Noite de quarta-feira, 30 de junho, em Nova Friburgo. Com os termômetros oscilando entre 7 e 9 graus, na primeira onda de frio mais intenso deste inverno, a cidade lentamente mergulha em um breu congelante. Um grupo de cinco amigos, todos voluntários, sem qualquer vínculo religioso, sai pela primeira vez em busca de pessoas sem teto. Dentro do porta-malas, um cooler com 25 porções de sopa cuidadosamente preparada por um deles, fardos de garrafas de água mineral, uma sacola cheia de meias.
O grupo percorre algumas ruas da cidade, começando pelo Bairro da Graça, em Olaria, passando pelo Bairro Ypu e depois pelo Centro, até Duas Pedras. Pelo caminho, encontram pessoas, em sua maioria idosos, deitadas em bancos, sob marquises e até pelas calçadas, ao relento. Cada sem-teto tem uma tragédia pessoal para contar, um agasalho para pedir e muita resignação. E todos aceitam, de bom grado, o alimento que chega ao cair da noite.
O objetivo do grupo, que nasceu espontaneamente em uma conversa de bar, é distribuir semanalmente refeições, água, itens de higiene pessoal e sobretudo alento para quem mora na rua. Focados na missão, uns ajudam na cozinha, outros na logística de distribuição, outros na arrecadação de insumos e valores, explica um dos integrantes, empresário do ramo de confecções.
Mas esse grupo está longe de ser o único. Em uma nova incursão na noite da última quinta-feira, 1º, A VOZ DA SERRA pôde acompanhar, durante duas horas, das 19h às 21h, o trabalho silencioso de um servidor da Justiça que, praticamente sozinho, distribuiu 35 quentinhas para os sem-teto friburguenses, além de agasalhos e gorros de lã.
O que mais chama atenção nesse trabalho voluntário é a quantidade - felizmente ainda pequena - de pessoas em situação de rua na cidade. Os sem-teto se distribuem em grupos diminutos, de no máximo quatro pessoas. A maioria dorme em dupla ou de forma isolada. Todos têm “endereço” fixo e certo. Alguns se escondem em buracos inimagináveis. Durante o dia, camuflam seus poucos pertences e perambulam pela cidade, invisíveis.
O voluntário que trabalha na Justiça, que, como todos, pede para não ser identificado, conhece cada sem-teto pelo nome. Ele conta que a missão começou em agosto de 2017, mobilizando inicialmente três amigos de um tradicional colégio particular de Friburgo. Entre adesões e deserções, hoje o grupo - rebatizado como “Sopãodemia” - conta com dez pessoas, que se organizam para prestar regularmente o atendimento, em dias alternados da semana.
Segundo uma das idealizadoras, que é professora, a falta de constância é a maior dificuldade enfrentada nesse tipo de trabalho voluntário. “Com a chegada do frio, muita gente se mobiliza. Mas depois de agosto, some todo mundo, como se as pessoas carentes não precisassem mais comer”, diz ela, que disponibiliza o número (22) 99930-4154 para quem quiser participar da empreitada.
Em Olaria, no Bairro da Graça, um barranco esconde o buraco sombrio onde vive, sozinho, o senhor X. Em Duas Pedras, dois amigos se abrigam sob árvores, situação que os obriga a buscar um teto qualquer, sempre que chove. Nas instalações abandonadas do Sase - ironicamente, sigla do “serviço de assistência social do estado” - um grupo de jovens segue a sua sina. Sob a ponte de Duas Pedras, um homem se estabeleceu à beira do Rio Bengalas, em um dos pontos mais frios da cidade.
O que diz a prefeitura
As equipes de abordagem social da Secretaria Municipal de Assistência Social registram exatamente 38 pessoas em situação de rua, em vários pontos da cidade. Todas já recebem acompanhamento e um trabalho regular de abordagem técnica visando à conscientização para que deixem essa condição, segundo a prefeitura.
Como ações práticas, a secretaria diz que faz o acompanhamento regular dessa população como política pública. “Além da abordagem de monitoramento e conscientização, as equipes fazem a oferta de benefícios sociais para que os indivíduos deixem a situação de rua e passem para situação de moradia digna”, informa a prefeitura.
O Ponto de Apoio, no bairro Duas Pedras, onde A VOZ DA SERRA encontrou oito pessoas abrigadas, oferece cama, banho e alimentação. Mas a Secretaria Mde Assistência Social ressalta que esse atendimento é considerado serviço emergencial, onde os acolhidos passam por várias etapas, para que os indivíduos superem a situação de rua, fortalecendo vínculos interpessoais e familiares.
Como desafio, a secretaria destaca o de “reverter a intenção dessa população de permanecer na rua”.
CAMPANHAS EM CURSO:
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Voluntários do “Sopãodemia”: (22) 99930-4154
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Janayna Saade : seguir perfil no Instagram
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O Nova Friburgo Country Clube está arrecadando agasalhos até o próximo dia 18. É só deixar na portaria do clube.
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Sylvana Gym está entregando cobertores para as crianças e adolescentes da Granja Spinelli (RELEMBRE MATÉRIA)
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O Lar São Vicente de Paulo está precisando de toucas de frio e toalhas de banho.
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Espaço Livre: Campanha do Agasalho de 12 a 16 de julho, das 8h às 17h, na própria escola (Dr. Galdino do Valle Filho, 87)
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Cruz Vermelha: As doações podem ser feitas na sede da Cruz Vermelha, na Praça Getúlio Vargas, 92.
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Projeto Seja Fé: Recolhe o material , basta a pessoa ligar que uma equipe vai até a casa, contato 22 999221082.
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Rotary Caledônia: As doações podem ser deixadas no shopping localizado na Rua Moises Amélio.
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Diocese de Nova Friburgo - Igreja Católica: doações podem ser deixadas em qualquer paróquia da diocese de Nova Friburgo.
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Missão Peixes: Podem entrar em contato pelo telefone 22 99923-2708. A arara fica na Avenida Alberto Braune em frente a Rua Ariosto Bento de Mello, ao lado da agência do Itaú. É só deixar as peças na arara. Deixa quem tem, pega quem precisa.
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