainda que nestas unidades o atendimento esteja aparentemente normalizado, com médicos de segunda a sexta feira, das 8h às 17h.
Parênteses
Cá entre nós, parece haver algo errado em nossa sociedade quando, em meio a uma pandemia, temos tantos médicos afastados por motivos eleitorais, não?
Desafio enorme
O fato é que a Secretaria de Saúde tem um espinhoso abacaxi para descascar, e precisa tratar de descascá-lo rápido, num cenário para lá de desfavorável.
O Raul Sertã precisa estancar essa sangria de profissionais, e dar um jeito legal e aceitável de reforçar seus quadros em caráter imediato, enquanto o concurso não vem.
Quanto à população, já passou da hora de levar o problema mais a sério e demonstrar algum respeito por quem já não tem mais forças para se manter na linha de frente, em meio a tanto descaso e tanta alienação.
Se houver algo que a coluna possa fazer para ajudar, o espaço está aberto.
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