Professores e pais questionam avaliação de médicos sobre retorno seguro às aulas

“Não poderemos garantir que na escola, estarão seguros”, discordam educadores sobre possível volta em meio à pandemia
terça-feira, 29 de dezembro de 2020
por Guilherme Alt (guilherme@avozdaserra.com.br)
Sala de aula vazia em Friburgo (Arquivo AVS/ Henrique Pinheiro)
Sala de aula vazia em Friburgo (Arquivo AVS/ Henrique Pinheiro)

Na edição da última quarta-feira, 23, A VOZ DA SERRA publicou uma reportagem com opiniões de alguns médicos à respeito do que consideram ser equivocado o sistema de aferição da bandeira e uma possível retomada das aulas, de forma segura.

Assim que foi publicada, diversos profissionais da educação friburguense se manifestaram contrários aos médicos. Os muitos comentários na matéria colocaram em xeque a segurança enfatizada pelos médicos e as condições das instituições, principalmente, as públicas, para garantir que não só os alunos, mas os demais profissionais estivessem protegidos.

Diante da repercussão, A VOZ DA SERRA ouviu alguns desses profissionais de educação, assim como pais de alunos que se manifestaram com contrapontos a respeito de uma possível retomada das aulas no início do próximo ano.

 

Thiago Soares – Educador da rede pública

“A argumentação de que países que retornaram às aulas não tiveram aumento significativo dos casos não é razoável, não tem como comparar o Brasil com países de primeiro mundo. Na realidade, nas escolas públicas brasileiras faltam quase sempre os recursos básicos como água e papel. Apesar de as crianças e adolescentes quase não manifestarem as formas graves da doença, temos que levar em consideração que elas levarão o vírus para seus parentes do grupo de risco. Não é porque estamos vendo crianças e adolescentes se aglomerando nas ruas, shoppings, etc, que podemos garantir que na escola eles estarão seguros. Só quem vive no chão da escola e conhece a realidade de falta de pessoal de apoio e fiscalização dos alunos entende que será impraticável um retorno seguro nas escolas, sem vacina. O governo que retire os profissionais da educação do 4º grupo e coloque no 1º”.

 

Andréia Guerra Pimentel – professora de Biologia no Ensino Médio e Mediadora Presencial no Cederj

“Eu considero inviável o retorno das aulas na atual conjuntura, pois o número de casos continua elevado, em algumas cidades mais do que nunca. A pandemia ainda não acabou! Mas muitos parecem não entender os fatos. Diariamente, vemos nas ruas muitas pessoas sem máscaras caminhando ou sentadas em bares e em outros espaços. O uso de máscara é estritamente necessário, porém não é considerado confortável por muitos. Raramente, vejo nas ruas crianças usando máscara, e muitas, quando usam, o fazem de forma inadequada, deixando o nariz de fora. Nem toda criança e adolescente conseguiria passar todo o tempo das aulas e nos intervalos usando máscaras. Outra medida necessária é o distanciamento mínimo entre as pessoas para conversar: presenciamos diariamente pessoas dialogando muito próximas e em grupos. Na escola, os jovens se abraçam e se tocam nas mais diversas brincadeiras, eu acho difícil inibir tal comportamento. Lavar bem as mãos, diversas vezes ao longo do dia, não é um comportamento fácil quando se está em um ambiente escolar. Os alunos teriam que sair de sala toda vez que tocasse alguma parte do próprio corpo, principalmente o rosto. Devemos refletir que cada criança tem uma família e entre os membros muitos pertencem aos grupos de riscos. Além disso, devemos respeitar e valorizar a vida dos profissionais da educação que também estariam vulneráveis a se contaminar em um ambiente de aglomerações. Muitas vidas foram ceifadas pela Covid-19, acho que podemos adiar mais um pouco o retorno às aulas presenciais, até que toda a população brasileira esteja vacinada”.

 

Taynah Bonifácio – mãe de aluno

“Acho um verdadeiro crime se falar sobre volta às aulas, no momento que estamos vivendo. Estamos no meio da segunda onda, onde só vemos os casos aumentarem cada vez mais, e mais vidas serem perdidas, e aí querem colocar crianças numa sala de aula, esperando que elas se comportem como adultos? É impossível pedir a uma criança que não tire a máscara em nenhum momento, que não abrace o coleguinha, que não compartilhe objetos. Eu, como mãe, não permitirei o retorno do meu filho, até que tenhamos uma vacina, ou uma melhora real em nossos casos. Esse é momento de pensarmos na saúde das nossas crianças e dos nossos professores. Ainda não está na hora de voltar”.

 

Mãe de aluno que preferiu não se identificar

“Sou mãe de dois meninos, de 5 e 7 anos, e ambos estudam na rede municipal de Nova Friburgo. Desde que começaram os primeiros casos, resolvemos nos resguardar protegendo nossa família e o próximo. Trabalhamos de casa, alfabetizamos e auxiliamos no primeiro ano de escola do mais novinho. Seríamos a favor da volta às aulas se fosse feito um rodízio de alunos com uma capacidade muito limitada e controlada. Seríamos a favor se houvesse da parte das autoridades públicas um respaldo na saúde e suporte às equipes escolares. Não temos o direito de expor nossos pequenos. Estou aqui dizendo em nome da minha família que não sou a favor da volta às aulas nesse primeiro momento, mas também me coloco a disposição como voluntária para uma possível dinâmica que consigamos ajudar nossos pequenos a não sofrerem tanto com a falta da escola”.

 

Márcia Gianfaldoni – professora de Ciências da Natureza

“Todas as falas ditas pelos médicos, só têm como ponto de partida as crianças. Então, a princípio vou falar sobre elas: Pense numa sala de aula com 45 alunos com as mais variadas condições de vida; as realidades são muito diversas. Imagine esses alunos num Ciep onde as paredes não vão até o teto ou numa escola pequena onde as carteiras ficam muito próximas umas das outras. Essas crianças e adolescentes, podem até apresentar uma taxa de contaminação em si, baixa, mas pense agora nos outros profissionais de educação. Eu tenho 61 anos, e embora não apresente nenhuma comorbidade (a não ser a idade) não me sinto segura em voltar, uma vez que sem ter tomado as duas doses da vacina e sem saber se sou parte dos 5% não reativos é extremamente arriscado conviver com um número grande de pessoas ao mesmo tempo. Sou não reativa para o vírus da Hepatite B, apesar de ter tomado todas as doses da vacina, logo não sei como o meu organismo vai reagir à vacina contra a Covid-19. Tenho vários colegas que são diabéticos, apresentam comorbidades respiratórias, idade avançada, quando não, moram com pessoas de risco. Os médicos não estão levando em conta todas as variáveis que envolvem o problema. Com toda a certeza esses médicos nunca pisaram numa sala de aula e não conhecem, de verdade, a realidade que os professores enfrentam no seu dia a dia. É muito fácil para eles falarem em volta às aulas, uma vez que não serão os próprios a se colocarem na "reta". Não estou me referindo aos profissionais da saúde que estão na linha de frente, esses sabem muito bem o que estão enfrentando, e com certeza não são esses que estão defendendo a volta às aulas, pois me admiraria muito que cogitassem a possibilidade de colocar mais pessoas em risco. Para mim, essa pressão toda vem das escolas particulares e tem também cunho político. Por fim, veja o caso da atriz Nicette Bruno: ela ficou 10 meses em isolamento social e por conta da visita de um único parente assintomático veio a óbito. Fica agora a minha pergunta para esses médicos: eles estão realmente analisando todos os fatos e todas as variáveis?”.

 

Narayanna Motta – servidora da Educação

“Apoio a educação como atividade essencial e obrigatória, mas vidas em primeiro lugar. No momento, os únicos serviços que não podem parar são saúde e alimentação. Sou servidora pública na Educação, e fico muito triste com isso. Não vejo preocupação com as famílias dos funcionários. Se na vida normal já ficamos facilmente doentes pelo contato direto com inúmeras famílias, imagina na pandemia”. 

 

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